v. 10 n. 2 (2024): Os Direitos Humanos e a Liberdade de Ensinar, Aprender e Pesquisar
Os ataques à liberdade de aprender e ensinar, por um lado, à educação básica e ao ensino superior, e, por outro, ao fazer pesquisas de forma crítica sobre questões fundamentais, são cada vez mais frequentes e têm graves consequências para acadêmicos/as, professores/as estudantes e a sociedade em geral. Embora essas dinâmicas repressivas possam ocorrer em contextos democráticos com padrões relativamente altos de direitos humanos, isso se agrava em contextos de crises políticas e econômicas, resultando no fechamento de espaços de ação e expressão no campo do ensino e da pesquisa, e em fortes desigualdades sociais e/ou conflitos armados que colocam acadêmicos e estudantes em situações graves de risco e vulnerabilidade.
Em um cenário recente, marcado pelo avanço do neoconservadorismo/ ultraconservadorismo, do anti-intelectualismo e de segmentos anticientíficos em escala transnacional, vimos que muitos desses ataques - que assumem várias formas, desde perseguição, agressão e assédio nas redes ou em espaços públicos até ameaças e agressões físicas concretas, incluindo graves violações de direitos humanos - são realizados tanto por agentes estatais, como por agentes não estatais, incluindo grupos extremistas, forças policiais e militares, autoridades governamentais, grupos políticos, entre outros. Esses ataques prejudicam sistemas educacionais inteiros, pondo em risco a qualidade do ensino e da pesquisa; e limitam os espaços de diálogo da sociedade para pensar, questionar e compartilhar ideias, bem como a sua autonomia para produzir novos conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento em vários campos: - científico, social, econômico, etc. com vistas à construção de sociedades mais inclusivas, diversificadas e democráticas. Em suma, ao minar a capacidade única da educação de impulsionar o desenvolvimento social, político, cultural e econômico de uma sociedade eles afetam a todas as pessoas.
O objetivo desta edição especial é debater sobre os principais desafios acerca do ensinar e pesquisar neste contexto de cerceamento e contribuir com reflexões que possam fortalecer e aprofundar a liberdade acadêmica, incluindo a defesa do direito de ensinar e aprender em diferentes níveis de educação (básico, intermediário, superior), bem como de realizar pesquisas essenciais para o desenvolvimento científico e social. Ao mesmo tempo, este dossiê convida à reflexão sobre como as normas, padrões e boas práticas de direitos humanos podem se tornar instrumentos para a defesa da educação, e da liberdade acadêmica e de pesquisa, visto que são pilares fundamentais para a construção de sociedades mais democráticas.
Agradecimentos especiais às organizadoras Amanda Mendonça (Faculdade de Formação de Professores – FFP / UERJ) e Rosario Figari Layús (Universidade Justus-Liebig de Giessen) e ao artista da capa Marcus Paulo Pacheco Silva (Faculdade de Formação de Professores – FFP / UERJ).