Desformações em rede
DOI:
https://doi.org/10.12957/redoc.2021.61015Resumo
Iniciamos esta apresentação da décima segunda edição da Revista Docência e Cibercultura (ReDoC) nos solidariezando com as famílias vítimas da pandemia da Covid-19. Infelizmente já foram ceifadas mais de 500 mil vidas no Brasil, muitas delas, poderiam ter sido evitadas se não fossem as necropolíticas – “formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte” (MBEMBE, 2016, p. 146) – adotadas na gestão da pandemia. As cecropolíticas vêm sendo operacionalizadas em diversos setores de nossa sociedade, como educação, saúde, meio ambientel, trabalho etc., refletindo na democracia e nas relações sociais e institucionais.
Entendemos que as necropolíticas potencializam a deformação na/da sociedade, deformação que “está conectada aos modos de governar que se alinham a uma inteligibilidade fascizante, voltada aos enquadramentos heterocisnormativos branco-racistas dos corpos, à desumanização dx outrx” (CARVALHO, 2021, p. 26). No extremo, as necropolíticas levam à letalização da diferença – a diferença se torna letal (POCAHY, 2018).
Por outro lado, temos acampanhando e cartografado inúmeras experiências (ciber)insurgentes que se rebelam contras as necropolíticas e também contra todas as formas de fascismos, racismo, LGBTI+fobia, machismo, xenofobia etc. (YORK, 2020; SANTOS; FERNANDES; YORK, 2020; TRANCOSO; MADDALENA; SANTOS, 2020; CARVALHO; POCAHY, 2020a; 2020b). Partimos da compreensão de que essas experiências produzem outras possibilidades de (re)existir em tempos de ódio às diferenças. Consideramos essas experiências como “desformativas” – é uma aposta de positividade (inspirações queers), no sentido da crítica aos modos de governar dentro da inteligibilidade heterocisnormativa branco-racista, de um ideal de humano que se produziu nos rastros da modernidade, que vem reverberando nos dias de hoje.
Desformação é pensada, aqui, a partir daquelas múltiplas experiências formativas que os corpos nomeados como “desviantes”, “abjetos”, produzem como alternativas para tentar se manter vivos, a partir de outras formas de habitar a vida cotidiana, de se formar e ser formado com outrxs corpos desviantes avessos aos enquadramentos normativos, subvertendo-os, insurgindo-se, sempre que possível (CARVALHO, 2021, p. 27).
Nesta edição da ReDoC, v. 5, n. 2, trazemos trabalhos que são desdobramentos de experiências desformativas. A seção Temática aborda “Macumba, cibercultura e luta antirracista”. Está composta por quartoze artigos: “Ogum – orixá da internet: forjando as redes sociais como ferramentas de luta antirracista” de Cristiano Sant’Anna de Medeiros, Isadora Souza da Silva e João Victor Gonçalves Ferreira; “O candomblé sob a mira do racismo e do terrorismo religioso: ataques, categorias e identidades reinventadas” escrito po Ozaias Silva Rodrigues; “As relações raciais na educação de jovens e adultos trabalhadores: desafios à ciência geográfica” de autoria de Tiago Dionisio da Silva; “Terreiro e produção de epistemologias decoloniais: narrativas de um pesquisador-filho de santo” redigido por João Augusto dos Reis Neto; “Processos de formação humana: I Encontro Nacional de Crianças de Axé” produzido por Gustavo Jaime Filizola e Aurino Lima Ferreira; “O ensino afroperspectivista em sala de aula por um olhar outro da educação” de Denis Harmony da Silva e Cecília Conceição Moreira Soares; “Entre a regularidade e o desafio da aplicação da lei 10.639/03: o ressoar e a resistência dos tambores no trato pedagógico” discutido por Waldinéia Teles Pereira e Renato Alves de Carvalho Júnior.
Ainda na seção Temática, temos os artigos “Pela boca da criança: pensando gênero e sexualidades a partir da infância de terreiro” de autoria de Adelson Cezar Ataide Costa Junior; “Macumba em escola pública no interior sergipano Tranca Rua visita escola de ensino médio em tempo integral” escrito por Jaime Rodrigues Da Silva, Cláudia Regina Cardoso Rodrigues da Silva e Bárbara Regina Cardoso Rodrigues da Silva; “Maíra Azevedo: uma influenciadora digital na rede ciberaxé” do autor Lúcio André Andrade da Conceição; “Educação para as relações étnico-raciais: possibilidade da educação e um currículo antirracista?” de Lílian Carine Madureira Vieira da Silva, Rita Cristine Basso Soares Severo; “Fé e resistência: por uma teologia do respeito” dos autores Jorge Luís Rodrigues dos Santos e Matheus Motta dos Santos; “Luta antirracista na educação infantil em tempos de pandemia: o que as táticas docentes revelam?” das autoras Daise Santos Pereira, Marcia Guerra Pereira, Alana Alves Pereira e Maria Cecília Ribeiro Paixão; “A Lei 10639 e sua maior idade. Há o que se comemorar?”de Leonor Franco Araujo fechando a seção temática.
Contamos na seção “Relato de Experiência” com o relato de Wudson Guilherme de Oliveira sobre “A decoloniedade dos Povos Bantu na luta antirracista no chão da escola: uma experiência de intervenção”. Já na seção “Produções Artísticas, Literárias e Culturais” encontramos os trabalhos “O conforto que veio do traçado das crianças de terreiro” produzido por Janaína Viana Corrêa; “Fabulações imagéticas e produção de outras existências negras possíveis” das autoras Maíra Mello e Maria da Conceição Silva Soares; “Fotos etnográficas como prática de pesquisa na pandemia – O que dizem as imagens?” de autoria de Juliana Braga Teperino; “Palavras lidas” da autora Camila Santos Pereira; e “Dois aniversários durante a pandemia” da autora Anamaria Ladeira Pereira.
Já na seção Fluxo Continuo, temos o artigo “Não sei se você entende, as coisas estão ai e a gente não consegue ver, não é não consegue ver, não consegue é entender” do autor Gregorio Galvão de Albuquerque. Finalizamos a presente edição com a seção Resenha com o trabalho “Live-Lançamento de livro do Prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo” escrito por Mirian Maia do Amaral.
São esses vinte e dois trabalhos distribuídos pelas seções “Temática”, “relato de Experiências “, “Produções Artísticas, Literárias e Culturais”, “Fluxo Continuo” e “Resenha” que compõem esta edição da ReDoC. Cabe destacar que a ReDoC está disponível em suporte digital em rede. É um periódico quadrimestral, de orientação pluralista, voltado à discussão de produções originais elaboradas pela comunidade científica nacional e internacional, da área de Educação e do Ensino e suas interfaces com a cibercultura, identidade, diferença. A ReDOC aceita Artigos, Relatos de Experiência, Pontos de Vista, Resenhas, Ensaios, Entrevistas, Conversas, Bibliografias Comentadas, Produções Artísticas e Culturais, Vídeo-Pesquisa, e Resumos de Dissertações e de Teses.
Desejamos uma excelente leitura a todas, todes, todxs e todos!Referências
ALBUQUERQUE, Gregorio Galvão de. “Não sei se você entende, as coisas estão ai e a gente não consegue ver, não é não consegue ver, não consegue é entender”. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 359-379. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57267
AMARAL, Mirian Maia do. Live-Lançamento de livro do Prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 380-388. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.58725
ARAUJO, Leonor Franco. A Lei 10639 e sua maior idade. Há o que se comemorar? Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 279-294. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57479
CARVALHO, Felipe da Silva Ponte de. #Pedagogiasciberculturais: como aprendemos-ensinamos a nos tornar o que somos? Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação, Rio de janeiro, 2021. Disponível em: http://www.proped.pro.br/teses/teses_pdf/2013_2-1195-DO.pdf. Acesso em 30 jun. 2021.
CARVALHO, Felipe da Silva Ponte; POCAHY, Fernando. Cartografias interseccionais em rede: das insurgências à produção de territórios existenciais. In: Ana Lúcia Gomes da Silva; Jerônimo Jorge Cavalcante Silva; Victor Amar. (Org.). Interseccionalidades em pauta: gênero, raça, sexualidade e classe social. Salvador: Editora da UFBA, 2020a, p. 49-72. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32907. Acesso em 19 de maio de 2021.
CARVALHO, Felipe da Silva Ponte; POCAHY, Fernando. # UERJRESISTE: a politização de si através das selfies. Revista Teias, v. 21, n. 60, p. 143-152, 2020b. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/48630/32438. Acesso em 19 de maio de 2021.
CONCEIÇÃO, Lúcio André Andrade da. Maíra Azevedo: uma influenciadora digital na rede ciberaxé. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 217-242. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57122
CORRÊA, Janaína Viana. O conforto que veio do traçado das crianças de terreiro. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 317-326. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.60617
COSTA JUNIOR, Adelson Cezar Ataide. Pela boca da criança: pensando gênero e sexualidades a partir da infância de terreiro. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 182-198. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56620
FILIZOLA, Gustavo Jaime; FERREIRA, Aurino Lima. Processos de formação humana: I encontro nacional de crianças de axé. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 128-149. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56594
YORK, , Sara Wagner. Tia, você é homem? Trans da/na educação: des(a)fiando e ocupando os “cistemas” de Pós-graduação. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação, Rio de janeiro, 2020.
MBEMBE, Achille. Necropolíticas. Arte & Ensaios/Revista do ppgav/eba/ufrj, n. 32, dezembro, 2016.
MEDEIROS, Cristiano Sant'Anna de; SILVA, Isadora Souza da; FERREIRA, João Victor Gonçalves. Ogum – orixá da internet: forjando as redes sociais como ferramentas de luta antirracista. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 31-50. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57207
MELLO, Maíra; SOARES, Maria da Conceição Silva. Fabulações imagéticas e produção de outras existências negras possíveis. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 327-343. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.60593
NETO, João Augusto dos Reis. Terreiro e produção de epistemologias decoloniais: narrativas de um pesquisador-filho de santo. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 98-127. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56453
OLIVEIRA, Wudson Guilherme de. A decoloniedade dos Povos Bantu na luta antirracista no chão da escola: uma experiência de intervenção. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 295-316. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57251
PEREIRA, Anamaria Ladeira. Dois aniversários durante a pandemia. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 355-358. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.59488
PEREIRA, Camila Santos. Palavras lidas. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 352-354. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.59477
PEREIRA, Daise Santos; PEREIRA, Marcia Guerra; PEREIRA, Alana Alves; PAIXÃO, Maria Cecília Ribeiro. Luta antirracista na educação infantil em tempos de pandemia: o que as táticas docentes revelam? Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 155-166. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57270
POCAHY, Fernando Altair. O clamor da diferença letal: educar em estado de exceção. REVISTA ÑANDUTY, v. 6, p. 9-22, 2018.
PEREIRA, Waldinéia Teles; e CARVALHO JÚNIOR, Renato Alves de. Entre a regularidade e o desafio da aplicação da lei 10.639/03: o ressoar e a resistência dos tambores no trato pedagógico. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 169-181. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56608
RODRIGUES, Ozaias Silva. O candomblé sob a mira do racismo e do terrorismo religioso: ataques, categorias e identidades reinventadas. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 51-72. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56317
SANTOS, Edméa; FERNANDES, Teresinha; e YORK, Sara Wagner. Ciberfeminismo em tempos de pandemia Covid-19: lives (trans)feministas. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, agosto de 2020, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/announcement/view/1123. Acesso em 10 de abril de 2021.
SANTOS, Jorge Luís Rodrigues dos; SANTOS, Matheus Motta dos. Fé e resistência: por uma teologia do respeito. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 262-258. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57183
SILVA, Denis Harmony da; SOARES, Cecília Conceição Moreira. O ensino afroperspectivista em sala de aula por um olhar outro da educação. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 150-168. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56606
SILVA, Jaime Rodrigues da; SILVA, Cláudia Regina Cardoso Rodrigues da; SILVA, Bárbara Regina Cardoso Rodrigues da. Macumba em escola pública no interior sergipano Tranca Rua visita escola de ensino médio em tempo integral. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 199-216. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56720
SILVA, Lílian Carine Madureira Vieira da; SEVERO, Rita Cristine Basso Soares. Educação para as relações étnico-raciais: possibilidade da educação e um currículo antirracista? Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 243-261. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.57148
SILVA, Tiago Dionisio da. Relações raciais na educação de jovens e adultos trabalhadores: desafios à ciência geográfica. Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 73-97. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.56421
TEPERINO, Juliana Braga. Fotos etnográficas como prática de pesquisa na pandemia – O que dizem as imagens? Revista Docência e Cibercultura, v. 5, n. 2, maio-ago, 2021, p. 344-351. DOI: https://doi.org/10.12957/redoc.2021.60504
TRANCOSO, Michelle Viana; MADDALENA, Tania Lucía; SANTOS, Edméa. Cartografía de una red de saberes: el cotidiano de un espacio social femenino en Facebook. Interfaces Científicas - Educação, v. 8, n. 2, p. 249-270, 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).