Não há racismo sem adultocentrismo: notas sobre uma pátria pai hostil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/teias.2023.64824

Palavras-chave:

Lógica Exúlica, adultocentrismo, interseccionalidade, crianças de terreiro e infância.

Resumo

O ensaio apresenta uma discussão acerca dos conceitos de interseccionalidade, descolonização e infância, por meio da lógica exúlica, destacando a concepção de infância como uma categoria de estado, portanto, de trânsito. Assim, traça algumas analogias para a discussão do conceito de “pátria pai hostil” com aportes de Mário de Andrade e Altay Veloso. Para tanto, denuncia que mesmo com a banalização das mortes das crianças negras, as pesquisas acadêmicas ainda não reconhecem a infância como um descritor indispensável  para a compreensão da sociedade brasileira e fundamental na construção de políticas públicas para uma sociedade que se queira justa, equânime e igualitária. Destaca que na última década os Estudos com  Crianças de Terreiro vem contrariando a colonialidade do poder ao afirmar a centralidade da  infância e apresentando outros devires para as crianças, em especial para as crianças negras, bem como caminhos para a descolonização em função de um giro epistemológico que vai em sentido anti-horário e em favor da vida.

Palavras-chave:  Lógica Exúlica; adultocentrismo; interseccionalidade; crianças de terreiro e infância.     

Biografia do Autor

Ellen Lima Souza, Universidade Federal de São Paulo

Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP/SP, mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar/SP. Atualmente é professora adjunta no Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, coordenadora do Grupo de Pesquisa LAROYÊ - Culturas Infantis e Pedagogias Descolonizadoras. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: das relações étnico-raciais, Filosofia da Infância, Descolonização, Infâncias, Religiosidade Afro-Brasileira e Formação de professores/as.

Stela Guedes Caputo, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Stela Guedes Caputo é Doutora em Educação. É professora da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação da UERJ e fotógrafa. Formada em Jornalismo (1988), mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1998), doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2005) e Pós Doutorado em Educação pela UERJ (2009). Foi bolsista PRODOC-CAPES de setembro de 2006 a abril de 2009, na UERJ, sendo professor visitante na graduação e na pós-graduação nesta instituição também durante este período. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Kekéré (pequeno, em Yorubá) com ênfase em pesquisas com crianças e jovens de terreiros dos candomblés brasileiros. Tendo as crianças e jovens como protagonistas da pesquisa, a partir delas e com elas, também pesquisa sobre racismo, racismo religioso, ensino religioso, laicidade e Educação para os Direitos Humanos. Autora do livro "Educação nos terreiros - e como a escola se relaciona com crianças de candomblé" - cuja produção inaugurou um campo novo de pesquisas no Brasil a respeito de como as crianças, nas redes educativas dos terreiros, aprendem e ensinam conhecimentos nos terreiros. Áreas de Interesse: infância, educação, cotidianos, currículo, candomblé, relações raciais, história, fotografia, cultura, antropologia, direitos humanos. Também é autora dos livros: "Sobre Entrevistas" (Vozes, 2006). O livro "Educação em terreiros - e como a escola se relaciona com crianças de candomblé" (Pallas, 2012) foi finalista na categoria educação do Prêmio Jabuti em 2013. Todas as produções estão assinaladas com o nome bibliográfico. Recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, em 1993, pela série de reportagem sobre grupos de extermínio na Baixada Fluminense, publicada no Jornal O Dia.

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Publicado

04-12-2023

Como Citar

Souza, E. L., & Caputo, S. G. (2023). Não há racismo sem adultocentrismo: notas sobre uma pátria pai hostil. Revista Teias, 24(75), 189–199. https://doi.org/10.12957/teias.2023.64824