Marcas da abjeção expressas em conversas sobre heteronormatividade com jovens no Facebook: em defesa de uma pedagogia queer
DOI:
https://doi.org/10.12957/redoc.2017.30650Palavras-chave:
Cibercultura. Juventudes. Corpos. Gêneros. Sexualidades. Heteronormatividade. Pedagogia queer.Resumo
A presente tese teve por objetivo conhecer as marcas da abjeção colocadas em manutenção e funcionamento por normas regulatórias de gênero presentes nos contextos familiares e nos cotidianos escolares de jovens que não se identificam com a heterossexualidade. A pesquisa de campo foi realizada entre 2013 e 2015, no Facebook, através da imersão num grupo online constituído por cerca de 70 jovens de diferentes inserções socioeconômicas que se autodenominam gays/lésbicas/bissexuais. Em 2013, ano de entrada em campo, os sujeitos apresentavam idade variando entre 16 e 35 anos. A estratégia metodológica adotada foi o estabelecimento de conversas online realizadas, individual e coletivamente, com esses jovens. Os princípios teóricos foram norteados, principalmente, pelos estudos de pesquisadores que trabalham com questões de gênero e sexualidade amparadas pela perspectiva da teoria queer. Essa fundamentação teórica orientou a interpretação das conversas online realizadas no Facebook. Somado a isso, pela necessidade de compreender os fenômenos comunicacionais ciberculturais, com ênfase nas dinâmicas de interação e colaboração das redes sociais da internet, também me apropriei de reflexões dos campos de estudos das áreas da comunicação e educação. Além disso, a construção de uma proposta de pesquisa online de abordagem histórico-cultural foi realizada principalmente através dos conceitos de dialogismo e alteridade de Mikhail Bakhtin, me permitindo traçar os caminhos metodológicos necessários na interação com os jovens no Facebook. Nessa abordagem, pesquisador e pesquisados foram concebidos como coautores em um processo de produção de conhecimento que se constrói gradualmente com o outro, com as redes sociais digitais reconhecidos como lugares de encontro com o outro. O trabalho de campo evidenciou o engajamento e o protagonismo político dos jovens participantes do estudo, que se apropriaram do Facebook para fortalecerem os vínculos sociais e afetivos, promovendo a possibilidade de resistência frente à heteronormatividade a partir de ativismos que se constituíram através da potência do diálogo na/em rede. Ao ressaltarem o quanto as normas regulatórias de gênero estiveram presentes em seus cotidianos educacionais e contextos familiares, os relatos dos sujeitos apontaram para a urgência de se discutir sobre a heteronormatividade nas escolas e nos cursos de formação de professores, bem como no âmbito familiar, objetivando desmistificar a naturalização e normatização do modelo heterossexual. A interpretação do material da pesquisa permitiu questionar a heteronormatividade, problematizando e ressignificando o modelo heterossexual que vem sendo amplamente (re)produzido e naturalizado no discurso social, além de ter possibilitado, pela aproximação com a teoria queer, um pensar crítico sobre os processos escolares que desqualificam os comportamentos sociais que não se enquadram nos moldes heteronormativos. Enquanto cidadãos e educadores, se não repensarmos as questões ligadas aos corpos, gêneros e às sexualidades, continuaremos sendo cúmplices da predominância de práticas familiares e escolares pautadas num olhar de mera tolerância e respeito ao diferente e às diferenças. Para isso, defendo que é preciso queerizar o pensamento heterocentrado, re-imaginando a multiplicidade de formas de fabricações dos corpos, gêneros e sexualidades.
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