será que a voz que ouvimos por dentro é a mesma que as pessoas ouvem por fora?
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.65690Palavras-chave:
voz, escuta, partilha, comunidade de investigação filosóficaResumo
O presente texto nasceu da escuta de uma pergunta infantil sobre a voz, feita por uma menina. Essa pergunta aconteceu numa escola básica, em espaço rural, e provocou um movimento de desconstrução sobre diferentes dispositivos da atividade filosófica tal como é apresentada a crianças e adultos no contexto de comunidades de investigação filosófica. O exercício de escuta dessa pergunta revelou ainda aspetos importantes no modo como nos subjetivamos enquanto adultos e adultas que acreditam ser importante levar a filosofia para dentro da escola básica. Este texto é a tentativa de prolongar o rasto de afetação deixado por essa pergunta inicial, desdobrando-se em três momentos ou possibilidades de requestionamento. Esses momentos – que não pretendem constituir uma sequência ordenada de leitura, mas possíveis entradas para a pergunta da Lara – constituem-se como possibilidades marcadas pelo ritmo de três perguntas, filhas da inquietação primeira: o que se escuta quando falamos da voz? o que se diz quando falamos da escuta? O que se pode pensar na partilha das vozes e das escutas? O texto convida a entrarmos na construção da voz enquanto conceito alinhado com um determinado paradigma ou modelo do pensamento ou do exercício do pensar (comumente designado como “a filosofia”). O texto convida a entrarmos nessoutro conceito de escuta enquanto constructo que recua às origens da filosofia ocidental e que se tem perpetuado e tornado transversal. O texto convida a entrarmos na proposta de uma forma diferente de entender a voz e a escuta a partir da ideia de pensamento como espaço-entre de partilha, incidindo especificamente no âmbito de atividades de diálogo filosófico com crianças.
Downloads
Referências
Aristóteles (1994). Metafísica. Madrid: Editorial Gredos.
Aristóteles (1998). Política. Lisboa: Vega.
Bergson, H. (2013). Introduction à la Métaphysique. Paris: Presses Universitaires de France.
Biesta, G. (1994). Education as practical intersubjectivity: towards a critical-pragmatic understanding of education. Educational Theory. 44 (3), pp. 299-320.
Calvino, I. (1995). Sob o Sol-Jaguar. S. Paulo: Companhia das Letras.
Camps, Maria da Conceição (2009). As teorias da visão no ocidente medieval até ao século XII.
O Comentário de Calcídio ao Timeu de Platão e As Questões Naturais de Adelardo de Bath. Philosophica, (34) pp. 231-243
Cavarero, A. (2005). For more than one voice. Toward a philosophy of vocal expression. Stanford: Stanford University Press.
Deleuze, G. (1988). Abécédaire. G como Gauche. In https://www.youtube.com/watch?v=c2r-HjICFJM (acedido a 14 de fevereiro de 2022)
Derrida, J. (1991). Margens da Filosofia. Campinas: Papirus.
Gomes, V. D.; Vieira, P. A. (2021). a que convida o convite ao filosofar?. childhood&philosophy, 17, pp. 1-28.
Haynes, J.; Murris, J. (2012). Escuta, hospitalidade e ensino filosófico. In Filosofar: aprender, ensinar, org. Ingrid Müller Xavier e Walter Omar Kohan, Belo Horizonte: Autêntica Editora, pp. 173-187.
Jonas, H. (2004). O princípio vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Rio de Janeiro: Vozes.
Kennedy, D. (1999). Philosophy for Children and the Reconstruction of Philosophy, Metaphilosophy, 39 (4), pp. 338-359.
Kennedy, N.; Kennedy, D. (2012). “Community of Philosophical Inquiry as a Discursive Structure and its Role in School Curriculum Design”, in Philosophy for Children in Transition. Problems and Prospects, ed. N. Vansieleghem e D. Kennedy, Wiley-Blackwell, Oxford, pp. 97-116.
Kohan, W. (2002). Entre Deleuze e a Educação: notas para uma política do pensamento. Educação e Realidade, 27 (2), pp. 123-130.
Kohan, W. (2021). Paulo Freire: um menino de 100 anos. Rio de Janeiro: NEFI Edições.
Lopéz, M. (2006). “Filosofía com niños”: cronica de uma feliz confusión em torno del concepto de experiencia. In W. Kohan (org.), Teoria y prática em filosofia com niños y jóvenes: Experimentar el pensar, pensar la experiencia. Buenos Aires: Ediciones Novedades Educativas, pp. 25-32.
Machado, J. P. (2003). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. vol. 5. Lisboa: Livros Horizonte.
Maybin, J. (2006). Children’s Voices. Talk, Knowledge and Identity. New York: Palgrave Macmillan.
Murris, K. (2003). The Epistemic Challenge of Hearing Child’s voice”. Stud. Philos. Educ., 32 (3), pp. 245-259.
Nancy, J.-L. (2002). À l’écoute. Paris: Éditions Galilée.
Nancy, J.-L. (1982). Le partage des voix. Paris: Éditions Galilée.
Platão. (2015). Teeteto. Lisboa: Fundação Gulbenkian.
Platão. (2011). Timeu. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos.
Santos, A. I.; Costa Carvalho, M. (2017). não deve dar a palavra aos amigos... assim não é justo!
representações das crianças sobre o gestor da palavra na comunidade de investigação filosófica, 13 (27), pp. 369-391.
Santos, A. et al. (2022). Filosofâncias de uma escola que junta a filosofia e as crianças: brincolandiamos?, in (a)riscar-se na filosofia, (a)colhendo infâncias: encontros com Gabriela Castro, coord. Magda Costa Carvalho e Paula Alexandra Vieira. Ponta Delgada: Letras Lavadas edições, pp. 315-328.
Snell, B. (1953). The discovery of the mind. The Greek Origins of European Thought. Cambridge: Harvard University Press.