uma história em aberto de alguns lados escondidos da escuta ou (o que) estamos realmente (a fazer) com a infância?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2023.71875

Palavras-chave:

escuta, infância, comunidade de investigação filosófica, filosofia nas escolas, agência política

Resumo

O artigo surge de um acontecimento partilhado que se transformou numa experiência: a descoberta de um pedaço infantil de papel, a caminho de uma conferência sobre filosofia nas escolas, e como esse encontro afeta as nossas posições educativas e práticas de investigação sobre a escuta das crianças. Movidas pela questão sobre o que significa escutar, somos levadas a um exercício de autoquestionamento inspirado por alguns dos autores que já escreveram sobre o tema, especificamente no contexto da comunidade de investigação filosófica.

O pensamento do texto desdobra-se com a narração da história sobre o pedaço de papel encontrado, atravessando diferentes camadas de questionamento e tentando manter a investigação aberta para os leitores: o que é que não sabemos sobre escutar as crianças? E até que ponto isso que não sabemos poderá ser a causa de práticas enviesadas e adultistas? Será necessário voltar ao que a filosofia é e onde pode ser encontrada dentro do ambiente escolar? Será que a filosofia já lá está quando os adultos chegam? Será que não estamos a escutá-la? Ou existem lugares específicos para diálogos e conversas filosóficas, tais como a sala de aula? A filosofia também é convidada para as margens desses espaços? Quem decide o que conta como filosófico?

Não se trata de responder a perguntas ou de encerrar as nossas preocupações como educadoras e investigadoras, mas sim de partilhar com os leitores como até no lugar menos suspeito possível - um evento académico sobre trazer a filosofia para as escolas - podemos não estar a escutar as crianças. Ao regressar a este movimento de autoquestionamento, queremos ecoar algumas perturbações do pensamento e das práticas de escuta dentro do chamado movimento da filosofia para/com crianças: com este fenómeno do para/com; com a sua política e as suas relações; com alguns pressupostos que podem estar presentes nos dilemas da prática de educadores e investigadores; mas também com as suas ressonâncias estéticas, a beleza da perturbação, a (des)afinação do autoquestionamento, as questões que nos traz enquanto investigadoras e os espaços de dúvida e incerteza que nos oferece, enquanto hesitações ou ocasião para respirar. E talvez, pensamos, seja nesses entre-espaços, nas suas fendas e transições, que coisas importantes possam encontrar o seu caminho no nosso pensamento e nas nossas conversas sobre a infância. Tal como um pedaço de papel num quarto de hotel.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

joanna haynes, University of Plymouth

Joanna Haynes is associate professor at Plymouth University Institute of Education, England. Her research interests are in community and democratic education, philosophy of childhood and intra-generational learning. Her books include Children as Philosophers, first published in 2002, and later translated into Spanish, Greek and Korean. Together with Maughn Gregory and Karin Murris, she co-edited The Routledge International Handbook on Philosophy for Children (2017). Joanna is particularly interested in the relationship between practising philosophical enquiry and educators’ broader educational thinking and values.

magda costa carvalho, Universidade dos Açores

Licenciada em Filosofia pela Universidade de Lisboa e Doutorada em Filosofia Contemporânea pela Universidade dos Açores (UAc). É Professora Auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UAc, onde coordena, desde 2016, um Mestrado em Filosofia para Crianças. Integra o NICA: Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente, da UAc. É membro integrado do RG Philosophy and Public Space, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto - FIL/00502. Fez formações em filosofia para/com crianças na Inglaterra, Suíça, México e Brasil. É membro do projeto de investigação “Filosofia para Crianças e a Aurora da Intuição Moral: Valores e Razões na Racionalidade e Razoabilidade”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Uma das suas principais áreas de investigação e publicação é a filosofia para/com crianças, mas a sua maior experiência de infância faz-se por ser mãe da Isabel.

Referências

Anderson, A. (2020). Categories of Goals in Philosophy for Children. Studies in Philosophy and Education, https://doi.org/10.1007/s11217-020-09724-x

Biswas, T. (2020). Little things matter much. Childist ideas for a pedagogy of philosophy in an overheated world. Munich: Büro Himmelgrün Munich.

Cavarero, A. (2005). For more than one voice. Toward a philosophy of vocal expression. Stanford: Stanford University Press.

Costa Carvalho, M. (2022). será que a voz que ouvimos por dentro é a mesma que as pessoas ouvem por fora? childhood & philosophy, 18, 2-26. doi: 10.12957/childphilo.2022.65690

Davies, B. (2014). Listening to Children Being and Becoming. London: Routledge.

Doddington, C; Hilton, M. (2007). Child-Centred Education: Reviving the Creative Tradition. London: SAGE Publications Ltd.

Cook-Sather, A. (2006). Sound, Presence, and Power: “Student Voice” in Educational Research and Reform. Curriculum Inquiry, 36(4), 359-390, DOI: 10.1111/ j.1467-873X.2006.00363.x

Fiumara, G. C. (1990). The other side of language. A philosophy of listening. London: Routledge.

Foucault, M. (1975). Surveiller et punir. Naissance de la Prison. Paris: Gallimard.

Gardner, D. (1996). Inquiry is no Mere Conversation (or Discussion or Dialogue). Facilitation of inquiry is hard work! Analytic Teaching, 16(2), p. 102-111.

Gregory, M. (2002). Are Philosophy and Children Good for Each Other? Thinking: The Journal of Philosophy for Children, 16(2), p. 9-12.

Gregory, M.; Haynes, J.; Murris, K. (2017). The Routledge International Handbook of Philosophy for Children. London: Routledge.

Haynes, J. (2007) Listening as a critical practice: learning through philosophy with children. PhD thesis University of Exeter.

Haynes, J. (2008). Children as Philosophers: learning through enquiry and dialogue in the primary school. (2nd ed.) London: Routledge.

​​Haynes, J. (2009). Listening to the voice of child in education. In Suanne Gibson &Joanna Haynes (eds.) Perspectives on Participation and Inclusion. Engaging Education (pp. 27-42). London: Continuum.

Haynes, J.; Kohan, W. (2018). Facilitating and difficultating. The cultivation of teacher ignorance and inventiveness. In Karin Murris & Joanna Haynes (eds.). Literacies, Literature and Learning. Reading Classrooms Differently (p. 204-220). London/New York: Routledge.

Haynes, J. & Murris, K. (2009). Opening Up Space for Children’s Thinking and Dialogue. Farhang, 69, p. 175-188.

Haynes, J. & Murris, K. (2020). right under our noses: the postponement of children’s political equality and the now. childhood & philosophy, 17, p. 1-21. doi: 10.12957/childphilo.2021.55060

Illich, I. (1972). Deschooling society. New York: Harper & Row.

Johansson, V. (2013). Dissonant Voices: Philosophy, Children’s Literature, and Perfectionist Education. Doctoral Thesis in Educational Science at Stockholm University. Stockholm: Department of Education, Stockholm University.

Johansson, V. (2021). Sa´mi children as thought herders: philosophy of death and storytelling as radical hope in early childhood education. Policy Futures in Education. Special Issue: Fiction and Truth, Learning and Literature: Interdisciplinary Perspectives, 0(0), 1–16. DOI: 10.1177/14782103211031413

Johansson, V. (2022). pedagogical immediacy, listening, and silent meaning: essayistic exercises in philosophy and literature for early childhood educators, childhood & philosophy, 18, p. 1-29.

Kennedy, D. (1995). Book Review of Gareth Matthews, The Philosophy of Childhood. Thinking: The Journal of Philosophy for Children, 12(2), p. 41-44.

Kennedy, D. (2004). The philosopher as teacher. The role of a facilitator in a community of philosophical inquiry. Metaphilosophy, 35(5), p. 722-765.

Kennedy, D. (2006). The Well of Being. Childhood, subjectivity and Education. New York: State University of New York Press.

Kennedy, D. (2015). Practicing philosophy of childhood: Teaching in the (r)evolutionary mode. Journal of Philosophy of Schools, 2(1), p. 26-39.

Kohan, W. (1999). Filosofia e Infância: pontos de encontro. In Filosofia e Infância: possibilidade de um encontro. Petrópolis: Editora Vozes.

Kohan, W. (2011). Childhood, Education and Philosophy: Notes on Deterritorialisation. Journal of Philosophy of Education, 45(2), p. 339-357.

Kohan, W. (2015). ​​Infância, filosofia e pólis: exclusão e resistência. Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação. 24, p. 335-344.

Larrosa, J. (2014). Tremores. Escritos sobre Experiência. São Paulo: Autêntica.

Lipman, M. (2003). Thinking in Education. Cambridge: Cambridge University Press.

Lundy, L. (2007). ‘Voice’ is not enough: conceptualising Article 12 of the United Nations Convention on the Rights of the Child, British Educational Research Journal, 33(6), 927-942, DOI: 10.1080/01411920701657033

Lundy, L. (2018). In defence of tokenism? Implementing children’s right to participate in collective decision-making. Childhood. 25(3), p. 340–354

Mason, J. (2002). Researching your own practice. The discipline of noticing. London/New York: Routledge.

Masschelein, J.; Simons, M. (2013). In defence of the school. A public issue. E-ducation, Culture & Society Publishers.

Matthews, G. (1980). Philosophy and the Young Child. Harvard: Harvard University Press.

Murris, K. (2016). The Posthuman Child. Educational transformation through philosophy with picturebooks. London/New York: Routledge.

Rollo, T. (2018a). Feral children: settler colonialism, progress, and the figure of the child. Settler Colonial Studies, 8(1), p. 60-79.

Rollo, T. (2018b) The Color of Childhood: The Role of the Child/Human Binary in the Production of Anti-Black Racism. Journal of Black Studies, 49 (4), p. 307-329.

Roseiro, S; Gonçalves, N.; Rodrigues, A. (2019). escola, problemas de escuta? childhood &philosophy, 15, p. 1-21. doi: 10.12957/childphilo.2019.40339

Schafer, R. M. (1994). The soundscape: our sonic environment and the tuning of the world. Vermont: Destiny Books.

Scholl, R., Nichols, K., & Burgh, G. (2009). Philosophy for children: Towards pedagogical transformation. Refereed paper presented at ‘Teacher education crossing borders: Cultures, contexts, communities and curriculum’ the annual conference of the Australian Teacher Education Association (ATEA), Albury, 28 June – 1 July.

Sharp, A. M. (1987). What is a community of inquiry? Journal of Moral Education, 16(1), p. 37-44.

Spyrou, S. (2016). Researching children’s silences: Exploring the fullness of voice in childhood research. Childhood, 23(1), 7-21.

Tamboukou, M. (2020). Narrative rhythmanalysis: the art and politics of listening to women’s narratives of forced displacement. International Journal of Social Research Methodology, 24(2), p. 149-162, DOI: 10.1080/13645579.2020.1769271

Taylor, C.; Robinson, C. (2009). Student voice: theorising power and participation. Pedagogy, Culture & Society, 17(2), p. 161-175.

Vansieleghem, N.; Kennedy, D. (2011). What is Philosophy for Children, What is Philosophy with Children—After Matthew Lipman? Journal of Philosophy of Education, 45(2), p. 171-182.

Young-Bruehl, E. (2012). Childism. Confronting Prejudice Against Children. Yale: Yale University Press.

Downloads

Publicado

2023-03-06

Como Citar

HAYNES, Joanna; CARVALHO, Magda costa. uma história em aberto de alguns lados escondidos da escuta ou (o que) estamos realmente (a fazer) com a infância?. childhood & philosophy, Rio de Janeiro, v. 19, p. 01–26, 2023. DOI: 10.12957/childphilo.2023.71875. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/childhood/article/view/71875. Acesso em: 27 jul. 2025.

Edição

Seção

dossier: o presente e o futuro de fazer filosofia com crianças

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)