atrever-se a uma escrita infantil: a infância como abrigo e refúgio

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.59827

Palavras-chave:

filosofia para crianças, crianças para filosofia, concepções de infância, infâncias de concepções

Resumo

O presente texto é um exercício infantil de escrita. A partir de um convite para escrever um texto adulto, académico, a presença de uma mochila infantil altera as expressões que iriam ser elucidadas e a escrita adulta é suspendida pela força criadora da infância: “filosofia para crianças” tornou-se “crianças para filosofia”; “educação moral” passou a ser “finalização (da) moral” e “concepções de infância” voltou-se “infâncias de concepções”. Em diferentes seções do texto apresentamos o que permite pensar esse jogo infantil expressado em cada uma dessas novas expressões: a problematização de um programa e de uma forma de educar a infância; a finalização de uma carga pesada na educação das crianças; o recomeço de um jogo que não coloque a infância como objeto de estudo, mas como força movente do pensar. Para isso são chamados, tanto nas epígrafes quanto no corpo do texto, diversos interlocutores de campos distintos: da literatura, da filosofia, da educação, da “filosofia para crianças” e da própria infância cronológica. O texto conclui propondo pensar as relações entre desconstrução e infância, a partir de uma interlocução com H. Cisoux e J. Derrida. No texto inteiro a relação entre forma e conteúdo é implicitamente problematizada e há um esforço por afirmar a infância não apenas no conteúdo da escrita, mas na sua forma.

Biografia do Autor

walter omar kohan, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Pesquisador do CNPq e FAPERJ. Coordenador do Projeto “Filosofia na Infância da vida escolar” (CAPES-PrInt) (Brasil).

magda costa carvalho, Universidade dos Açores

Professora da Universidade dos Açores, investigadora do NICA-UAc: Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente, e do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. (Portugal)

Referências

Almeida, T. (2018). “O governo da infância: o brincar como técnica de si”, Arquivos Brasileiros de Psicologia, 70, pp. 152-166.

Almeida, T.; Costa, L. Bedin da. (2021). Cartografia Infantil: enfoques metodológicos seguidos de experiências com crianças e jovens de Portugal e Brasil. Rio de Janeiro, childhood & philosophy, v. 17, p. 1-24.

Barros, M. de (2003) Memórias Inventadas. Rio de Janeiro: Alfaguara.

Barros, M. de (2010). Poesia completa. São Paulo: Leya.

Belo, R. (2009). Todos os poemas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009, p.15-22.

Bergson, H. (2002). Correspondances. Paris: Presses Universitaires de France.

Bergson, H. (2009a). “Introduction à la Métaphysique”, La pensée et le mouvant, Édition Critique, Presses Universitaires de France, Paris, p. 177-227.

Bergson, H. (2009b). “L’intuition philosophique”, La pensée et le mouvant, Édition Critique, Presses Universitaires de France, Paris, p. 117-142.

Cabral, A. (1991). Jogos Populares Infantis. Porto: Porto: Editorial Domingos Barreira.

Chetty, D. (2018): Racism as ‘Reasonableness’: Philosophy for Children and the Gated Community of Inquiry, Ethics and Education, Ethics and Education, 13 (1), DOI: 10.1080/17449642.2018.1430933

Cixous, H.; Derrida, J. (2019). “On Deconstruction and Childhood”, The Oxford Literary Review 41.2, pp. 149–159.

Costa Carvalho, M. (2020), filosofia para crianças: a (im)possibilidade de lhe chamar outras coisas, Rio de Janeiro: NEFI Edições.

Costa Carvalho, M.; Mendonça, D. “Thinking as a community: Reasonableness and Emotions”, in The Routledge International Handbook of Philosophy for Children, eds. Maughn Gregory, Joanna Haynes and Karin Murris, Routledge, pp. 127-134.

Cruz, A. (2018). Princípio de Karenina, Lisboa: Companhia das Letras.

Couto, M. O rio das Quatro Luzes. In: COUTO, M. A menina sem palavra. São Paulo: Cia das Letras, 2013, p. 127-132.

Couto, M. (2011). E se Obama fosse africano? e outras intervenções. São Paulo: Companhia das Letras.

Couto, M. (2009). Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras.

Deleuze, G. (2000). A lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva.

Deleuze, G.; Guattari, F. (1991). Qu’est-ce que la philosophy?, Les Éditions de Minuit, Lonrai.

Derrida, J. (1973). Gramatologia, S. Paulo: Editora Perspetiva.

Freire, P. (2014). Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra.

Fricker, M. (2017). “Evolving concepts of epistemic injustice”, in The Routledge Handbook of Epistemic Injustice, ed. I. J. Kidd et al., New York: Routledge, pp. 53-60.

Hadot, P. (1995). Philosophy as a way of Life. Spiritual Exercises from Socrates to Foucault, Oxford: Blackwell Publishers.

Haynes, J.; Murris, K. (2011). The Provocation of an Epistemological Shift in Teacher Education through Philosophy with Children, Journal of Philosophy of Education, Vol. 45 (2), pp. 285-303.

Haynes, J.; Murris, K. (2019). Taking Age Out of Play: Children’s Animistic Philosophising Through a Picturebook, The Oxford Literary Review, 41.2, pp. 290–309.

Haynes, J.; Murris, K. (2021). right under our noses: the postponement of children’s political equality and the now, childhood & philosophy, doi: 10.12957/childphilo.2021.55060

Hugo Mãe, Valter (2020). Contra Mim, Porto: Porto Editora.

Jasinski, I.; Lewis, T. E. (2016) Community of Infancy: Suspending the Sovereignty of the Teacher’s Voice. Journal of Philosophy of Education 50 (4), p. 538-553.

Johansson, V. (2018). Philosophy for Children and Children for Philosophy: Possibilities and Problems, in P. Smeyers (ed.), International Handbook of Philosophy of Education, Springer, p. 1149-1161.

Johansson, V. (2013). Dissonant Voices. Philosophy, Children’s Literature, and Perfectionist Education, Stockholm: Stockholm University.

Kennedy, D.; Kohan, W. (2020). Aión, kairós and chrónos: fragmentos de uma conversa infindável sobre infância. In: Kennedy, D. Comunidade de Infância. Rio de Janeiro: NEFI Edições, p. 193-222.

Kohan, W. Paulo Freire mais do que nunca. Uma biografia filosófica. Belo Horizonte: Vestígio, 2019.

Kohan, W. O mestre inventor. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

Kohan, W. A infância da educação: o conceito devir-criança. In: ______. Lugares da infância: filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p. 51-68.

Lipman, M. (1988). Philosophy goes to School. Oxford: Temple University Press.

Lipman, M. (2003). Thinking in Education. Cambridge: Cambridge University Press.

Marcovich, M. (1967). Heraclitus. Greek Text with a short commentary. Editio Maior. Mérida: Los Andes Univesity Press.

Nietzsche, F. (1992). A Genealogia da Moral. Lisboa: Guimarães Editores.

Nietzsche, F. (s/d). O Livro do Filósofo. Porto: Rés.

Nietzsche, F. (1996). Assim falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém, Lisboa: Círculo de Leitores.

Ondjaki (2020). O Livro do Deslembramento. Lisboa: Caminho.

Pritchard, M. S. (1996a). “Educating for Reasonableness”, Studies in Philosophy for Children. Pixie, ed. Reed & Sharp, Ediciones de la Torre, Madrid, pp. 52-70.

Pritchard, M. S. (1996b). Reasonable Children, University Press of Kansas, Lawrence.

Ramose, M. (2011). Sobre a legitimidade e o estudo da filosofia africana. Ensaios Filosóficos, vol. 4, p. 6-25. Disponível em: http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo4/RAMOSEMB.pdf. Acesso em 11/06/2020.

Santi, M. (2017). “Jazzing philosophy with children: an improvisational path for a new pedagogy”. childhood & philosophy, 13 (28), pp. 631-647.

Sharp, A. M.; Reed, R. (1996). Studies in Philosophy for Children. Pixie. Édiciones de La Torre, Madrid.

Zorzi, E.; Santi, M. (2020). “improvising inquiry in the community: the teacher profile”, childhood & philosophy, 16, pp. 1-17.

Downloads

Publicado

2021-07-26

Como Citar

kohan, walter omar, & carvalho, magda costa. (2021). atrever-se a uma escrita infantil: a infância como abrigo e refúgio. Childhood & Philosophy, 17, 01–30. https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.59827

Edição

Seção

artigos