Intellèctus

Para além e a partir da Missão: a Produção Intelectual Jesuíta e sua Contribuição para a Filosofia, a Política e a Ciência Modernas

Organizadoras:

Prof. Dra. Eliane Cristina Deckmann Fleck (UFPel, Brasil)

Prof. Dra. Marcia Amantino (UNIVERSO, UERJ, Brasil)

Prof. Dra. Julieta Pineda Alillo (El Colegio de México – Colmex, México)

Durante muito tempo prevaleceu a visão – fundamentada na percepção da existência de uma dicotomia entre prática científica e cultura católica – de que o catolicismo, a censura inquisitorial e os jesuítas obstruíram o pensamento científico nas monarquias ibéricas e em suas regiões ultramarinas na Época Moderna. Tributária de uma ação eficiente do antijesuitismo e de uma historiografia que defende um processo unidirecional de difusão de conhecimentos produzidos na Europa, esta visão consagrou-se a ponto de a importância do mundo ibero-americano para a história intelectual e das ciências ter sido negligenciada ou, então, minimizada. A necessidade de expandir esta abordagem, incluindo espaços não europeus, que tradicionalmente não foram privilegiados nas narrativas da produção do saber científico, se agrega ao questionamento da exclusividade ocidental no desenvolvimento da ciência moderna e da concepção cristalizada de que as assim denominadas periferias do mundo se limitaram a receber os [e a se apropriar dos] conhecimentos produzidos na Europa. Neste sentido, é preciso reconhecer que os espaços – como os dos Impérios coloniais português e espanhol – se caracterizaram por uma intensa circulação [de pessoas, ideias e mercadorias], favorecendo um amplo processo de interação de práticas, técnicas e conhecimentos entre as diferentes culturas em contato. Sob esta perspectiva, os encontros ocorridos nas quatro partes do mundo não provocaram a sobreposição de uma sabedoria sobre a outra – ou uma relação de hierarquia centro-periferia –, possibilitando a formulação de um novo tipo de conhecimento sobre as populações e a natureza dos territórios coloniais. Os missionários jesuítas, como já apontado pela historiografia, se defrontaram com questões que tiveram de ser resolvidas localmente – no Oriente, na África ou na América –, e destes encontros, resultaram alterações em suas concepções teológicas e científicas, a partir do enfrentamento de situações decorrentes do processo de conversão e da administração dos Impérios coloniais. Assim, apesar de habitarem regiões tidas como marginais no cenário intelectual do período – áreas consideradas como periféricas e receptoras de conhecimentos produzidos em outras partes do mundo –, os padres e irmãos da Companhia de Jesus foram decisivos na produção de novos conhecimentos a partir de suas observações e experiências e do produtivo diálogo que mantiveram com a ciência e a filosofia modernas. Essa singular posição se traduziu no expressivo número de obras – como tratados, crônicas, histórias naturais – escritas por religiosos da ordem jesuíta, cuja análise permite a reconstituição do conhecimento científico e filosófico por ela apropriado, difundido e produzido ao longo dos séculos XVII e XVIII tanto na Europa quanto nos territórios ultramarinos. Este dossiê prevê a divulgação de investigações que contemplem a produção intelectual jesuíta sobre os mais variados espaços e âmbitos de sua atuação, inserindo-a em seus contextos históricos, marcados tanto pela expansão colonialista ibérica e do catolicismo quanto pela consolidação ou contestação de teorias e práticas filosóficas, políticas e científicas.

Prazo para envio de artigos: 30 de julho de 2024

Previsão de Publicação: janeiro de 2025