Resenha: Flipped Learning na universidade: guia para utilização da aprendizagem invertida no ensino superior. Autor: Robert Talbert. 2019

Autores

  • João Batista Bottentuit Junior Universidade do Minho

DOI:

https://doi.org/10.12957/teias.2020.45725

Resumo

No atual cenário, diversos são os modelos pedagógicos que podem ser adotados no ensino superior. No entanto, o que se observa é que o mercado tem exigido dos profissionais a capacidade de desempenhar múltiplas tarefas e papéis. Nesse sentido, quando o aluno vai para a sala de aula ouvir e prestar atenção em intermináveis horas de aulas teóricas, ele já não se sente mais atraído pelos modelos tradicionais de ensino e aprendizagem. Logo, há a necessidade de modelos mais ativos, em que os alunos sejam a figura central no processo de aprendizagem. Afinal de contas, os tempos são outros e as necessidades também acompanham a ideia de uma formação continuada, na qual o conhecimento se torna obsoleto muito rapidamente.

Outra realidade é que somente conhecimento teórico já não é mais suficiente. O indivíduo necessita de conhecimentos tácitos, de modo a mantê-los competitivos na sociedade vigente.

Nessa perspectiva, as metodologias ativas surgem no cenário educacional como uma possibilidade de adoção de estratégias para que os alunos se tornem o centro do processo de aprendizagem. Através de modelos planejados, eles têm maior oportunidade de colocar em situações práticas os conhecimentos adquiridos de maneira autônoma, através de materiais didáticos claros, objetivos e diversificados, pensados exatamente para essa finalidade.

Entre os principais modelos ativos têm-se: a aprendizagem baseada em projetos, a gamificação, a rotação por estações, a instrução por pares etc. Contudo, um modelo que teve início na educação básica e que, de forma progressiva, avançou para o ensino superior foi a Flipped Learning ou Sala de Aula Invertida (Bottentuit Junior, 2019).

A obra intitulada “Flipped Learning na Universidade: guia para utilização da aprendizagem invertida no ensino superior” trata de uma tradução realizada por Sandra Maria Mallmann da Rosa para a editora Penso, cujo título original é Flipped Learning: a guide for higher education faculty. A obra é uma oportunidade para professores em vários estágios, desde os curiosos, que desejam conhecer mais sobre esse modelo, passando pelos iniciantes, que desejam inovar na sala de aula e, por fim, chegando aos mais experientes, que já utilizam a metodologia invertida e que desejam implementar melhorias em suas experiências.

Mas, o que é o Flipped Learning? Essa é uma metodologia ativa que, em português, pode ser traduzida como Aprendizagem Invertida. Ela rompe com os modelos tradicionais de sala de aula expositiva, onde os alunos são figuras passivas, que recebem informações nas aulas teóricas e exercitam os conhecimentos em casa de maneira individualizada.

No modelo invertido, o professor prepara os materiais educativos (vídeos, textos, podcasts etc.) que deverão ser estudados pelos alunos em casa (pré-aula), para que, em sala de aula, possam ter a oportunidade de realizar atividades mais práticas e colaborativas. Dessa forma, o tempo em sala é mais otimizado, uma vez que o docente se encontra ao lado para dar um pronto feedback ao aluno, favorecendo a construção do conhecimento, dos produtos, soluções, projetos e demais atividades práticas planejadas para a aula.

O ciclo terminará, portanto, no pós-aula, quando os alunos, em casa, conferem a efetividade da aprendizagem através de testes, os quais são elaborados pelos docentes para verificação do que foram capazes de apreender (TALBERT, 2019).

Em consequência, os alunos se tornam mais autônomos, independentes e criativos, pois têm a oportunidade de pensar de maneira mais ampla e interdisciplinar, inclusive exercitando competências que serão necessárias no futuro, quando estiverem, por exemplo, no mercado de trabalho. Dentre as competências, destacam-se a comunicação, a colaboração, a capacidade crítica e a criatividade (Zainuddin; Perera, 2019).

O autor Robert Talbert é professor associado do departamento de Matemática da Grand Valley State University, no estado de Michigan, nos Estados Unidos, e já possui experiência de mais de 10 (dez) anos com sala de aula invertida na disciplina de Matemática, em diferentes cursos de graduação. A sua obra está dividida em três partes:

  • A primeira parte está dedicada à fundamentação teórica sobre o que vem a ser aprendizagem invertida, com bases empíricas que mostram maneiras diferenciadas de utilização do modelo. Essas bases também atestam as razões pelas quais tantos docentes têm aderido a esses novos formatos de dinamização dos conteúdos e de ajuda aos alunos na construção de conhecimentos de forma mais significativa;
  • A segunda parte pretende auxiliar o docente na compreensão acerca do design da aprendizagem invertida, ou seja, muitos desejam implementar essa modalidade, mas desconhecem o formato que devem adotar e o modo como organizar a sua disciplina para essa nova realidade. O autor se baseia em modelos atestados por alguns teóricos, bem como propõe um modelo invertido, baseado no desenvolvimento de objetivos de aprendizagem, composto por 7 (sete) passos, incluindo o planejamento, a recombinação dos objetivos, a criação de atividades em grupo, a organização de objetivos básicos e avançados, o planejamento de atividades de forma que os alunos tenham a oportunidade de trabalhar tanto de maneira individual quanto coletiva e, por fim, a elaboração de atividades para que os alunos continuem a exercitar seus conhecimentos no pós-aula;
  • A terceira e última parte é dedicada à discussão de temas específicos, tais como a possibilidade de realização da sala de aula invertida em contextos de ensino online e híbrido, já que esta é uma realidade em muitas instituições de ensino. No Brasil, por exemplo, já há legislação que regula o ensino híbrido no ensino superior. Ainda nessa parte, o autor aborda a problemática de inserção desse modelo no ambiente com baixa tecnologia, indicando como o professor deverá conduzir o processo. Para finalizar o capítulo, o autor destaca uma série de problemas/dilemas que o professor deverá enfrentar para a adoção desse modelo em sua prática pedagógica, entre eles o tempo despendido para a preparação do material didático e o resultado negativo, mesmo tendo planejado e preparado tudo para as atividades invertidas.

Portanto, conforme foi referido no início desta resenha, a obra alcança todos os perfis docentes que estejam em processo de engajamento do modelo de sala de aula invertida, com uso de uma linguagem de fácil compreensão e rica em exemplos práticos. O autor convida a todos os docentes a repensar sua ação didática e a experimentar esse modelo mais ativo de ensino e aprendizagem.

Uma das lições que fica desse livro é que os modelos são adaptados à realidade dos alunos, bem como, respeitando o perfil dos envolvidos, outro aspecto relevante é que qualquer modelo que se pretenda adotar demanda uma preparação prévia. É preciso se aprofundar antes de aplicar e investigar muito bem as experiências exitosas e fracassos, de modo a não incorrer em erros que façam com que a sala de aula invertida não resulte em experiências ricas de construção do conhecimento, podendo ser mal compreendida pelos alunos e professores, e gere resultados contrários.

Vive-se numa era do learning by doing (aprender fazendo) e metodologias como a sala de aula invertida proporcionam ao aluno uma forma de romper com os modelos tradicionais e oportunizar experiências de trabalho colaborativas, além da construção de conhecimentos de forma mais alinhada às demandas que serão exigidas para esses profissionais do século XXI.

 

Referências

BOTTENTUIT JUnIOR, João Batista. Sala de Aula Invertida: recomendações e tecnologias digitais para sua implementação na educação. RENOTE, Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 17, n. 2, p. 11-21, 2019.

 

TALBERT, Robert. Flipped Learning na Universidade: guia para utilização da aprendizagem invertida no ensino superior. Porto Alegre: Penso, 2019.

 

Zainuddin, Z.; Perera C. J. Exploring students’ competence, autonomy and relatedness in the flipped classroom pedagogical model. Journal of Further and Higher Education, v. 43, n. 1, p. 115-126, 2019.

Biografia do Autor

João Batista Bottentuit Junior, Universidade do Minho

Doutor em Ciências da Educação com área de especialização em Tecnologia Educativa pela Universidade do Minho, Mestre em Educação Multimídia pela Universidade do Porto, Tecnólogo em Processamento de Dados pelo Centro Universitário UNA e Licenciado em Pedagogia pela Faculdade do Maranhão. É também Especialista em Docência no Ensino Superior pela PUC-MG, Engenharia de Sistemas pela ESAB e Educação a Distância pelo UNISEB. É professor Associado I da Universidade Federal do Maranhão, atuando no Departamento de Educação II. É Professor Permanente dos Programas de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (Mestrado Acadêmico) e Gestão de Ensino da Educação Básica (Mestrado Profissional), atua na linha de Cultura, Educação e Tecnologia (Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação). É líder do grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias Digitais na Educação (GEP-TDE). É membro do comitê científico da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) desde 2012. Desde Agosto de 2019 cedido da UFMA para a Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA) onde assumiu o cargo de Diretor Científico. É avaliador de cursos de graduação presenciais e a distância do MEC/INEP

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Publicado

14-12-2020

Como Citar

Bottentuit Junior, J. B. (2020). Resenha: Flipped Learning na universidade: guia para utilização da aprendizagem invertida no ensino superior. Autor: Robert Talbert. 2019. Revista Teias, 21(63), 474–477. https://doi.org/10.12957/teias.2020.45725