"a antropologia da infância chegou para ficar": entrevista com david lancy

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2024.82578

Palavras-chave:

antropologia da infância, agência, parentalidade, educação, povos originários

Resumo

O texto discute a consolidação do campo da antropologia da infância a partir de um diálogo com David Lancy, professor emérito de antropologia na Universidade do Estado de Utah, Estados Unidos, e uma das figuras-chave da institucionalização do campo naquele país. A partir de uma entrevista com Lancy na ocasião do lançamento da terceira edição de seu livro The Anthropology of Childhood, apresentamos as principais contribuições deste autor a um público lusófono e discutimos temas chave para os estudos da infância, como os usos da noção de agência, bebês, a variabilidade cultural das categorias de idade, além da contribuição da antropologia para as pesquisas sobre infância, parentalidade e educação. Para Lancy, a antropologia da infância dá visibilidade a compreensões alternativas, em relação à psicologia do desenvolvimento infantil, sobre a infância e sobre processos de aprendizagem, trazendo novas questões e novas perspectivas. Com base num amplo levantamento de pesquisas etnográficas, o autor afirma a significativa quantidade de registros feitos por antropólogos sobre as vidas de crianças em diferentes culturas, enfatizando as distinções  entre, de um lado, as infâncias de povos originários e tradicionais e, de um outro lado, infâncias ocidentais e urbanas, que ele sugere agrupar, seguindo uma denominação cada vez mais frequente nos Estados Unidos, como sociedades “WEIRD” [extraño], um acrônimo para  “Western, Educated, Industrialized, Rich and Democratic Societies”. Nesta entrevista, Lancy ressalta que os trabalhos antropológicos sobre infância em povos originários ou povos tradicionais, quando bem conduzidos, possuem o potencial de produzir um efeito de grande respeito e legitimidade às formas de pensar sobre a infância e educação desses povos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

david lancy, utah state university

Professor do departamento de antropologia da utah state university, na cidade de logan, nos estados unidos.

chantal medaets, UNICAMP

professora do departamento de ciências sociais na educação, na faculdade de educação da universidade estadual de campinas, na cidade de campinas/sp, no brasil

gabriela tebet, UNICAMP

professora do departamento de ciências sociais na educação da faculdade de educação da universidade estadual de campinas, na cidade de campinas/sp, no brasil

flávia ferreira pires, Universidade Federal da Paraíba

professora do departamento de ciências sociais do centro de ciências humanas, letras e artes da universidade federal da paraíba, na cidade de joão pessoa- pb, no brasil

Referências

ALANEN, L. (2001). "Explanations in generational analysis". In L. Alanen & B. Mayall (Eds.), Conceptualizing Child–Adult Relations. London: Routledge, pp. 11–22.

BELLIER, I., Cloud, L., & Lacroix, L. (2017). Les droits des peuples autochtones. Des Nations Unies aux sociétés locales. Paris: L'Harmanttan, 2017.

BOWLBY, J. (2024). Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artmed Editora. Tradução de Marcos Vinícius Martim da Silva. Revisão Técnica de Cleonice Alves Bosa.

COHN, C. (2000). A Criança indígena: a concepção xikrin de infância e aprendizado. Dissertação (Mestrado em Antropologia), Universidade de São Paulo, São Paulo.

COLE, M., Gay, J., & Glick, J. (1968). Some experimental studies of Kpelle quantitative behavior. Psychonomic Monograph Supplements, n. 2, v. 10, pp. 173–190.

CORSARO, W. (1997). The Sociology of childhood. Thousand Oaks, California: PIne Forge Press.

HENRICH, J., Heine, S. J., & Norenzayan, A. (2010). The Weirdest People in the World? Behavioral and Brain Sciences, n. 33, v. 2-3, pp. 61-83. Available in: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20550733/ Access in 02/03/2024

HIRSHFELD, L. (2002). Why Don’t Anthropologists Like Children? American Anthropologist, n. 6, pp. 611–27. Available in: https://www.jstor.org/stable/684009 Access in 02/03/2024

JAMES, A. (2009). Agency. In: J. Qvortrup, W.A., Corsaro & M.S. Honig (Eds). The Palgrave Handbook of Childhood Studies. London: Palgrave Macmillan, p. 34-45 DOI: https://doi.org/10.1007/978-0-230-27468-6_3

JAMES, A. (2011). To be (come) or not to be (come): Understanding Children’s Citizenship. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, vol. 633, p. 167–179.

JAMES, A., Prout, A. (1996). Constructing and reconstructing childhood: contemporary issues in the sociological study of childhood. London, New York: The Falmer Press.

KRAFTL, P., Balagopalan, S., & Tebet, G. (2021). Children's Geographies Beyond ‘Agency'. In: Yelland, N., Peters, L., Fairchild, N., Tesar, M.,& Pérez, M. The Sage Handbook of Global Childhoods. Londres. Sage Publications, p. 84-98 DOI: https://doi.org/10.4135/9781529757194

LANCY, D. (2012). Unmasking Children’s Agency. Anthropochildren, n. 2 [online]. Available in: https://popups.uliege.be/2034-8517/index.php?id=1253 Access in 10/02/2024.

LANCY, D. (2024). Learning Without Lessons. Pedagogy in Indigenous Communities. Oxford: Oxford University Press.

LANCY D. (2017). Raising Children: Surprising Insights from Other Cultures. Cambridge: Cambridge University Press.

LANCY, D. (1996). Playing on the Mother-Ground: Cultural Routines for Children’s Development. New York: Guilford Publications.

LANCY, D. (2008). The Anthropology of Childhood: Cherubs, Chattel, Changelings. Cambridge: Cambridge University Press.

LAREAU, A. (2007). A desigualdade invisível: o papel da classe social na criação dos filhos em famílias negras e brancas. Educação em Revista, n. 46. p. 13-82. Available in: https://www.scielo.br/j/edur/a/THLGbD5ZPVpcJT3Y8BBXwDC/?format=pdf&lang=pt Access in 10/02/2024.

LAREAU, A. (2003). Unequal Childhoods: Class, Race, and Family life. Berkeley e Los Angeles: University of California Press.

LAVE, Jean (1988). Cognition in Practice : Mind, Mathematics and Culture in Everyday Life. Cambridge: Cambridge University Press.

MALINOWSLI, B. (1978). Argonautas do Pacifico Ocidental. Um relato do empreendedorismo e da aventura dos nativos dos arquipélagos da Nova Guiné, Malisésia. São Paulo: Abril Cultural.

MAYALL, B. (2002). Towards a Sociology of Childhood. Buckingham: Open University Press.

MEDAETS, C. (2016). Despite Adults: Learning Experiences on the Tapajós River Banks. Ethos, n. 44, v. 3, pp. 248–68.

MEDAETS, C. (2020) Tu Garante? Aprendizagem às margens do Tapajós. Porto Alegre: Editora da UFRGS. Available in: https://books.scielo.org/id/pz4r6. Access in 02/03/2024.

PARADISE, R. & Rogoff, B. (2009) Side by Side: Learning by Observing and Pitching In. Ethos 37, n. 1, p. 102–38. Available in:

https://doi.org/10.1111/j.1548-1352.2009.01033.x. Access in 10/02/2024.

ROGOFF, B. (2003). The Cultural Nature of Human Development. Oxford: Oxford University Press.

PIRES, F. (2011). Quem tem medo de mal-assombro? Religião e infância no semiárido nordestino. Rio de Janeiro/ João Pessoa: E-papers/ UFPB.

SMOLKA, A. L., Mattos, M. I. S. L., Oliveira, M. K., Lacerda, C. B. F., Mortimer, E. F. & Barzotto, V. H. (2011). Michael Cole: psicólogo da cultura. In: T. C. Rego (Org.). Cultura, aprendizagem e desenvolvimento. Petrópolis: Editora Vozes, pp. 63-87.

SZULC, A. (2019). Más allá de la agencia y las culturas infantiles. Reflexiones a partir de una investigación etnográfica con niños y niñas mapuche. Runa, v.lkuuill 40, n. 1, pp. 53-64. Available in:

https://www.redalyc.org/journal/1808/180860474004/html/ Access in 10/02/2024.

Publicado

2024-04-30

Como Citar

LANCY, David; MEDAETS, Chantal; TEBET, Gabriela; PIRES, Flávia. "a antropologia da infância chegou para ficar": entrevista com david lancy. childhood & philosophy, Rio de Janeiro, v. 20, p. 01–20, 2024. DOI: 10.12957/childphilo.2024.82578. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/childhood/article/view/82578. Acesso em: 1 maio. 2025.

Edição

Seção

entrevistas

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)