intersubjetividade: um olhar sobre a comunidade de investigação filosófica

Autores

  • paula alexandra vieira nica-universidade dos Açores escola básica e secundária armando côrtes-rodrigues-vila franca do campo-são miguel-açores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2019.42218

Palavras-chave:

intersubjetividade, racionalidade comunicativa, comunidade de investigação filosófica

Resumo

O paradigma da intersubjetividade preconizado por Jürgen Habermas fundou uma forma de chegar a consensos racionalmente fundamentados. A sua obra aponta para a ideia de que o que mantém as pessoas numa atitude de ação comunicativa são as forças da fundamentação racional e da motivação racional. Ao analisarmos a dimensão intersubjetiva da prática da comunidade de investigação filosófica, demo-nos conta de que é possível verificar a passagem de uma autonomia da razão centrada no sujeito (um pensar por si mesmo), para a prática de uma racionalidade comunicativa (centrada num pensamento em comunidade). Os pressupostos inevitáveis da comunicação fundam e mantêm as comunidades e permitem o clima de confiança e de cuidado que possibilita que os membros da comunidade pensem livremente e se deixem guiar pela força do we, do nós, do nos-otros. Não é somente em contexto de comunidades de investigação filosófica que se verificam as potencialidades do paradigma da intersubjetividade de Habermas. Também na discussão entre especialistas podemos encontrar essas potencialidades. Foi, em certa medida, este o rasto que conseguimos traçar ao investigarmos as diferentes abordagens de Ann Sharp, David Kennedy e Giuseppe Ferraro sobre a noção de comunidade de investigação filosófica. O diálogo estabelecido entre estes filósofos e o conceito de comunidade de investigação filosófica, os seus argumentos e as formas de concretização do diálogo filosófico em comunidade, dão conta da fecundidade da racionalidade comunicativa. Sabemos que o conceito de comunidade de investigação filosófica, tal como é pensado e vivido por Ann Sharp, é distinto do conceito de comunidade de investigação filosófica de David Kennedy. Percebemos que o círculo do pensar de Giuseppe Ferraro é uma outra abordagem ao pensamento filosófico em comunidade. No entanto, na nossa investigação estas abordagens entraram em diálogo e, em boa medida, devido ao que é permitido pelo próprio movimento de uma racionalidade comunicativa. Estas possibilidades de diálogo dão-se no pressuposto de uma relação intersubjetiva também entre conceitos, experiências e pensamento sobre os conceitos e as experiências. O caminho percorrido entre a comunidade de investigação filosófica entendida como espaço de intersubjetividade (Sharp, 1987), passando pela abertura da comunidade de investigação filosófica a outras dimensões não discursivas da comunicação (Kennedy, 1994) e avançando para o círculo do pensar que enche o espaço de tempo e o torna num lugar (Ferraro, 2018) revela como a comunidade de investigação filosófica é um conceito e uma experiência abertos e fecundos: um conceito em ação.

Referências

COOKE, Maeve. Language and Reason. A Study of Habermas’s Pragmatics. Cambridge: The MIT Press, 1994.

CUNHA, E. KRÜGER, J. LOPES, S. KOHAN, Walter. Por amor à filosofia… e ao mundo que se abre com ela. Revista Digital de Ensino de Filosofia, Santa Maria, v. 1, n.1, p. 80-103, 2015.

FERRARO, G. A escola dos sentimentos. Da alfabetização das emoções à educação afetiva. Rio de Janeiro: NEFI, Coleção Ensaios, 2018.

FLETCHER, N. Shared Autonomous Reasoning: Interpretations of Habermasian Discourse for the Community of Philosophical Inquiry. Revista Analytic teaching and philosophical praxis, v. 37, n. 1, p. 46-62, 2016.

HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 1985.

HABERMAS. J. 1. ‘Rationality’ – A Preliminary Specification. in The Theory of Communicative Action. Reason and the Rationalization of Society. v. 1. Cambrigde: Polity Press, p. 8-42, 1986.

HABERMAS, J. Capítulo III – Notas programáticas para a fundamentação de uma ética do discurso. Ponto 2 – O princípio da universalização como regra de argumentação. in Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro (tradução de Guido A. De Almeida), p. 78-131, 1989.

HABERMAS. J. Racionalidade e Comunicação. Lisboa: Biblioteca de filosofia contemporânea, Edições 70, 1996.

HABERMAS, J. Between Naturalism and Religion. Cambridge: Polity Press, 2008.

HABERMAS, J. Capítulo 5. Teorias da verdade. in Teoria da Racionalidade e Teoria da Linguagem, v. II. Lisboa: Edições 70, p. 181-233, 2010.

KENNEDY, D. The Five Communities. Revista Analytic Teaching, v. 15, n. 1, p. 3-15, 1994.

KENNEDY, D. The Philosopher as Teacher. The Role of a Facilitator in a Community of Philosophical Inquiry. Revista Metaphilosophy, v. 35, n. 5, p. 744-765, 2004.

KENNEDY, N. & KENNEDY, D. Community of philosophical inquiry as a discursive structure, and its role in school curriculum design. in N. Vansieleghem and D. Kennedy (eds.), Philosophy for children in transition: Problems and prospects. London: Blackwell, p. 97-116, 2012.

KENNEDY, D. KENNEDY, N. Community of philosophical inquiry online and off: retrospectus and prospectus. in AKYOL, Z.; GARRISON, D. R. A Educational Communties of Inquiry: Theoretical Framework, Research and Practice. Hershey, Pensilvânia: Editora IGI Global, p. 12-29, 2013.

KENNEDY. D. An Archetypal Phenomenology of Skolé. Revista Educactional Theory, v. 67, n. 3, p. 273-290, 2017.

KOHAN, W. Palavras, passos e nomes para um projeto. in W. Kohan and B.F. Olarieta (org.) A escola pública aposta no pensamento. São Paulo: Gutenberg, p. 13-49, 2012.

KOHAN, W. A música da amizade: notas entre filosofia e educação. Revista Educação (UFSM), v. 43, n. 2, p. 27-38, 2018.

LIPMAN, M. Good Thinking. Revista Inquiry: Critical Thinking Across the Disciplines, v. 15, n. 2, p. 37-41, 1995.

LIPMAN, M. Thinking in Community. Revista Inquiry: Critical Thinking Across the Disciplines, v. 16, n. 4, p. 6-21, 1997.

LIPMAN, M. GARCIA MORYIÍN. Matthew Lipman: uma biografia intelectual. Haser Revista Internacional de Filosofía Aplicada, v. 2, p. 177-200, 2011.

LIPMAN, M. Thinking in Education. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

MIRANDA ALONSO, T. Accion Comunicativa Y Processo Educativo: J. Habermas y M. Lipman. Ensayos: Revista de la Facultad de Educación de Albacete, v. 2, p.33-46, 1991.

SHARP, A. What is a community of inquiry? in Journal of Moral Education. v. 16, n. 1, p. 37-45, 1987.

SPLITTER, L. SHARP, A. La outra educación. Filosofia para Ninös y la comunidade de indagación. Buenos Aires: Manantial, 1995.

VANSIELEGHEM, N. KENNEDY, D. What is Philosophy for Children, What is Philosophy with Children – After Matthew Lipman?. In Journal of Philosophy of Education, v. 45, n.2, p. 172-182, 2011.

WEBER, B. J. Habermas and the Art of Dialogue: The Practicability of the Ideal Speach Situation. in Analytic Teaching, v. 28, n. 1, 2008. Disponível em: http://libservices.viterbo.edu/journal/ojs/index.php/at/article/view/856. Acesso em: 3 out. 2017.

Downloads

Publicado

2019-06-11

Como Citar

vieira, paula alexandra. (2019). intersubjetividade: um olhar sobre a comunidade de investigação filosófica. Childhood & Philosophy, 15, 01–21. https://doi.org/10.12957/childphilo.2019.42218

Edição

Seção

dossiê: investigação filosófica com crianças: novas vozes