anunciação e insurreição da diferença surda: contra-ações na biopolítica da educação bilíngue
DOI :
https://doi.org/10.12957/childphilo.2016.22970Mots-clés :
biopolítica, educação de surdos, educação bilíngue, insurreição.Résumé
No campo da surdez, sobretudo na visada antropológica, há uma constante luta dos movimentos surdos pela desvinculação da pessoa surda dos discursos da deficiência. Esse processo ocorre ao afirmar ser a surdez não uma condição de ineficiência corporal, mas uma relação outra do corpo surdo, conferida pela diferença linguística, efeito, exatamente, da não audição. É pela falta orgânica que se constrói a singularidade de uma experiência linguística distinta das pessoas que ouvem. Apesar de uma demanda por afirmar a surdez pelo viés da diferença e da singularidade ainda persiste uma discursividade que indica a experiência da surdez ao corpo deficiente, pautando-se pela concepção patológica. Na sociedade atual, a norma é sem dúvida estratégia voraz para a classificação, a nomeação, o agrupamento e a representação que reduz toda diferença numa base que pretende ser igualitária: ao incluir, exclui inúmeras singularidades, pois trabalha pela homogeneidade. Os surdos são alvo de captura de um saber normativo proposto pela lógica da escola e da sociedade inclusiva, funcionando pela ação noso-política que os classifica por decibéis, pela deficiência, pela falta de língua. Neste artigo, objetiva-se apontar os mecanismos biopolíticos de ajustes do corpo surdo sob a demanda do padrão da escola inclusiva. Problematiza-se: qual a surdez se permite vivenciar na escola inclusiva? Há espaço para a formação-surda? Como manter a singularidade surda quando se propõe um modelo único de funcionamento? Embora a língua de sinais tenha reconhecimento legal e uma maior visibilidade social há processos capilares de captura que diluem ou estriam os diferentes usos desta língua pelos surdos. A promoção de uma escola outra, heterotópica, sobrevive ou resiste na insurreição de novos saberes e forças surdas que reivindicam outras formas de vida. Na constante refacção dos conceitos gastos para a palavra inclusão, por exemplo, pela reconfiguração do espaço comum escolar transgredindo-o em outros modos de funcionamento.