A impolidez como princípio constitutivo dos jogos de linguagem: o sentido parcial e violentamente com-partilhado.
DOI:
https://doi.org/10.12957/soletras.2016.22663Palavras-chave:
Impolidez. Ideologia linguística. Práticas discursivas. Violência. Feminismo.Resumo
Neste artigo, aproximando-nos de posicionamentos políticos contra hegemônicos e desconstrutores em estudos críticos da linguagem, contrapondo-nos à falaciosa crença num mundo pacífico e harmoniosamente feito para o bem comum, problematizamos o princípio da cooperação de Grice, justamente por envolver uma visão de mundo liberal, marcado pelo consumo de uma ideia de simetria de relações de poder. Analisamos a polêmica on-line entre o blog Não Me Kahlo e um comentador a respeito da expressão “mulheres do grelo duro” de Lula. Fundamentamo-nos nestes autores, conceitos e categorias: Leezenberg (2014), impolidez constitutiva do discurso; Rajagopalan (2010, 2014), o caráter político dos estudos da linguagem; Silva, Alencar e Martins Ferreira (2014), síntese do princípio da cooperação; Bloomaert (2014) e Rajagopalan (2014), poder e ideologia na linguagem; Bakhtin/Voloshnov (2010) cadeia ideológica, horizente social e discurso como arena de lutas ideológicas; Alencar (2014) e Gonçalves (2014), desdobramentos da institucionalidade da autoridade dos atos de fala. Metodologicamente, criticamos a consensualidade como norma nos jogos de linguagem, apontando o caráter negador e de coação da fala no evento estudado. Concluímos que o caráter particularmente desagregador do ato de fala polêmica comentador/Não Me Kahlo exemplifica a emulação entre os enunciadores e que esta, no discurso, não é um ato anômalo, ou incomum. Assim, defendemos que o princípio da cooperação não é o único fundamento nas práticas discursivas de construção de sentido e talvez mesmo nem seja o mais produtivo, pois há casos em que o significado é disputado recorrendo-se à impolidez nos jogos de linguagem.
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