A hibridização dos processos de ensino-aprendizagem entre analógico e o digital na educação cearense

2023-07-27

Por Vagna Brito de Lima
Doutora em Educação (2018) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestra em Educação (2012) pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Graduada em História (1995), pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Professora da educação básica na rede pública estadual do Ceará, com experiência no ensino superior. Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED), da Seduc/CE. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0422-1575.

Por Ana Joza de Lima
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestra em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Professora da Secretaria de Educação do Ceará - Seduc/CE. Exerce a função de assistente técnico-pedagógica na Coordenadoria Estadual de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED). Por Jaqueline Rodrigues Moraes
Doutora em Ciências na área de Geografia Humana, pela Universidade de São Paulo (USP). Professora da rede estadual de ensino do Ceará. Assessora técnico-pedagógica da Coordenadoria Estadual de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED).

O presente texto discorre sobre o que a Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc/CE), por meio da Coordenadoria Estadual de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED), tem feito para o desenvolvimento das competências digitais e do letramento digital dos docentes da rede estadual de ensino do Ceará, bem como a compreensão sobre o processo de hibridização da educação.

As demandas supracitadas são anunciadas desde o final do século passado. Os primeiros vinte anos do Século XXI foram permeados por adaptações às inovações tecnológicas em todos os campos de atuação da humanidade.  As contingências da pandemia da Covid-19 alçou abruptamente a sociedade à "governamentalidade dos algoritmos" (SILVEIRA, 2017), e os desafios para o campo educacional que transitam entre o analógico e a Inteligência Artificial (IA). Os professores tiveram que conceber outras formas de ensinar e aprender (LIMA, 2020).

Vale destacar que a IA, no campo da educação, agrega conhecimentos da computação com os conhecimentos das ciências da educação para apoiar a complexidade do processo de ensino-aprendizagem (KUBO; BATOMÉ, 2001). Nesse sentido, são constituídos sistemas de computadores a partir de algoritmos ou técnicas da área de IA, pensados e criados para interagirem com o ecossistema educacional em busca de soluções para ampliar o escopo de entrosamentos (CIEB, 2019)[1].          

No artigo “A experiência do Ceará no desenvolvimento de competências digitais de professores” (LIMA, MORAES, SOUZA, 2022), foram apresentadas algumas iniciativas da rede pública estadual de ensino para o desenvolvimento das competências digitais docentes, como a formação continuada Itinerário Formativo: Competências Digitais para a Docência, realizado desde 2021 e publicado em e-book.

A Seduc/CE, por meio da Coded/CED, tem se dedicado a apoiar os docentes e discentes da rede estadual com uma vasta produção de Recursos Educacionais Digitais (RED) e Recursos Educacionais Abertos (REA), por meio de ações, como a Conexão Educação - videoaulas, podcast, material didático estruturado; e Foco na Aprendizagem - avaliação formativa, material didático estruturado, formação continuada.

Além desses, se tem ofertas de cursos Massive Open On-line Course (MOOC) para estudantes e professores - denominados Cursos Autoinstrucionais. Entre esses cursos, destacam-se os cursos Educação híbrida e suas perspectivaselaborado com a finalidade de debater de forma crítica com os professores os conceitos de educação híbrida, hibridez e hibridação - publicado em e-booke o curso Sala de Aula On-line, voltado para o domínio das ferramentas do Google para Educação, todos abertos e disponíveis nos repositórios da Coded/CED. 

Os MOOCs (Massive On-line Open Courses) são cursos on-line abertos, comumente presentes na educação a distância. Ganharam destaques em meados de 2012 a 2013, na Universidade de Stanford na escola de engenharia, por Daphne Koller e Sebastian Thrun, que viam os MOOCs como uma tecnologia que poderia promover, de modo revolucionário, a democratização do ensino superior, sobretudo para aqueles que não tiveram a oportunidade de acessar uma educação presencial de qualidade (ZEMSKY, 2014 apud NASCIMENTO et al., 2022).

É importante ressaltar que, no contexto atual, no qual as relações perpassam variadas formas de interação realizadas a partir dos recursos da Tecnologia Digital da Informação e Comunicação (TDIC) e a internet, cada vez  criam-se novas demandas e usos para as ferramentas que mediam a socialização e o compartilhamento das informações. Nessa perspectiva, se apropriar do que está disponível no ciberespaço[2] é prerrogativa fundamental para a sua utilização crítica, responsável e consciente do conhecimento. Nesse sentido, cabe lembrar as necessidades sinalizadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na Competência Geral da Educação Básica Nº 5:  

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BNCC, p. 9, 2018).

Considerando tais necessidades, a Seduc/CE vem investindo em ações que buscam fortalecer cada vez mais o uso crítico desses recursos. Dessa forma, foi inserido na rede pública estadual de ensino em 2021, o Agente de Gestão da Inovação Educacional – AGI, que visa apoiar gestores escolares e professores, auxiliando no planejamento, na mobilização e implementação de práticas pedagógicas numa perspectiva híbrida (LIMA, MORAES, SOUZA, 2022).

O AGI trabalha em busca de consolidar uma cultura educacional capaz de desenvolver métodos didáticos ativos, fazendo uso das tecnologias, de modo a superar os desafios postos pelas novas necessidades educacionais. Ao longo desses 3 anos, já foram concedidas 170 bolsas para os profissionais distribuídos nas 23 (vinte e três) Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Crede) e 3 (três) Superintendências das Escolas de Fortaleza (Sefor), espalhados por todo o estado do Ceará. Neste ano, como resultado do trabalho dos AGIs, será lançado o e-book Vivências e práticas dos Agentes de Gestão da Inovação Educacional, que trará uma amostra do conjunto das boas práticas desenvolvidas pelos Agentes junto às escolas ao longo dos anos de 2021 e 2022.

Nessa direção, ou seja, da divulgação de boas práticas na rede, não podemos deixar de mencionar o Seminário Docentes, realizado todos os anos pela Seduc/CE, por meio da Coded/CED, e que tem como objetivo:

[...] proporcionar às/aos professoras/es e gestoras/es da rede pública estadual de ensino reflexões acerca de temas essenciais à educação cearense, articulados às demandas globais, além de ensejar a partilha das experiências mobilizadas nos contextos de ensino-aprendizagem [...] (ANAIS, 2022).

Anualmente, a Coded/CED organiza a publicação dos Anais com os trabalhos apresentados no Evento pelos professores. Em 2023, a organização do Seminário prevê sua realização em setembro, na cidade de Fortaleza/CE, e estima a presença de mais de 500 profissionais da educação.

Por último, gostaríamos de mencionar a ação também relevante do Laboratório de Criatividade e Inovação para a Educação Básica (LabCrie), que disponibiliza um espaço para o desenvolvimento da criatividade docente e discente. Conforme descreve a Coded/CED (2023): 

O LabCrie envolve a montagem de espaço, com mobiliário, equipamentos e softwares, totalmente dedicado à formação continuada de professores da rede pública de ensino, com foco na inovação pedagógica e no uso educacional das tecnologias. O programa inclui formação teórica e prática em cultura digital, metodologias ativas, aprendizagem baseada em projetos/problemas, gamificação, cultura maker, pensamento computacional e robótica (BRASIL, 2022).

 Portanto, o LabCrie é um ambiente rico para a cocriação e formação docente, que visa atender as demandas de uma educação motivadora e inovadora, com o desenvolvimento de metodologias ativas. 

Considerações finais 

No concernente à hibridização dos processos educacionais, a política educacional no Ceará envolve uma compreensão crítica acerca da educação híbrida, que toma como base a recontextualização das políticas curriculares (LOPES, 2005) com vistas a garantir a formação integral dos estudantes, para sua emancipação social e política. Para tanto, se faz necessário o envolvimento dos diversos recursos didático-pedagógicos disponíveis e acessíveis, sejam eles, tradicionais e/ou modernos, sejam analógicos e/ou digitais.

A materialização das ações mencionadas corrobora com a oferta de uma educação cada vez mais acessível a todos, visando a promoção da cidadania e o desenvolvimento econômico-social. Por estas, entre outras iniciativas, é que a educação cearense, mediante o trabalho dos nossos professores, vem se destacando em nível nacional, servindo de inspiração para outras práticas.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Acesso em: 17 jul. 2023.

GERPE, Roberto; PIMENTEL, Mariano. Regulamentação das plataformas digitais no Brasil: venha opinar nesse debate! Acesso em: 16 jul. 2023.

IRIGARAY, Hélio Arthur Reis; STOCKER, Fabricio. ChatGPT: um museu de grandes novidades. Cad. EBAPE.BR, v. 21, nº 1, Rio de Janeiro, e88776, 2023, online. Acesso em: 17 jul. 2023.

KUBO, Olga Mitsue; BATOMÉ, Sílvio Paulo. Ensino-aprendizagem: entre dois processos comportamentais. Acesso em: 18 jul. 2023.

LIMA, Vagna Brito. O AMOR na "QUARENTENA": das cartas ao ciberespaço. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, setembro de 2020, on-line. ISSN: 2594-9004. Disponível em: <>. Acesso em: 17 jul. 2023.

LIMA, Vagna Brito. O Amor na "Quarentena": entre cartas e despedidas no ciberespaço. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, junho de 2021, online. ISSN: 2594-9004. Acesso em: 17 jul. 2023.

LOPES, Alice Casemiro. Política de Currículo: Recontextualização e Hibridismo. Acesso em: 8 abr. 2021.

NASCIMENTO, Renata Makelly Tomaz do et alUma revisão integrativa de literatura sobre o MOOC no ensino de Ciências. Research, Society and Development, v. 11, n. 16, e321111638600, 2022. Acesso em: 18 jul. 2023.

PIMENTEL, Mariano; CARVALHO, Felipe. ChatGPT: concepções epistêmico-didático-pedagógicas dos usos na educaçãoSBC Horizontes, 6 jun. 2023. ISSN 2175-9235. Acesso em: 18 jul. 2023.

SILVEIRA, Sergio Amadeu. Governo dos algoritmosRevista de Políticas Públicas, v. 21, n. 1, p. 267-281, 2017.


[1] CIEB. Inteligência Artificial na Educação: Notas Técnicas 16. 2019. Acesso em: 17 jul. 2023.

[2] Ver Pierre Lévy (1999, p. 15) - O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.

 

Como citar este artigo: 

LIMA, Vagna Brito de; LIMA, Ana Joza de; MORAES, Jaqueline Rodrigue. A hibridização dos processos de ensino-aprendizagem entre analógico e o digital na educação cearense. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, julho de 2023, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA. 

Editores/as Seção Notícias:

Felipe Carvalho - Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estácio de Sá (PPGE/UNESA); e bolsista de pós-doutorado CNPq pela Universidade Federal de Tocantins (UFT).

Edméa Santos - Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Rural (PPGEDUC/UFRRJ)

Marcos Vinícius Dias de Menezes - Graduando em Letras - Português, Inglês e Literatura em modo de licenciatura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Bolsista de Iniciação Científica na FAPERJ

Mariano Pimentel - Professor do Programa de Pós-Graduação em Informática da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGI/UNIRIO