A comida e a comensalidade entre mulheres privadas de liberdade em regime fechado

Autores/as

  • Letícia Cristina Machado Ramalho Almeida Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro. Departamento de Nutrição Social. Niterói https://orcid.org/0009-0002-8994-3082
  • Ursula Viana Bagni Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro. Departamento de Nutrição Social. Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-3355-1795

DOI:

https://doi.org/10.12957/demetra.2025.77776

Palabras clave:

População Privada de Liberdade. Alimentos. Interação Social. Comportamento Alimentar.

Resumen

Introdução: Viver em privação de liberdade em regime fechado altera as condições de vida e o cotidiano alimentar das pessoas. Objetivo: Descrever as trocas e doações de alimentos entre detentas nas celas, e investigar o grau de influência da convivência em cela sobre o comportamento alimentar. Métodos: Estudo observacional, seccional e descritivo, realizado com mulheres cumprindo pena em regime fechado em Natal/RN. Aplicou-se questionário sobre as características socioeconômicas, a alimentação oferecida pelo Complexo Penitenciário, os alimentos levados por visitantes e as trocas e doações entre detentas. Utilizaram-se a razão de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança para avaliar a força da associação entre as variáveis. Resultados: A maioria das participantes era insatisfeita ou indiferente quanto a qualidade (96,8%), sabor (98,4%) e quantidade (71%) da alimentação fornecida pelo sistema prisional, sendo comum o recebimento de alimentos trazidos por visitantes (85,2%). A troca de alimentos nas celas era habitual (82,3%), e foi maior nas detentas com maior tempo de reclusão (RP: 1,28; IC95% 1,01-1,63). Grande parte das detentas relatou sofrer influência das colegas de cela em relação ao número de refeições, tipo e quantidade dos alimentos consumidos ao longo do dia. Também foi elevada a proporção de mulheres que reconheceu exercer influência sobre o consumo alimentar das detentas da mesma cela. Conclusão: O número de refeições, tipo e quantidade dos alimentos consumidos ao longo do dia mostraram-se associados com a influência das detentas na cela e as trocas alimentares. A comensalidade entre as detentas é uma estratégia de busca por autonomia, manutenção da identidade e consolidação de relações.

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Publicado

2025-05-12

Cómo citar

1.
Almeida LCMR, Bagni UV. A comida e a comensalidade entre mulheres privadas de liberdade em regime fechado. DEMETRA [Internet]. 12 de mayo de 2025 [citado 3 de junio de 2025];20:e77776. Disponible en: https://www.e-publicacoes.uerj.br/demetra/article/view/77776

Número

Sección

Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva