walter benjamin: “infância, uma experiência devastadora”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67323

Palavras-chave:

infância, experiência, walter benjamin

Resumo

Construído no diálogo entre os processos de institucionalização da infância e as práticas educativas este artigo sistematiza dados de uma pesquisa que teve como objetivo conhecer a experiência de infância na Educação infantil. O campo empírico são cadernos de campo de observações realizadas em vinte e uma instituições públicas que atendem à Educação Infantil na cidade do Rio de Janeiro. Para compreender como infância e experiência se dão nesse contexto, o referencial teórico tem como suporte os estudos da filosofia de Walter Benjamin, a Sociologia e a Antropologia da Infância, e a análise do contexto político que envolve as práticas de institucionalização das crianças. O recorte adotado neste texto apresenta um exercício de aproximação entre as interações e as falas das crianças das escolas participantes da pesquisa e os fragmentos de Obras Escolhidas I e II de Walter Benjamin. A proposta é, a partir dos conceitos de infância e experiência presente na obra do filósofo, compor uma coleção composta de elementos que indiquem como as crianças vivem suas experiências de infância dentro do ambiente escolar. Ao pensar a infância pelo viés da experiência concordamos com o legado atribuído por Benjamin ao trabalho de Kant sobre o tema da experiência. Experiência – algo que experimentamos, mas também algo que nos une/aproxima pelo viés da geração, da história, da narrativa. Independentemente do formato da institucionalização das crianças, ou seja, se elas frequentam creches, escolas exclusivas de Educação Infantil ou escolas de Ensino Fundamental que têm turmas de pré-escola, com base na leitura dos cadernos de campo, podemos concluir que, a experiência de infância se dá na relação com os outros, com os objetos, com a cultura, com a sociedade e com a natureza. A pesquisa evidenciou que, assim como a criança presente na obra de Walter Benjamin, as crianças das nossas creches e escolas também são atraídas pelos detritos e pelo que eles lhes apresentam como possibilidade de atuação. Não reproduzem diretamente o mundo dos adultos, estabelecem uma nova e incoerente relação com o que o mundo lhes apresenta. O que as crianças produzem em suas interações é fruto de um refinado processo em que experiência coletiva e experiência individual se cruzam, tendo a cultura como ponto de encontro.

Biografia do Autor

anelise monteiro do nascimento, UFRRJ

Professora Adjunta do Departamento de Educação e Sociedade da UFRRJ, na área de Educação Infantil. Professora do PPGEduc. Coordenadora do PPGEDUC/UFRRJ. Possui doutorado em Educação (Puc/Rio, 2013) com período sanduíche em Université Paris Descartes - Paris V (2011), Mestrado em Educação pela - PUC - Rio (2004), Especialização em Educação Infantil pela PUC/Rio (2000) e Graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ (1999). Tem experiência na área de Educação atuando principalmente nos seguintes temas: educação infantil, sociologia da infância, infância e cidade, políticas públicas e formação de professores. É Coordenadora do GRUPIs - Grupo de Pesquisa Infâncias até dez anos onde desenvolve o Projeto "Educação Infantil na Baixada Fluminense: a obrigatoriedade da inclusão das crianças de quatro anos na educação básica", pesquisa contemplada com o edital Universal/ CNPQ/2014-2017.

Referências

Agamben, Giorgio. Infância e História – Destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005.

Bakhtin, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Benjamin, Walter. Obras escolhidas I. Magia e técnica. Arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Benjamin, Walter. Rua de mão única. In: Benjamin, Walter. Obras escolhidas II. Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 5. ed, 2000a.

Benjamin, Walter. Imagens do pensamento. In: Benjamin, Walter. Obras escolhidas II. Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 2000b.

Benjamin, Walter. Sur le programme de la philosophie que vient. In Benjamin, Walter. Ouvres I. Paris: Gallimard, 2000c.

Benjamin, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 2002.

Benjamin, Walter. Passagens. Tradução: Irene Aron. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

Benjamin, Walter. Enfance - Éloge de La poupée et autres essais. Paris: Édetions Payot & Rivages, 2011.

Bock, Wolfgang. Fragmentos de uma teoria da cor em Walter Benjamin. In Barrenechea, Miguel Angel (Org.). As dobras da memória. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.

Bolle, Willi. As Passagens de Walter Benjamin: um ensaio imagético. In Kramer, Sonia et al. Política, cidade, educação: Itinerários de Walter Benjamim. 1. ed. Rio de Janeiro: PUC- Rio e Contraponto, 2009.

Gagnebin, Jeanne Marie. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 2004.

Gagnebin, Jeanne Marie. Walter Benjamin, um “estrangeiro de nacionalidade indeterminada, mas de origem alemã”. Benjamin Pensa a Educação. Revista Educação. Especial: Biblioteca do professor. São Paulo, v. 1, pp. 06-15. 2008.

Jobim e Souza, Solange. Infância e Linguagem – Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. São Paulo: Papirus, 1994.

Jobim e Souza, Solange. Walter Benjamin e a infância da linguagem. Benjamin Pensa a Educação. Revista Educação. Especial: Biblioteca do professor. São Paulo, v. 1, pp. 36-47, Março 2008.

Kant, Immanuel. Crítica da razão pura. 6. ed .Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.

Konder, Leandro. Walter Benjamin – o marxismo da melancolia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

Konder, Leandro. Benjamin e o marxismo. Alea, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, July/Dec. 2003.

Kramer, Sonia. Pesquisando infância e educação: um encontro com Walter Benjamin. In Kramer, Sonia; Leite, Maria Isabel. (Orgs.). Infância: fios e desafios da pesquisa. 10 ed. Campinas: Papirus, 2008a.

Kramer, Sonia. Educação a contrapelo. Benjamin Pensa a Educação. Revista Educação. Especial: Biblioteca do professor. São Paulo, v. 1, p. 16-25, março, 2008b.

Kramer, Sonia. Infância e educação: o necessário caminho de trabalhar contra a barbárie. In: Kramer, Sonia; Leite, Maria Isabel; Nunes, Maria Fernanda; Guimarães, Daniela (Org.). Infância e Educação Infantil. 7. ed. Campinas, Papirus, 2008c.

Kramer, Sonia. Crianças e adultos em diferentes contextos: desafios de um percurso de pesquisa sobre infância, cultura e formação. In: Sarmento, Manuel; Gouvea, Maria Cristina S (Orgs.). Estudos da infância: educação e práticas sociais. Petrópolis: Vozes, 2008d.

Kramer, Sonia (Org.). Retratos de um desafio - Crianças e adultos na construção da educação infantil. São Paulo: Ática, 2009a.

Kramer, Sonia et al. Política, cidade, educação: Itinerários de Walter Benjamim. Rio de Janeiro: PUC- Rio e Contraponto, 2009b.

Kramer, Sonia. Infância, educação e crítica da cultura em Walter Benjamin. In: Regina Leite Garcia. (Org.). Diálogos Cotidianos. Petrópolis: DP et Alli/ FAPERJ, 2010.

Kramer, Sonia. Ruína. Tempo Vivo e Holocausto: a Potência da Memória em Walter Benjamin. Revista Eletrônica Interdisciplinar de Estudos Judaicos. v. 1, p. 116, 2011.

Lavelle, Patrícia. Religion et histoire - sur Le concept d’expérience chez Walter Benjamin. Paris: Les éditions du CERF, 2008.

Muricy, Kátia. A magia da linguagem – filosofia, linguagem e escrita em Walter Benjamin. Benjamin Pensa a Educação. Revista Educação Especial: Biblioteca do professor, São Paulo, p. 76-85, março, 2008.

Muricy, Kátia. Alegoria da Dialética – imagem e pensamento em Walter Benjamin. Rio de Janeiro: Nau, 2009.

Scholem, Gershom. Walter Benjamin: a história de uma amizade. São Paulo: Perspectiva, 2008.

Seligmann-Silva, Márcio. Walter Benjamin: para uma nova ética da memória. Benjamin Pensa a Educação. Revista Educação Especial: Biblioteca do professor. São Paulo, p. 48-59. março, 2008.

Downloads

Publicado

2022-09-27

Como Citar

nascimento, anelise monteiro do. (2022). walter benjamin: “infância, uma experiência devastadora”. Childhood & Philosophy, 18, 01–24. https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67323

Edição

Seção

estudos da infância: movimentos, limiares e fronteir