sobrevida da infância surda numa sociedade centrada na língua oral: o caso covid-19 e a viralização da libras
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.56076Parole chiave:
Infância surda, Necropolítica e Surdez.Abstract
Estudos apontam desafios para a aquisição da língua brasileira de sinais (Libras) por crianças surdas. A maioria dos surdos são filhos de pais ouvintes que desconhecem a Libras e o primeiro contato com essa língua pode ocorrer apenas no ambiente escolar. Com o quadro de isolamento social e a impossibilidade de abertura das escolas devido à pandemia do "Novo Coronavírus" estes problemas se agravaram. O projeto denominado #CasaLibras de atenção virtual em Libras às crianças surdas objetivou produzir vídeos com contações de histórias infantis diretamente em Libras. As ações justificam-se como forma de informar, entreter, bem como, estimular o contato dessa língua por crianças surdas em suas casas. Esse artigo pretende analisar esse cenário político, problematizando: 1) as concepções, filosófico-sociais, sobre a surdez, 2) a luta pela sobrevida surda, diante da falta de políticas públicas, sociais e educacionais, numa necropolítica que se afirma na produção da morte (simbólica e real de surdos, pela pauta da adequação de corpos surdos à língua oral e pela falta de informação, expondo-os mais ao risco) das diferenças surdas; e, por fim, 3) a análise dos resultados do projeto #CasaLibras voltado às crianças-surdas. Os dados sugerem uma ampla utilização das mídias e certa viralização da Libras, na pandemia, por meio da ação do povo. Destaca-se a positividade do projeto na promoção da acessibilidade para crianças-surdas e a urgência de ampliação das políticas inclusivas bilíngues que fortaleçam as singularidades dessas vidas, deixando-os menos vulneráveis, física e simbolicamente.
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