a infância no cinema de abbas kiarostami
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2019.36890Parole chiave:
infância, cinema, abbas kiarostami, revolução iranianaAbstract
O presente artigo devota-se a descrever e analisar o endereçamento à infância em algumas obras cinematográficas de Abbas Kiarostami. Para tanto, a argumentação volta-se inicialmente à contextualização da Revolução Iraniana de 1979, responsável pelo fim do regime monárquico do Xá Reza Pahlavi, que tinha a laicidade e a modernidade como motes, e pelo o início da República Islâmica do Irã, centrada na figura do Aiatolá Khomeini e apoiada na tradição islâmica. Nesse cenário, destaca-se o papel do Instituto para o Desenvolvimento Cultural da Criança e do Adolescente, referido como Kanun. Fundado com o propósito de criar obras de cunho educativo durante o regime do Xá, o Kanun foi de fundamental importância para a produção artístico-cultural do país, tanto antes quanto depois da Revolução. Especialmente, seu departamento de cinema, no qual vários cineastas iniciaram suas carreiras (entre eles, Kiarostami, o primeiro diretor do departamento), é considerado o berço do movimento reconhecido como o Novo Cinema Iraniano. Assim, o presente trabalho debruça-se sobre as narrativas acerca da infância presentes em tais filmes, considerando a ambiência pós-revolucionária e, presumidamente, a tarefa de construção de um novo sujeito histórico a partir de um marco outro para a infância. Mais especificamente, o trabalho oferece uma análise articulada de seis obras cinematográficas de Kiarostami produzidas no período de 1970 a 1989. Em todas elas é possível testemunhar uma interrogação sobre a posição das crianças naquele contexto societário. Após uma discussão sobre o uso de filmes como fonte investigativa, apresentam-se três movimentos argumentativos identificados em tais obras, intitulados respectivamente: a criança à margem da sociedade; a criança no centro da sociedade; e a criança da revolução. Ao final das discussões, propõe-se que o cinema de Kiarostami consistiu em um ponto de inflexão das modalidades de veridicção-subjetivação ali correntes. Tratava-se, assim, em um tipo peculiar de exercício ético-político, por meio de uma experimentação narrativa que se valia do universo infantil como ocasião de prospecção dos ideais do processo revolucionário
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