O ritual das palavras: vida e ancestralidade, crença e aprendizagem em Provérbios, de Carolina Maria de Jesus

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/soletras.2025.92754

Palavras-chave:

Literatura afro-brasileira, Carolina Maria de Jesus, Provérbios, Moral, Ritual de vida

Resumo

Este artigo propõe uma análise crítica da obra Provérbios (1963), de Carolina Maria de Jesus, considerando seu processo criativo e sua inserção consciente na tradição literária brasileira. A autora recusava o rótulo exótico e reducionista de “autora favelada de baixa instrução”, afirmando-se como escritora legítima, herdeira de uma linhagem afro-brasileira marcada pela oralidade, resistência e produção estética. Em Provérbios, Carolina reconfigura as fórmulas sentenciosas da sabedoria popular afrodescendente como dispositivos literários que articulam ancestralidade, ética comunitária e crítica social. O estudo desenvolve como os provérbios, para além de sua função pedagógica, assumem valor estético, performativo e político. Eles funcionam como estratégias discursivas de denúncia, reafirmando uma postura ideológica diante das desigualdades raciais, sociais e simbólicas. Os temas centrais da obra, “homem, política e religião”, atravessam os enunciados proverbiais e revelam conflitos éticos vivenciados nas margens da sociedade brasileira, bem como sua explanação crítica e associativa foi exposta estruturalmente. Nesse sentido, os provérbios são resignificados como expressões literárias engajadas, que conjugam tradição oral e linguagem escrita em um gesto autoral consciente. A apropriação dessas fórmulas populares por Carolina inscreve-se como compromisso com a palavra, tornando sua escrita um espaço de memória ancestral, crítica às estruturas de dominação e afirmação identitária. Assim, a obra Provérbios projeta-se como território simbólico de resistência e de experimentação literária. Para fundamentar essa leitura, recorre-se aos aportes teóricos de Walter Benjamin (1987), Domício Proença Filho (2004), Eduardo de Assis Duarte (2008), Renato Lessa (2017), entre outros.

Downloads

Publicado

2025-08-31