TRAVESSIAS FILOSÓFICAS, TESSITURAS AMEFRICANAS: O CURRÍCULO DE FILOSOFIA AO RÉS-DO-CHÃO
DOI:
https://doi.org/10.12957/riae.2022.65886Palavras-chave:
Decolonialidade, Ensino de filosofia, Lei 10.639/03, Currículo de filosofia, Educação das relações étnico-raciais.Resumo
O ensaio tem por objetivo difundir o debate em torno da descolonização do ensino de filosofia e seu currículo, tendo como eixo a crítica ao exclusivismo de perspectivas filosóficas brancas, androcentradas, eurocêntricas e universalistas, hegemônicas nos espaços institucionais de formação e nas práticas pedagógicas. Pontua-se que a manutenção de uma matriz particular de conhecimento como a única válida e verdadeira, que passa a conferir valor a acervos, currículos e repertórios ensinados nas instituições, atravessa estruturalmente os itinerários formativos propostos pelas instituições educativas nacionais. Ressalta-se, nesse contexto, a importância das legislações antirracistas, como a Lei 10.639/03, e de práticas contracoloniais que interroguem não apenas os modelos filosóficos canônicos, mas também os processos de desumanização daqueles/as que foram tornadas/os subalternas/os pela lógica colonial, e que, desde seu chão, produzem conhecimentos filosóficos que desafiam o sistema-mundo colonial/capitalista/racista/patriarcal e seus arquivos. Trata-se, por fim, de indagar políticas curriculares, práticas pedagógicas e epistemologias, para enfrentar os lastros da colonialidade no ensino de filosofia.Referências
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