Currículo, Cibercultura e Povos Indígenas
O Brasil tem uma vasta produção curricular para a educação de indígenas, passando pelas experiências educacionais com os Jesuítas no Brasil Colônia e Império, pelos processos educativos dos Diretórios dos Índios no período Pombalino, até a educação para a civilidade nacional na Primeira República. A partir da década de 1990, após a Constituição Federal de 1988 e com a LDB 9.394/1996, a Educação Escolar Indígena passa a despertar como modalidade uma série de políticas curriculares, dentre elas, o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI), uma das primeiras tentativas de fixação curricular para a Educação Escolar Indígena no país, acompanhando o movimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s).
É neste contexto, que as políticas curriculares para a Educação Escolar Indígena têm assinando retóricas de imaginários nacionais voltados à emancipação do indígena e suas comunidades por meio de uma “educação bilíngue/multilíngue intercultural”, “currículos específicos e diferenciados”. A LDB 9394/96 como um dos primeiros documentos da política educacional brasileira oficial a tratar da Educação Escolar Indígena, apresenta a modalidade numa abordagem multiculturalista crítica humanista, tendo a interculturalidade como projeto de conscientização, empoderamento e emancipação dos indígenas. Desde a LDB 9.394/1996, foram muitas as políticas curriculares endereçadas à Educação Escolar Indígena, numa tentativa de normatização das escolas, formação inicial e continuada, bem como a produção de materiais didáticos em contextos indígenas.
Se por um lado temos um movimento por parte do Estado em preencher os contextos indígenas com textos curriculares, percebemos agenciamentos dos povos indígenas numa perspectiva de “amansar” a escola. Movimentos de intepretação e tradução que deslocam e constroem outras normativas curriculares, numa aproximação com seus territórios etnoeducacionais, suas cosmologias e línguas.
No que concerne à cibercultura, temos percebido nas comunidades indígenas, que a dinâmica dos ambientes online tem criado redes sociais de docência e aprendizagem, permitindo experiências significativas de aprendizagem nos diferentes espaçostempos da cibercultura. Inúmeras têm sido as experiências de formação de professores(as) nas licenciaturas interculturais indígenas, bem como nas escolas indígenas, de distintas interculturalidades no contexto da cibercultura. Nas comunidades, com seus mais variados coletivos indígenas, momentos de interação têm produzido materialidades ciberculturais, extrapolando as fronteiras entre o virtual e o não virtual, e estabelecendo processos de construção cultural de remodelagens das tradições.
Diante disso, numa aposta nesses movimentos de deslocamentos, interpretações e traduções, propomos o dossiê “Currículo, Cibercultura e Povos Indígenas”, acreditando que as experiências curriculares dos povos indígenas na cibercultura, em muito poderão contribuir com os estudos curriculares e cibercultura. No dossiê serão acolhidas propostas que tratem da educação indígena, educação escolar indígena, políticas curriculares de formação inicial e continuada de professores indígenas, retomada e revitalização de línguas em escolas indígenas, Lei 11.645/2008, oralitura e literatura indígena, espitemologias e metodologias indígenas desenvolvidas na cibercultura.
Organizadores: Prof. Dr. Paulo de Tássio Borges da Silva – UFF – PPGER/UFSB; Prof. Dr. Ronielle de Azevedo-Lopes – IFPA; Profª. Dta. Ádria Simone Duarte de Souza – UEA
Submissões: 28/08/2022 a 31/01/2023
Previsão de publicação: 2023.01
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