MODOS DE LER FREUD: UMA RENOVAÇÃO POSSÍVEL
WAYS OF READING FREUD: A POSSIBLE RENEWAL
DOI:
https://doi.org/10.12957/pr.2024.87553Palavras-chave:
Psicanálise, Tradução, DesconstruçãoResumo
Este artigo discute sobre modos de ler a querela das traduções dos escritos de Sigmund Freud. Primeiro, discorre-se a respeito de dois pressupostos sobre ler, interpretar e traduzir: a leitura clássica e a leitura atenta e desconstrutiva. Depois, realiza-se um recorte histórico de edições estrangeiras freudianas, centralizando na The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (Freud, 1953-1974). A seguir, discorre-se sobre as primeiras edições brasileiras, que foram retraduções: a coleção Obras Completas, pela editora Delta (Freud, 1950-1970); e a Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud, pela editora Imago (Freud, 1974). Por fim, foca-se em duas novas coleções brasileiras, que trouxeram à tona a problemática do caso Trieb: a coleção Obras Completas, pela editora Companhia das Letras (Freud, 2010-2018), e a Obras Incompletas, pela editora Autêntica (Freud, 2013-2023). Pela tradição clássica, o tradutor busca cumprir a impossível expectativa de universalidade e neutralidade sobre o texto original, ocultando-se como sujeito interpretante. Pela guinada desconstrutiva, o tradutor, diante da impossibilidade de neutralidade do seu trabalho, é compreendido como coprodutor de sentido e assim está implicado. Na conclusão, o trabalho tradutório gera implicações teóricas e clínicas na leitura psicanalítica, e as versões de Trieb como instinto ou pulsão escancara isso. Assim, aposta-se que tanto tradutores quanto leitores estejam atentos e advertidos em sua leitura das implicações e problemáticas que perpassam as versões de Freud e que estejam, por fim, abertos às multiplicidades de edições como possibilidades de implicação de sentido e às polissemias do texto.
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