Orpheu e a imprensa no caderno de Alfredo Guisado: “Recortes” de uma revista literária

Resumo

Alfredo Guisado (1891-1975) organizou um caderno de recortes de imprensa sobre a revista Orpheu em 1915. Muitos desses textos coletados e arquivados no caderno de recortes foram publicados e comentados por Alfredo Guisado na sua página literária no jornal República, principalmente na década de 1960. O presente artigo examina esses textos onde se citam e se transcrevem integralmente recortes da imprensa portuguesa de 1915. A crítica literária, entendida como um gênero do discurso, responde a enunciados anteriores, estabelecendo com eles uma relação viva e tensa, conforme Mikhail Bakhtin. Analiso neste artigo o confronto entre três enunciações: a) o discurso da imprensa portuguesa em 1915 acerca da recepção de Orpheu; b) o discurso dos presencistas vistos como discurso de outrem no interior das enunciações de Alfredo Guisado na década de 1960; c) o discurso de Guisado, marcado por ironias, polêmica velada e até mesmo polêmica aberta. Guisado tinha, pois, como objetivo esclarecer ao público como se pautavam os juízos da crítica de então e, ao mesmo tempo, responder a atitudes discursivas de membros da geração da revista presença, que propagava no meio literário português a ideia de terem sido eles os grandes divulgadores dos textos dos de Orpheu.