Os sons na criação de ‘conhecimentossignificações’ – o uso de artefatos culturais nas redes educativas da formação docente
Proposta de dossiê:
Os sons sempre foram criadores de ‘conhecimentossignificações’ nos atos educativos em suas dimensões éticas, estéticas, políticas e poéticas. O esquecimento desse papel que sempre tiveram eles com o surgimento de artefatos de imagens parece ter sido superado no período pandêmico quando algumas questões se apresentaram em nosso país: o isolamento do mundo “lá fora” nos permitiu perceber melhor os seus sons; a desigualdade entre a população brasileira e em especial entre docentes e discentes, no desenvolvimento de ações de currículo, dos artefatos de comunicação em geral, mas especialmente, os de imagem, nos lembrou as possibilidades pedagógicas dos sons; esse período difícil para docentes, discentes e seus responsáveis permitiu trocas importantes entre esses ‘praticantespensantes’ dos currículos, com criação de atos curriculares potentes com os sons – incluindo ou não as imagens. Sem dúvida, as conversas necessárias e desenvolvidas, nesse período, se incluem entre os artefatos culturais de sons mais usados, especialmente pelo WhatsApp. Entre os artefatos que se destacaram, no período, está o podcast, cuja criação permitia facilidades que os artefatos com imagens, às vezes, não possuíam. Eles se multiplicaram em ideias e formatos potentes indicando possibilidades antes esquecidas. O uso de filmes – tanto quanto sua criação em possibilidades de uso mais fáceis (porque com tempo contado para ir a público), como o TikTok – foi ação que permitiu a articulação de imagens e sons. Todos esses artefatos de sons ou de sons-imagens têm sido experimentados em diferentes níveis de ensino - da Educação Infantil, da Educação Básica à formação na graduação e na pós-graduação, onde tem encontrado na formação docente um dos principais meios de circular as pesquisas - um movimento necessário para a produção científica das ‘práticasteorias’ ‘dentrofora’ das escolas. Refletir sobre seus usos pelos ‘praticantespensantes’ nos cotidianos das pesquisas em educação, tanto quanto nas ações docentes se torna urgente.
Com a democratização de artefatos culturais digitais, como os dispositivos móveis, aplicativos de gravação e edição de som, estúdios de criação de podcast online, agregados aos aplicativos de veiculação dos mesmos, fez com que se possibilitasse emergir a cultura do rádio, evidenciado a sua potência e seu valor midiático, por meio do podcast. Nas últimas décadas essa tecnologia foi ganhando força como linguagem. Com o isolamento social, o podcast se tornou uma prática de criação e distribuição de conteúdos digitais tradicionalmente associada a produções sonoras e que tem experimentado um significativo crescimento nos últimos anos. Sua utilização na educação também demonstra um crescimento superlativo, tanto em termos de diversidade de programação quanto de número de ouvintes. Para nós, em nossas pesquisas, o podcast foi uma das principais maneiras encontradas durante a pandemia para a produção de ‘conhecimentossignificações’. Assim, o podcast por ser um artefato cultural, tem sido também um artefato curricular, por ser um meio ao mesmo tempo que é usado (CERTEAU, 2014), como criação de 'conhecimentossignificações' por 'praticantespensantes' da educação, criando assim, um ambiente de encontros, de conversas e de formação de redes de afetos. O fenômeno podcast nos processos educativos, contudo, está presente nos diferentes 'dentrofora' das escolas como práticas, usado como metodologias de pesquisa e na difusão científica.
Experimentado em diferentes níveis de ensino, o podcast, enquanto um artefato cultural, permeia desde a educação básica à graduação e a pós-graduação, em que neste último, tem encontrado na formação docente, principal meio também de produzir e circular as pesquisas - um movimento necessário para a produção científica das ‘práticasteorias’ dos saberes ‘docentesdicentes’, nos dentrosforas da escola. De acordo com Roquete Pinto, o precursor da radiodifusão no Brasil, a rádio era a “escola dos que não tinham escola”. Walter Benjamin, um dos precursores da linguagem radiofônica de caráter educativo, em ‘Hora das Crianças', desde 1927, mostrava o potencial narrativo dessa nova linguagem que estava sendo formada. Nas últimas três décadas, culminando com os 100 anos do Rádio, o podcast se firma como mídia potente, um veículo de comunicação democrático, pois é de fácil produção e distribuição.
Hoje há novas maneiras de tornar podcasts conteúdos acessíveis ao público sensorialmente diverso, e, em diferentes realidades de letramento, inclusive digital. Além disso, de uma maneira geral, o debate sobre a utilização das tecnologias digitais no auxílio do ensino de crianças, adolescentes, jovens e adultos e na difusão científica vem crescendo nos últimos tempos, passando a fazer parte dos cotidianos e das ‘artes de fazer os cotidianos’, conforme nos aponta Michel de Certeau sobre os usos que o homem comum faz das mídias. A internet é o meio pelo qual outras mídias estão convergindo: jornal, rádio e televisão. O podcast não é só meio de comunicação, mas também de socialização. E por isso mesmo, o uso dos podcast à educação requer uma abordagem ética, estética, política e poética. A partir dos usos que vão inaugurando novas formas de fazer podcasts, podem surgir novas mídias ou novos usos dessa mídia - podcast. Este Dossiê pretende vislumbrar esses usos, essas potências e devires das sonoridades no campo da educação.
Pretende-se reunir artigos, entrevistas, relatos de experiência, metodologias, reflexões teóricas acerca do podcast de modo a contribuir com a percepção plural desses usos por docentes e discentes nas práticas educativas dentro e fora da escola. Esperamos receber: abordagens históricas da mídia; práticas escolares com podcasts; refletirmos sobre os meios de comunicação e educação; como podemos ensinar e aprender com podcasts; as especificidades dos podcasts educativos, em seu fazer coletivo e colaborativo, seus conteúdos que vêm de toda a parte, de pessoas diferentes, com culturas e referências diferentes, sobre todos os temas, de modo imersivo, onde a oralidade, a voz, a palavra, a música, o ruído, o silêncio, todas essas sonoridades refletem também os campos acústicos para onde se dirigem os significados e as semânticas; pois o podcast é também uma experiência de vivenciar a comunicação auditiva. Do outro lado, há sempre uma escuta. O caráter semântico da vocalização, as afecções provocadas pelos efeitos sonoros, a escuta imersiva, trazem ou recuperam nesta dimensão à importância do som nos cotidianos.
Submissões prorrogadas: 30/06/2023
Diretrizes para os/as autores/as: regras de submissão
Previsão de publicação: 2023.02
Organizadoras e instituições: Profa. Dra. Rebeca Brandão (SME-PCRJ); Profa. Dra. Noale Toja (UERJ; OI-Kabum); Profa. Mestre. Fernanda Cavalcanti de Mello (UERJ/FFP /SEEDUC-RJ); Profa. Dra. Maria Morais (UERJ; SME-PCRJ/UFF); e Profa. Dra. Joana Ribeiro dos Santos (UERJ; SME-PCRJ).