quem está cansado de michel foucault? pensando a relação entre a produção da infância e a decolonialidade a partir da perspectiva foucaultiana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2024.81123

Palavras-chave:

estudos foucaultianos, infantismo, decolonialidade, estudos feministas, ciências da educação

Resumo

Esse artigo tem como ponto de partida as genealogias da infância de Michel Foucault, disseminadas em sua obra e complexificadas pelos estudos foucaultianos contemporâneos, em particular os estudos feministas de Silvia Federici (e suas genealogias das mulheres) e os estudos pós-coloniais de Ann Laura Stoler (e suas genealogias dos colonizados). Visto que Foucault não menciona a história das mulheres e das colônias, esse desvio pelas genealogias feministas e pós-coloniais nos permitirá participar dos debates sobre a interseccionalidade. De fato, desde os anos 1990, essa perspectiva metodológica tem sido pensada de muitas formas (como articulação, matriz, montagem etc.), então a questão será ver como pensar a interseccionalidade em referência ao quadro de análise foucaultiano e suas críticas. Mais precisamente, ao reunir esses autores e suas genealogias, este artigo buscará se situar nos debates contemporâneos sobre a intersecção entre o infantilismo e o movimento decolonial. Enquanto alguns autores consideram a produção da infância/idade como precedente à produção de colonialidade/raça, outros veem o contrário. Para entrar nesse debate, recorreremos à ideia de Bacchetta (2015) de co-formações e co-produções das relações coloniais e etaristas na longa história das metrópoles e das colônias. Ao fazê-lo, buscaremos descrever e analisar as relações de subjugação (de gênero, classe, raça ou idade), por um lado, como um efeito de multiplicidade segundo conjunturas específicas, e, por outro lado, como a cristalização de relações de poder que se estendem ao longo de grandes espaços-tempos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ARIÈS, P. L’Enfant et la Vie familiale sous l’Ancien Régime. Paris: Éditions du Seuil, 2014. ISBN 2757841726

ASHCROFT, B. Primitive and Wingless: the colonial subject as child. In: Dickens and the Children of Empire. London: Palgrave Macmillan, 2000. p. 184-202. ISBN 9780333770443

BACCHETTA, P. Décoloniser le féminisme: intersectionnalité, assemblages, co-formations, co-productions. Les cahiers du CEDREF, n. 20, 2015.

BISWAS, T., et al. Childism and philosophy: A conceptual co-exploration. Policy Futures in Education, 2023. 14782103231185178.

BURMAN, E. Child as method and/as childism: Conceptual– political intersections and tensions. Children & Society, 37, 1021–1036. 2023.

BURMAN, E. Fanon, education, action: Child as method, New York, Routledge, 2019.

BURMAN, E. Fanon, Foucault, feminisms: Psychoeducation, theoretical psychology, and political change. Theory & Psychology, n. 26, v. 6, 706–730. 2016.

CANNELLA, G. S., & VIRURU, R. Childhood and postcolonization: Power, education, and contemporary practice. Psychology Press. 2004. ISBN 9780203463536.

COLOMA, R. Who’s afraid of Foucault ? History, Theory and Becoming Subjects? History of Education Quarterly, n. 51, v. 2, p. 184-210, 2011.

COLOMA, R. White gazes, brown breasts: Imperial feminism and disciplining desires and bodies in colonial encouters. Paedagogica Historica, n. 48, v. 2, p. 243-21, 2012.

DIGNEFFE, F.; DUPONT-BOUCHAT, M.-S. À propos de l’origine et des transformations des maisons pour jeunes délinquants en Belgique au XIXe siècle: l’histoire du pénitencier de Saint-Hubert (1840-1890). Déviance et société, n. 6, v. 2, p. 131-165, 1982.

DONZELOT, J. La police des familles. Paris: Éditions de Minuit, 1977. ISBN 9782707319203

DORLIN, E. De l’usage épistémologique et politique des catégories de «sexe» et de «race» dans les études sur le genre. Cahiers du genre, n. 2, p. 83-105, 2005.

DUPONT-BOUCHAT, M. S. De la prison à l’école de bienfaisance: origines et transformations des institutions pénitentiaires pour enfants en Belgique au XIXe siècle (1840-1914). Criminologie, n. 28, v. 2, p. 85-108, 1995.

FEDERICI, S. Caliban et la sorcière. Femmes, corps et accumulation primitive. Paris: Ed. Entremonde, 2014. ISBN 978-2-940426-37-9.

FEDERICI, S. Le capitalisme patriarcal. Paris: La Fabrique Éditions, 2019. ISBN 9782358721783

FEDERICI, S. Il punto zero della rivoluzione. Lavoro domestico, riproduzione e lotta femminista. Verona: Ombre Corte, 2020. ISBN 978-8869481499

FLANDRIN, J-L. Enfance et société. Annales. Économies, Sociétés, Civilisations, n. 19, v. 2, p. 322-329, 1964.

FOUCAULT, M. Surveiller et Punir. Naissance de la prison. Paris: Gallimard, 1975. ISBN 2070291790

FOUCAULT, M. Omnes et singulatim: Vers une critique de la raison politique. Le Débat, 41, n.4, p. 5-36, 1986.

FOUCAULT, M. Il faut défendre la société: Cours au collège de France, 1975-1976. Paris: Gallimard, 1997. ISBN 978-2-02-023169-5

FOUCAULT, M. Les Anormaux, Cours au Collège de France, 1974-1975. Paris: Gallimard, 1999. ISBN 2020307987

FOUCAULT, M. Dits et écrits 1. 1954-1975. Paris: Gallimard (coll. Quarto), 2001a. ISBN 207076186X

FOUCAULT, M. Dits et écrits 2. 1976-1988. Paris: Gallimard (coll. Quarto), 2001b. ISBN 2070762904

FOUCAULT, M. Le pouvoir psychiatrique: Cours au collège de France (1973-1974). Paris: Seuil, 2003. ISBN 2020307693

GROS, Guillaume. Philippe Ariès: naissance et postérité d’un modèle interprétatif de l’enfance. Histoire de l’éducation, n. 125, p. 49-72, 2010.

GSTETTNER, P. Die Eroberung des Kindes durch die Wissenschaft: aus der Geschichte der Disziplinierung. Rowohlt, 1981.

IMBERT, F. Pour une praxis pédagogique. Vigneux: Éditions Matrice, 1985. ISBN 2905642017.

KERGOAT, D. Le rapport social de sexe. De la reproduction des rapports sociaux à leur subversion. Actuel Marx, n. 30, v. 2, p. 60-75, 2001.

LEGRAND, S. Portraits du dégénéré en fou, en primitif, en enfant et finalement en artiste. Methodos. 2003.

LEGRAND, S. Les normes chez Foucault. Paris: PUF. 2007. ISBN 2130549829.

LIEBEL, M. Decolonizing Childhoods: From Exclusion to Dignity. Policy Press, 2020.

LORDE, A. Age, race, class and sex: Women redefining difference. Cultural Politics, n. 11, p. 374-380, 1997.

MEYER, P. L’enfant et la raison d’État. Paris: Seuil, 1977. ISBN 2020047527.

MOSCONI, N. Mai 68: le féminisme de la «deuxième vague» et l’analyse du sexisme en éducation. Les Sciences de l’education — Pour l’Ere nouvelle, n. 41, v. 3, p. 117-140. 2008.

NADESAN, M. Governing childhood into the 21st century: Biopolitical technologies of childhood management and education. Springer, 2010.

NIEWENHUYS, O. Theorizing childhood(s): Why we need postcolonial perspective. Childhood, n. 20, v. 1, p. 3-8, 2011.

ROLAND, E. Généalogie des dispositifs éducatifs en Belgique du XIVe au XXe siècle: Disciplinarisation et biopolitique de l’enfance: des grands schémas de la pédagogie à la science de l’éducation. Thèse non publiée. Université libre de Bruxelles, 2017.

ROLLO, T., et al. Critical Pedagogy, Democratic Praxis, and Adultism. Sage International Handbook of Critical Pedagogies, Thousand Oaks, CA: Sage, 2020.

ROLLO, T. The Color of Childhood: The Role of the Child/ Human Binary in the Production of Anti-Black Racism. Journal of Black Studies, p. 1–23, 2018.

SIMONE, A.; BRANDIMARTE, R.; CHIANTERA STUTTE, P.; DI VITTORIO, P.; MARZOCCA, O.; ROMANO, O. & RUSSO, A. Lexique de biopolitique. Le pouvoir sur la vie. Toulouse: Édition Eres, 2009.

SMITH, K. The government of childhood: Discourse, power and subjectivity. Springer, 2014.

STARHAWK; STENGERS, I. ; MORBIC. Femmes, magie et politique. Les empêcheurs de penser en rond, 2003. ISBN ‎ 2846710104.

STOLER, A. Race and the Education of Desire: Foucault's History of Sexuality and the Colonial Order of Things. Durham, London: Duke University Press, 1995. ISBN 0822316900.

STOLER, A. L. Genre et moralité dans la construction impériale de la race. Actuel Marx, n. 2, p. 75-101, 2005.

STOLER, A.; ROUX, S.; PREARO, M.; & FASSIN, E. La chair de l’empire. Paris: La Découverte, 2013.

WALL, J. From Childhood Studies to Childism: Reconstructing the Scholarly and Social Imaginations,” Children’s Geographies, n. 17, v. 6, p. 1-15, 2019.

Publicado

2024-06-30

Como Citar

ROLAND, Ela; IACOBINO, Serena. quem está cansado de michel foucault? pensando a relação entre a produção da infância e a decolonialidade a partir da perspectiva foucaultiana . childhood & philosophy, Rio de Janeiro, v. 20, p. 01–34, 2024. DOI: 10.12957/childphilo.2024.81123. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/childhood/article/view/81123. Acesso em: 1 maio. 2025.

Edição

Seção

dossier: "confronting adultcentrism in educational philosophies and institutions"