uma conversa espiralada entre o terreiro e a ancestralidade: infância, comunidade e pertencimento
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2025.89258Parole chiave:
infância, ancestralidade, comunidade, tempo espiralarAbstract
O texto apresenta uma conversa entre a professora Edna Olimpia da Cunha e o professor Wanderson Flor do Nascimento, realizada na histórica Pedra do Sal, no Rio de Janeiro, que discute a infância a partir das tradições africanas e dos modos de pensar dos terreiros. O diálogo aborda o tempo espiral e a figura de Exu, que, representado como uma criança, carrega a memória coletiva e brinca com o tempo, conectando passado e presente. Essa perspectiva rompe com visões lineares e ocidentais de infância, reconhecendo as crianças como manifestações vivas da ancestralidade. A noção de comunidade é central na conversa, sendo descrita como uma entidade histórica e relacional que antecede e sustenta o indivíduo. A educação, por sua vez, é abordada como um processo contínuo, relacional e coletivo, enraizado nas práticas comunitárias, na oralidade e na ética. Nos terreiros, a ancestralidade é vivida no presente, desafiando lógicas neoliberais e coloniais que fragmentam a coletividade e priorizam o individualismo. A professora e o professor destacam o papel político dos terreiros como espaços de resistência e formação, os quais integram tradição, pertencimento e transformação. As práticas valorizam a interdependência entre os membros da comunidade, criando modos alternativos de existir e educar. A continuidade desse modelo formativo, que questiona paradigmas hegemônicos, depende de um engajamento político e comunitário capaz de sustentar essas formas ancestrais de convivência, memória e formação.
Downloads
Riferimenti bibliografici
FU-KIAU, Kimbwandende Kia Bunseki. O livro africano sem título: cosmologia dos Bantu-Kongo. Tradução de Tiganá Santana. Rio de Janeiro: Cobogó, 2024.
MARTINS, Leda Maria. Afrografias da Memória: o reinado do Rosário do Jatobá. 2. ed. Belo Horizonte: Mazza; São Paulo: Perspectiva, 2021a.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
FLOR DO NASCIMENTO. Wanderson. Entre apostas e heranças: contornos africanos e afro-brasileiros na educação e no ensino de filosofia no Brasil. Rio de janeiro: NEFI, 2020.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
SANTANA, Tiganá. Temporalidades, história e memória. In: CARNEIRO, Natália et al. (orgs.) Insumo para ancoragem de memórias negras. São Paulo: Oralituras, Fundação Rosa Luxemburgo, Casa Sueli Carneiro, 2022. p. 43-53.
SANTOS, Antônio Bispo. Colonização, quilombos: modos e significados. 2. ed. Brasília: Ayó, 2019.
SOMÉ, Sobonfu. Welcoming spirit home: ancient African teachings to celebrate children and community. Novato, California: New World Library, 1999.