a infância e o (in)dizível: poder ubuesco, resistência e a possibilidade da justiça
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.56126Parole chiave:
infância, verdade, resistência, kynismos, direitos humanos, justiça.Abstract
O artigo, como parte de uma reflexão mais ampla em torno da crítica ao direito ao desenvolvimento e seu impacto nos modos de subjetivação jurídico-política de crianças e adolescentes, problematiza a condição da criança como sujeito sem fala, ou uma fala condicionada a critérios de maturação, ditados pelo referencial adulto, num campo, ademais, delimitado ao que se lhes repute pertinente à sua manifestação. Pautado pelo pensamento da exterioridade, retomamos o debate foucaultiano sobre a pertinência entre verdade e justiça, particularmente da indizibilidade monstruosa das práticas jurídicas e judiciárias, a partir da descrição ubuesca deste poder. Em transposições críticas, analisaremos, pelas contribuições do cinismo clássico (kynismos), apoiados em Foucault, Sloterdijk Nieheus-Pröbsting, as práticas resistentes - para além da linguagem- de crianças e adolescentes. Tratar-se-á, assim, de colocar a (in)dizibilidade no centro das disputas de poder para nos abrirmos, com Derrida, Rancière, Butler e também Foucault, a repensarmos vulnerabilidades, direitos humanos e a possiblidade da justiça. O texto se desenvolverá com os seguintes eixos de análise:1. Contextualizando o debate foucaultiano sobre verdade e justiça e o lugar do dizível; 2. A (in)dizibilidade no cerne do direito, da infância e da monstruosidade; 3. Poder ubuesco e resistência kynica;e 4. Para concluir: a criança e a possibilidade da justiça.
Downloads
Riferimenti bibliografici
Agamben, Giorgio. Enfance et histoire. Paris: Payot, 2002.
Bobbio, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro, Campus, 1992a.
Bourdieu, Pierre. La représentation politique. Éléments pour une théorie du champ politique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales. ano 1981,
Butler, Judith. Qué es la crítica? Un ensayo sobre la virtud en Foucault. Traducción de Marcelo Expósito e Joaquín Barriendos. 2001. Disponível em: http://eipcp.net/transversal/0806/butler/es. Acesso em: 15 out. 2019.
Butler, Judith. Notes toward a performative theory of assembly. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2015
Cambiano, Giuseppe. Tornar-se homem. In: Vernant, Jean-Pierre. O homem grego. Lisboa: Editorial Presença, 1994.
Costa, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 2017. v. 4.
Derrida, Jacques. Force de loi. Le ‘fondement mystique de l´autorité’. Paris: Galilée, 1994
Donzelot, Jacques. A polícia das famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
Ewald, François. L’État Providence. Paris: Éditions Grasset & Fasquelle, 1986. E-book
Fonseca, Márcio Alves da. Michel Foucault e o direito. São Paulo: Max Limonad, 2002.
Foucault, Michel. Dits et écrits (Ditos e escritos). Paris: Gallimard, 1994. 4 v.
Foucault, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: PUC-NAU, 1996.
Foucault, Michel. Le pouvoir psychiatrique. Paris: Gallimard, 2003.
Foucault, Michel. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
Foucault, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
Foucault, Michel. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011a.
Foucault, Michel. O governo de si e dos outros. São Paulo: Martins Fontes, 2011b.
Foucault, Michel. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
Foucault, Michel. L’archéologie du pouvoir. Paris: Gallimard, 2015a
Foucault, Michel. Les mots et les choses. Une archéologie des sciences humaines. Paris: Gallimard, 2015b
Foucault, Michel. Naissance de la clinique. Paris: PUF, 2015c.
Gil, José. Monstros. Lisboa, Relógio d´água. 2006
Golder, Ben. Foucault and the politics of rights. Stanford: Stanford University Press, 2015.
Jay, Martin. Downcast eyes. The denigration of vision in twentieth-century French thought. Berkeley, University of California Press, 1993
Laertios, Diogenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2. ed. Brasília, DF: UNB, 1987.
Lyotard, Jean-François. A condição pós-moderna. 5. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.
Lyotard, Jean-François. Le postmoderne expliqué aux enfants. Paris: Galilée, 2005.
Lyotard, Jean-François. Lectures d’enfance. Paris: Galilée, 1991.
Melo, Eduardo Rezende. Direito ao desenvolvimento: arqueologia de um dispositivo na subjetivação de crianças e adolescentes. São Paulo: Intermeios, no prelo
Niehues-Pröbsting, Heinrich. Der Kynismus des Diogenes und der Begriff des Zynismus. 2ª edição, München, Suhrkamp Verlag, 2016
Nuzzo, Luciano. Il mostro di Foucault. Limite legge, eccedenza. Milano: Meltemi editore, 2018.
Rancière, Jacques. Au bords du politique. Paris: Gallimard, 2012.
Rancière, Jacques. Le maître ignorant. Cinq leçons sur l´émancipation intellectuelle. Paris: Fayard, 1987.
Sloterdikj, Peter. Crítica da razão cínica. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2012.
Stüssi, Anna. Erinnerung an die Zufunft. Walter Benjamins “Berliner Kindheit um Neunzehnhundert”. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1977.