da libertação à prática do cuidado a filosofia educacional de ann margaret sharp

Résumé

Este artigo pretende analisar de maneira crítica a filosofia educacional de Ann Margaret Sharp (1942-2010), cofundadora com Matthew Lipman da proposta filosófico-educacional conhecida como “Filosofia para Crianças” (Philosophy for Children). A visão filosófica de Sharp, que ainda não foi suficientemente estudada e analisada, depende de uma junção inovadora entre prática educacional, libertação intelectual e cuidado relacional. A primeira parte do artigo esclarece em que sentido, antes de conceber a Filosofia para Crianças com Lipman, Sharp se aproveitou de insights nietzschianos que ela desenvolveu de forma criativa para alcançar a libertação de crianças e professores. Essa transformação relaciona-se com a reavaliação para fins formativos e existenciais de conceitos e práticas, como a sublimação e o sofrimento, que a educação tradicional desconsidera ou rejeita. A segunda parte enfoca a contribuição de Sharp para o desenvolvimento da Filosofia para Crianças a partir da década de 1970. A esse respeito, observou-se primeiramente que Sharp integrou suas reflexões nietzschianas, as quais ainda estavam pautadas na centralidade do indivíduo (tanto discente como docente), com um olhar mais comunitário e relacional, que contribuiu de maneira única para o desenvolvimento do cerne teórico-prático da Filosofia para Crianças, ou seja, a dinâmica dialógica conhecida como “Comunidade de investigação filosófica”. Em segundo lugar, detalhou-se a visão de Sharp acerca do cuidado relacional e do chamado “caring thinking”, que se tornou um dos cernes dessa prática filosófica, assim como das atividades formativas relacionadas. Por fim, evidenciou-se como, do ponto de vista geral, a interseção com o cuidado contribui para o ulterior esclarecimento conceitual e prático da inovação educacional da Filosofia para Crianças.