estar à escuta: música e docência na educação infantil
DOI :
https://doi.org/10.12957/childphilo.2019.43941Mots-clés :
música, escuta, educação infantil, jean-luc nancyRésumé
O ensaio aproxima estudos em torno da dimensão poética da linguagem para abordar a relação entre docência na educação infantil e experiência de estar à escuta como modo estésico de coexistir no mundo. A aproximação entre filosofia, artes e educação infantil, desde o encontro entre e música e educação, sublinha que a escuta é o som do sentido e não o sentido do som a ser interpretado. A interlocução com o pensamento de Jean-Luc Nancy, ao permitir afirmar que o sentido sensível suscita o sentido sensato ou inteligível e o faz num movimento constante que não se completa ou finaliza produzindo uma significação ou uma informação, emerge como resistência filosófica ao privilégio do registro teórico fundado na primazia ocidental do modelo óptico. Estar à escuta implica a ressonância como o som do sentido, como profundidade primeira ou última do corpo. A música como jogo entre som e ruído, como produção poética de ordenação de sentidos sonoros provocados pela ressonância – como gesto de escutar a escuta, contribui para interrogar a educação de bebês e crianças pequenas a partir de um corpo que pode brincar com a sonoridade do mundo para viver a poética do barulhar como potência musical de jogar com sons e ruídos. O apetite sonoro das crianças as convocam a barulhar pela estesia de escutar o mundo na pluralidade da coexistência. O gesto de estar à escuta na docência com bebês e crianças pequenas aponta para ações educativas que consideram a experiência constituinte de ressonâncias e reverberações de sentidos imbricamos no som, um sentir se sentir (aisthesis), como partição e partilha das vozes, dos signos, dos gestos, das formas, do sentido sentido e do sentido sensato que nos situam sendo-uns-com-os-outros na coexistência mundana.
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