Jogar o jogo do mundo - a escola e os modos de subjetivação

Autori

DOI:

https://doi.org/10.12957/sustinere.2025.92912

Parole chiave:

Psicologia, Escola, Afeto, Modos de subjetivação, Governamentalidade

Abstract

Iniciamos o artigo colocando em questão a psicologização das práticas escolares e os efeitos da racionalidade neoliberal na produção de subjetividades, questionando a centralidade das explicações psicológicas individualizantes no cotidiano educacional. Apresentamos algumas considerações em torno do método, destacando componentes que manejamos no procedimento da pesquisa-intervenção cartográfica com vistas à suspenção do julgamento, criando condições para a emergência de experiências singulares no campo da educação, num modo de vida outro. Tendo o jogo como dispositivo de abertura a um tempo experimental nas práticas de formação de psicólogas/os e na atuação com psicologia na escola, dialogamos com contribuições da filosofia da diferença buscando evidenciar dimensões no jogo do mundo. O dispositivo é apresentado como estratégia de intervenção que tensiona a lógica funcionalista e produtivista da escola neoliberal. Jogar é compreendido como prática micropolítica e transgressora, que potencializa processos de criação, encontros e afetos, desestabilizando modelos fixos de subjetivação. Seguimos abordando o afeto como privilegiado operador de análise do modo de governar neoliberal indicando rebatimentos no chão da escola e no mundo do trabalho. Recorremos às contribuições de Espinosa e da filosofia da diferença para compreender o afeto como potência relacional, capaz de ampliar ou reduzir a capacidade de ação dos sujeitos. O afeto como força presente nas práticas educativas, atravessa discursos normativos e dispositivos de controle. Concluímos insistindo na análise micropolítica das práticas como aposta de criação de outras ambiências provedoras da criação e do cultivo de processos de (des)subjetivação.  

Biografie autore

Katia Faria de Aguiar, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Possui Graduação em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula (1981), Mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1990), Doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002), Pós Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional / UERJ, Pós Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana / UERJ. Atualmente é Professora Associada da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, nos campos da educação, saúde e assistência. Desenvolve pesquisas e intervenções, numa perspectiva micropolítica, com interesse na produção de subjetividades nos processos de formação e de gestão e no diálogo com trabalhadores sociais e organizações populares. Integra a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) e da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Foi integrante e coordenadora do Laboratório de Subjetividade e Política (LasP/UFF), atualmente vice-líder do Núcleo de Estudos e Intervenção em Trabalho, Subjetividade e Saúde (NUTRAS) e pesquisadora vinculada ao Grupo de Pesquisa: Produção de Subjetividade e Estratégias de Poder no Campo da Infância e da Juventude/UERJ. Integrou a rede internacional Alianza por un Mundo Responsable, Plural y Solidario (1998-2007), o Núcleo de Educação do Conselho Regional de Psicologia/RJ, o Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade e organizações do Movimento Nacional da Economia Solidária, como o Fórum Nacional EcoSol e a Rede de Tocas Solidárias. É atual Presidente da CAPINA cooperação e apoio a projetos de inspiração alternativa, ONG que atua no apoio e assessoria a organizações de movimentos sociais no campo da economia dos setores populares desde 1988. Publicou artigos acadêmicos, textos técnicos e coorganizou os livros: Economia dos setores populares sustentabilidade e estratégias de formação (OIKOS), Distintas faces da questão social: desafios para a psicologia (ABRAPSO) e dossiês de Colóquios Internacionais - Michel Foucault: a judicialização da vida.

Geisa de Oliveira Loureiro, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Possui graduação em psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2012), especialização em Psicologia Jurídica pela UERJ e Psicopedagogia pela AVM- Universidade Candido Mendes. Atualmente é psicóloga - secretaria municipal de educação da Prefeitura Municipal de Itaguaí. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia e Educação, Psicologia e Direitos Humanos; Psicologia e Direito da Criança e Adolescente.

Elissandra Ângelo de Vasconcelos Junqueira, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Possui graduação em psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Formação em Bacharel e Licenciatura em Educação Religiosa pelo Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER). Pós graduada Latu sensu em Educação Infantil pela UFRRJ. Participou como pesquisadora do grupo de pesquisa Trabalho Docente no Ensino Superior (UERJ), sobre a orientação da professora Deise Mancebo. Possui experiência profissional como docente do Ensino fundamental I e atualmente trabalha como Psicóloga Escolar na SMEDU de Itaguaí e como Assessora de Educação Especial e Diversidade na SMEEL de Mangaratiba.

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Pubblicato

2025-09-16

Come citare

Aguiar, K. F. de, Loureiro, G. de O., & Junqueira, E. Ângelo de V. (2025). Jogar o jogo do mundo - a escola e os modos de subjetivação. Revista Sustinere, 13, 89–110. https://doi.org/10.12957/sustinere.2025.92912