“Essa criança tem alguma coisa”: um estudo sobre os processos de psicopatologização de estudantes em uma escola da rede pública de Fortaleza
DOI:
https://doi.org/10.12957/sustinere.2025.92910Keywords:
Psicopatologização da infância, Inclusão escolar, Psicanálise, Análise InstitucionalAbstract
O presente trabalho nasce a partir da experiência na Pesquisa-Intervenção: “Saúde Mental na infância e na adolescência nos contextos da educação e da intersetorialidade em saúde”, realizada em escolas da rede municipal de ensino de Fortaleza com o objetivo de discutir os desafios nos processos de inclusão de crianças e adolescentes. Entre os anos de 2023 e 2024, foram realizadas rodas de conversa e supervisões de caso com um grupo de funcionários composto majoritariamente por professores de uma escola de Ensino Fundamental I e II. Utilizando os referenciais teóricos da Análise Institucional e da Psicanálise, buscou-se discutir os analisadores que surgiram no trabalho em grupo e decompô-los em processos. Dessa forma, percebeu-se a prevalência de um processo de psicopatologização a partir de uma lógica medicalizante que atravessa a experiência escolar de alunos que não se adequam aos padrões de normalidade instituídos. No texto aqui proposto, são apresentados esses processos e a prevalência do discurso psiquiátrico nos processos de ensino e formas de subjetivação de alunos, professores e ainda na relação entre as famílias e as escolas. Concluiu-se que a atual política de inclusão tem funcionado de modo a institucionalizar alunos com deficiência mantendo-os excluídos simbolicamente, visto que não propõe uma mudança no cerne do projeto político e pedagógico da escola.
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