CONVERSAS COMPLICADAS NO ENSINO DE QUÍMICA: MANIFESTO POR UM CURRÍCULO [MARIELLE] “FRANCO”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/riae.2023.73679

Palavras-chave:

ensino de química, antirracismo, currículo franco, Marielle Franco.

Resumo

Neste ensaio objetivamos conversar, complicadamente, sobre possíveis deslocamentos teórico-conceituais necessários à transgressão das universidadescolas, na defesa de uma química antirracista, dada as repercussões, os assassinatos, o genocídio da população brasileira, sobretudo, preta e indígena. Assim, nos propomos a (re)pensar a educação a partir de um currículo franco – fazendo alusão à Marielle Franco –, o que requer que a instância democrática esteja forte. Considerando isso, lançamos o manifesto por um currículo franco, que tem gente, que tem voz, que tem a ousadia da existência. Apoiados nos escritos pós-coloniais e partindo para o sul global, reafirmamos a importância de enegrecermos os currículos, as universidadescolas e a química, para adiarmos os fins que estão postos em prática. Concluímos nos posicionando em defesa da democracia, de uma política curricular plural e franca, de uma química multicultural, reafirmando os perigos de uma história única. Por isso há necessidade de um currículo franco, com a cara do Brasil, que respeite e valorize os conhecimentos dos povos africanos, afro-brasileiros e indígenas, para (re)inventarmos a Química e o seu ensino.

Biografia do Autor

Franklin Kaic Dutra-Pereira, Universidade Federal da Paraíba

Curioso por ter Licenciatura em Química (2014 - CES/UFCG) e em Pedagogia (UNICSul - 2022). Tornou-se um dos Doutores mais jovem do Brasil, aos 26 anos, em Ensino de Ciências e Matemática em tempos de não-Ciência (2019 - PPGECM/UFRN). Pesquisa currículo queers e francos, narrativas da vida, conversas e invenções nas/das Ciências/Química na perspectiva da Educação antipatriarcal, anticolonialista [e mais algumas coisas que tenho prazer] a partir das pós-estruturas do conhecimento. Professor de Ensino de Química do Departamento de Química do CCEN/UFPB. Líder do Ateliê de Pesquisa Inventivas (AdPI/UFPB). Membro do GEPPC/UFPB. Fundador e Membro do RESSONAR/UFRB. "Adia o fim do mundo" e vive "sem medo de ser feliz" porque o "amanhã há de ser outro dia" chegou, pois começamos a "brilhar como uma estrela". Por ser colorido e desimpedido, militante e defensor do movimento e das pessoas LGBTTQIA+. Acredita num futuro melhor para a Universidade Pública e as Ciências no Brasil, na reconstrução e retomada da Democracia, sobretudo na Educação Científica, num país longe de fascistas, xenófobos, juízes parciais, bolsonaristas, terraplanistas, conservadores, e LGBTTQIA+fóbicos. franklin.kaic@academico.ufpb.br ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4486-6124

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Publicado

20-11-2023

Como Citar

DUTRA-PEREIRA, Franklin Kaic. CONVERSAS COMPLICADAS NO ENSINO DE QUÍMICA: MANIFESTO POR UM CURRÍCULO [MARIELLE] “FRANCO”. Revista Interinstitucional Artes de Educar, [S. l.], v. 9, n. 2, p. 221–241, 2023. DOI: 10.12957/riae.2023.73679. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/riae/article/view/73679. Acesso em: 10 dez. 2024.

Edição

Seção

DOSSIÊ - 20 ANOS DA LEI 10.639: CONVERSAS CURRICULARES ENTRE SABERES, PRÁTICAS E POLÍTICAS ANTIRRACISTAS