SEMANAS PEDAGÓGICAS DE 2025: TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO PRECISA DE MAIS DIÁLOGO E MENOS PROMOÇÃO
Autoria: Glaucia da Silva Brito
As semanas pedagógicas, geralmente realizadas no início e no meio do ano letivo, são eventos organizados por instituições de educação básica e superior com o objetivo de promover a formação continuada dos profissionais da educação, motivar o início do semestre e aprimorar a qualidade do ensino. Destaco que os três objetivos, geralmente são mencionados por gestores de instituições educacionais para justificar a realização da semana pedagógica. Estes gestores não escutam as necessidades dos seus docentes para a semana pedagógica, esta escuta, para Brito; Purificação (2024, p. 50) se faz necessário para se “criar espaços em que a voz do professor seja ouvida e suas necessidades consideradas” em atividades que são planejadas para eles, mas isto não ocorre.
Não há um registro que aponte o início das semanas pedagógicas no Brasil, portanto é uma prática que se desenvolveu ao longo do tempo, com contribuições de diversos educadores e instituições. Silva (2022, p. 1) nos apresenta uma descrição das visitas técnico-pedagógicas de Pierre Faure para ministrar “as Semanas Pedagógicas que ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente nos anos de 1955 e 1956”. Segundo a autora
A primeira semana pedagógica ocorreu nos dias 8 e 12 de julho de 1955 no Colégio Sacré Coeur1, na capital do Rio de Janeiro, e foi ministrada por Pierre Faure. Esta semana de formação teve com objetivo oferecer aos educadores, principalmente aos educadores religiosos, a oportunidade de debaterem sobre questões relacionadas às perspectivas novas de Educação Católica. (Silva, 2022, p 4)
Analisando o texto de Silva (2022), é possível identificar os três objetivos de uma semana pedagógica: 1. Promover a formação continuada dos profissionais que trabalham nessas instituições: O evento, em 1955, foi organizado com o propósito principal de oferecer aos educadores, especialmente aos religiosos, uma oportunidade de debater novas perspectivas para a educação católica. A semana foi estruturada em cinco temas principais: Condições de uma Pedagogia Cristã, Tomada de Consciência, A Formação do Espírito, A Formação Religiosa nas Diferentes Idades e O Despertar do Sentido Social. Temas que apontam para a formação continuada do corpo docente da instituição; 2. Contribuir para motivar o início do semestre: Embora o texto não mencione diretamente a intenção de motivar o semestre letivo, a estrutura do evento, que incluía palestras e discussões sobre novas abordagens pedagógicas, pode ter servido para engajar e inspirar os professores. O evento, também, promoveu a reflexão sobre o papel do educador e a renovação das práticas educativas; 3. Melhorar a qualidade do ensino oferecido: A proposta de Pierre Faure incluía um debate sobre a necessidade de reformar o ensino por meio de novos métodos, adaptando-os às necessidades dos alunos. Ele enfatizava que mudanças nos métodos educacionais deveriam ser fundamentadas filosoficamente para serem eficazes. Trouxe uma abordagem para se avançar na pesquisa de métodos autênticos e eficazes para melhorar a educação.
Apesar das diferenças de contexto e tempo entre as semanas pedagógicas contemporâneas e a de Pierre Faure, os três objetivos mencionados podem ser identificados na semana pedagógica descrita por Silva, ou seja, continuamos a propor semanas pedagógicas com os mesmos objetivos de 1955. Com o avanço acelerado das tecnologias, as semanas pedagógicas de 2025 se tornaram um palco para a disseminação de modismos, promoção, vendas de equipamentos e discursos que nem sempre estão alinhados com a realidade das escolas, ou seja, durante as semanas pedagógicas, os professores são apresentados a novas ferramentas (adquiridas pela gestão no período de férias) e metodologias digitais como soluções definitivas para problemas da educação, sem uma análise crítica sobre sua viabilidade e aplicabilidade nos diferentes contextos escolares.
As semanas pedagógicas precisam promover um diálogo mais crítico e contextualizado sobre o uso das tecnologias na educação. Em vez de adotar discursos utópicos ou modismos passageiros, é necessário que as palestras e oficinas levem os educadores a refletirem sobre como as ferramentas digitais podem ser integradas de maneira significativa e sustentável ao currículo, considerando as particularidades de cada escola e comunidade.
A integração das tecnologias na educação não é um processo simples, pois, como apontam Scherer e Brito (2020, p. 7), muitas vezes se confunde "integrar tecnologias com inserir tecnologias" na escola. Essa confusão continua sendo reforçada nas semanas pedagógicas de 2025, que continuam priorizando o domínio técnico das ferramentas digitais em detrimento da análise crítica de seu impacto pedagógico e social, que passam pelas constatações de Postman (1994, p 29) pois a tecnologia permeia nosso cotidiano de maneira profunda, e “alteram a estrutura de nossos interesses: as coisas sobre as quais pensamos. Alteram o caráter de nossos símbolos: as coisas com que pensamos. E alteram a natureza da comunidade: a arena na qual os pensamentos se desenvolvem” e isso tudo tem um impacto significativo na educação, mas também pode gerar expectativas desproporcionais sobre seu potencial transformador.
Para que as semanas pedagógicas realmente se tornem espaços de construção coletiva do conhecimento, nos quais gestores e docentes dialoguem ativamente, mais do que apenas apresentar novas ferramentas, esses momentos devem incentivar reflexões sobre práticas pedagógicas significativas, promovendo a integração crítica e contextualizada das tecnologias. Do contrário, corremos o risco de perpetuar as semanas pedagógicas fragmentadas, que reforçam tendências passageiras sem, de fato, impactar a educação nas escolas.
Referências
BRITO, Glaucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e novas tecnologias: um repensar. 3.ed. Curitiba: Editora Intersaberes, 2024.
SCHERER, Suely.; BRITO, Glaucia. da. Silva. Integração de tecnologias digitais ao currículo: diálogos sobre desafios e dificuldades. Educar em Revista, Curitiba, v. 36, e76252, 2020. https://doi.org/10.1590/0104-4060.76252
SILVA, Daniele Hungaro da. As visitas técnico-pedagógicas de Pierre Faure ao Brasil para a formação de professores. Cad. Hist. Educ., Uberlândia , v. 21, e110, 2022 . Disponível em <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-78062022000100019&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 jan. 2025. Epub 13-Set-2022. https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-110.
Sobre a autoria:
Glaucia da Silva Brito é professora Dra. Pesquisadora Sênior na Universidade Federal do Paraná atuando no programa de Pós-graduação em Educação (PPGE). Professora Dra. Pesquisadora no Centro Universitário UNINTER atuando no programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias(PPGENT). Pesquisadora, palestrante nos temas: Tecnologias na Educação, Educação a Distância, Formação dos professores, Inclusão Digital, Inteligência Artificial na Educação. Lider do Grupo de Estudos e Pesquisas Professor, Escolas e Tecnologias Educacionais (GEPPETE)
Como citar este artigo:
BRITO, Glaucia da Silva. Semanas Pedagógicas de 2025: Tecnologia na Educação Precisa de Mais Diálogo e Menos Promoção. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, fevereiro de 2025, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.