MEDIAÇÃO INSTRUMENTAL: uma perspectiva no Museu dos Dinossauros de Peirópolis, Uberaba-MG

2024-06-05

Autoria: Carolina Silva Sanches; Daniel Bovolenta Ovigli

Entendendo a Mediação Instrumental

No universo museológico ao qual nosso trabalho integra-se, Nascimento (2008, p.15) define o conceito mediação das seguintes formas:

1) ligação de uma forma estática entre o sujeito e os objetos; 2) transformação de significado atribuído pelos sujeitos a objetos de hierarquias diferentes e 3) transformação de significados a partir de ações do sujeito sociohistórico sobre os objetos das culturas.

Ao entendermos o conceito de mediação, partimos para a Mediação Instrumental, esta que, para Eidt e Tuleski (2010) está imbricada no processo histórico-cultural do homem, uma vez que nós satisfazemos nossas necessidades por meio de atividades e, consequentemente, dependemos sempre de instrumentos que fazem a mediação entre nós e o mundo. Os autores afirmam que (p.2) “a mediação age tanto sobre o instrumento de trabalho como sobre o indivíduo que a utiliza, modificando, dialeticamente, tanto a natureza quanto o próprio homem”.

Os autores Peixoto e Carvalho (2012) discorrem que o objeto/instrumento só se torna capaz de ser mediador ao ser inserido em uma situação. Em concordância com Rabardel (1995), os autores explicam que este objeto/instrumento compõe-se de duas estruturas. A primeira é a estrutura psicológica, capaz de organizar a atividade; a segunda estrutura é do próprio objeto, dos objetos materiais.

Na mediação instrumental tais estruturas se manifestam (p.32) “de forma intrinsecamente articulada enquanto símbolos, tais como os códigos, os símbolos e as representações”. Além disso, Peixoto e Carvalho (2012, p.32) complementam:

Então, um artefato torna-se instrumento assim que se torna mediador da ação para o sujeito. O artefato não é, em si, um instrumento ou componente de um instrumento; ele é instituído como instrumento pelo sujeito, que lhe atribui status de meio para atingir as finalidades de sua ação. E a apropriação é o processo pelo qual o sujeito reconstrói, por si mesmo, os esquemas de utilização de um artefato, no decorrer de uma atividade significativa para ele.

Entrelaçando a mediação instrumental para com as exposições museológicas, Marandino (2008) e Allen (2002) discorrem sobre as “conversas de aprendizagem” que acontecem nos museus entre os próprios visitantes. Dentre as conversas mencionadas pelos autores: perceptiva, estratégica, afetiva, conectiva e conceitual, há uma relevância nas conversas do tipo Perspectiva, em que os visitantes apresentam em suas falas uma atenção com os estímulos que os cercam, e isso ocorre principalmente com os objetos biológicos vivos, conservados ou com réplicas.

Para o presente trabalho, buscamos entender a Mediação Instrumental do Museus dos Dinossauros a partir de suas exposições por meio da Análise Semiológica de Roland Barthes.

O Museu dos Dinossauros

O Museu dos Dinossauros (MD) faz parte do Complexo Científico e Cultural de Peirópolis (CCCP) vinculado a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). A região de Peirópolis ganhou grande destaque com descobertas fósseis na década de 1940 e com os trabalhos e interesse do paleontólogo Llewellyn Ivor Price. Os próprios moradores da região mantiveram o museu por anos até a UFTM, em 2010, prosseguir com as pesquisas, extensões e conservação do museu. 

Atualmente, o MD abriga em sua coleção cerca de 4.000 espécies diferentes de grupos de fósseis, desde macrofósseis até microfósseis, geralmente sendo encontrados desarticulados e/ou fragmentados na região do Triângulo Mineiro. Apresentamos na figura 1 o fóssil em exposição do réptil Uberabasuchus terrificus, importante achado para a região do Triângulo Mineiro, para a universidade e para a paleontologia – peça em que fora analisada na pesquisa em questão. (RIBEIRO et al., 2012).

                                                         Figura 1: Peça expositiva Uberabasuchus terrificus

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                                                                             Fonte: Dos autores (2024)

Exposições e o Museu dos Dinossauros: uma análise semiológica

Para analisarmos as mediações do MD, além de frequentes visitas ao espaço, fora necessário fotograr cada peça expositiva com a intenção de trazer ao trabalho fidelidade para com o museu e pesquisa. E com isso, a fotografia se apresenta como importante recurso tecnológico que contribui nos registros das observações (BELEI et al., 2008).

Com a Análise Semiológica de Roland Barthes, conseguimos encaixar as imagens das exposições de acordo com as Mensagens propostas pelo autor, sendo elas: 

  1. Mensagem Linguística: esta mensagem é encarregada pelo autor da imagem, no qual ele direcionará o que deseja que seus interlocutores compreendam, evitando que ocorra uma proliferação de sentidos;
  2. Mensagem Icônica Codificada: representa o primeiro olhar das pessoas diante da imagem. É a compreensão literal da imagem, mas com o indivíduo imerso culturalmente, compartilhando o mesmo código com demais indivíduos;
  3. Mensagem Icônica Não Codificada: esta mensagem está para além da icônica codificada, sendo necessário tirar os significados por detrás da imagem. Neste tipo de mensagem é preciso que haja uma imersão cultural e um conhecimento mais específico diante do que a imagem representa. 

Desta forma, a Mediação Instrumental do Museu dos Dinossauros está presente com suas mensagens conforme a Semiologia de Barthes (1964), mas, tendem a deixar seus visitantes muito dependentes de conversas de aprendizagem com outros visitantes que conheçam mais sobre os assuntos expostos, ou que peçam, necessariamente, o auxílio de mediadores para obterem as informações necessárias para o entendimento dos conteúdos.

 As peças expositivas apresentam poucas mensagens linguísticas que direcionam o visitante a compreender, sozinho, os conteúdos necessários para obter uma visita com uma aprendizagem efetiva. Além disso, as informações mais amplas e complexas do museu estão limitadas em alguns espaços, ocasionando ao indivíduo esquecer tais informações ou até mesmo, não se questionar quando observar outra parte da exposição. Somado a isso, caso a visita seja de indivíduos leigos ou com pouco conhecimento sobre o tema, a visitação poderá ser mais contemplativa do que reflexiva e construtiva.

Como relatamos, as “conversas de aprendizagem” propostas por Allen (2002) são essenciais para uma aprendizagem adequada em museus de ciências, e mesmo que as identificamos nas análises das imagens, não são promovidas diretamente pela Mediação Instrumental das exposições. Pois, como afirma Marandino (2008), as exposições museológicas fazem parte da dimensão educativa do museu e precisam promover e instigar seus visitantes.

Os visitantes, em sua maioria, quando vão ao museu e durante sua visita desenvolvem estratégias e diálogos para compreenderem as exposições (BIZERRA; MARANDINO, 2014), contudo, com uma Mediação Instrumental com pouca interatividade, pouco diálogo entre suas peças, com um discurso expositivo escasso, consequentemente levará a pouca reflexão por parte do indivíduo.

Referências:

ALLEN, Sue. Looking for Learning in Visitor Talk: a methodological exploration. In: LEINHARDT, G.; CROWLEY, K.; KNUTSON, And K.. Learning Conversations in Museums. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates, 2002. p. 259-303. Disponível em: <https://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.453.4511&rep=rep1&type=pdf>. Acesso em: 18 mai. 2021.

BARTHES, Roland. Aula. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1982. 47 p. Tradução de Leyla Perrone-Moisés.

BELEI, Renata Aparecida, et al. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação, Pelotas, RS, v. 30, n. 1, p. 187-199, jun. 2008. 

BIZERRA, Alessandra; MARANDINO, Martha. Mediação em museus de ciências: contribuições da Teoria Histórico-Cultural. Museologia & Interdisciplinaridade, v. 3, n. 5, p. 113-130, 2014.

EIDT, Nadia Mara; TULESKI, Silvana Calvo. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e psicologia histórico-cultural. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 40, n. 139, p. 121-146, abr. 2010. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/s0100-15742010000100007>. Acesso em: 17 mai. 2021.

MARANDINO, Martha. Ação educativa, aprendizagem e mediação nas visitas aos museus de ciências. In: MASSARANI, Luisa (Ed.). Workshop Sul-Americano & Escola de Mediação em Museus e Centros Ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/ Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz, 2008. p. 23-29.

NASCIMENTO, Silvania Sousa do. O corpo humano em exposição: promover mediações sócio-culturais em um museu de ciências. In: MASSARANI, Luisa (Ed.). Workshop Sul-Americano & Escola de Mediação em Museus e Centros Ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/ Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz, 2008. p. 13-21.

PEIXOTO, Joana; CARVALHO, Rose Mary Almas de. Mediação pedagógica midiatizada pelas tecnologias? Teoria e Prática da Educação, [S.I.], p. 31-38, 2012. Disponível em: <https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/15671/8499>. Acesso em: 17 mai. 2021.

RABARDEL, Pierre. Les hommes et les Technologies; approche cognitive des instruments contemporains. Armand Colin, p. 239, 1995. Disponível em: https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01017462/document. Acesso em: 17 mai. 2021.

RIBEIRO, Luis Carlos Borges et al. O patrimônio paleontológico como elemento de desenvolvimento social, econômico e cultural: centro paleontológico price e museu dos dinossauros, peirópolis, uberaba (mg). Paleontologia: Cenários da Vida, [s. l], v. 4, n. 1, p. 765-774, 2011. Disponível em: <https://tinyurl.com/35ajujdy>. Acesso em: 18 mai. 2021.

Sobre a autoria:

l0qHyId.jpeg Carolina Silva Sanches é Mestra em Educação e licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Atua como professora da Educação Básica na cidade de Ribeirão Preto/SP, nas áreas de ciências e biologia.

6fnsBcR.jpeg Daniel Bovolenta Ovigli é Doutor em Educação para a Ciência pela Unesp, mestre em Educação (Ensino de Ciências e Matemática) pela UFSCar e licenciado em Ciências Exatas pela USP. Professor e pesquisador na área de Educação em espaços não formais junto à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em Uberaba/MG.

Como citar este artigo: 

SANCHES, Carolina Silva; OVIGLI, Daniel Bovolenta. MEDIAÇÃO INSTRUMENTAL: uma perspectiva no Museu dos Dinossauros de Peirópolis, Uberaba-MG. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, junho de 2024, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.

Editores/as Seção Notícias:

Frieda Maria Marti, Felipe CarvalhoEdméa SantosMarcos Vinícius Dias de Menezes e Mariano Pimentel