Museus de Ciências e Docência: Educação Museal e relações no contexto da cibercultura

2024-05-10

Autoria: Aline Lopes Soares Pessoa de Barros

Os estudos de público apontam que a cada ano professores e alunos do ensino fundamental e médio, bem como estudantes das Licenciaturas visitam museus de diferentes tipologias, priorizando exposições e ações educativas oriundas dos museus de história, museus de história natural e dos museus de ciências. Visitas essas, muitas vezes condicionadas ao desenvolvimento do currículo escolar e ao fortalecimento das ações de formação de futuros professores.

De um modo geral, a relação dos museus com o público se desenvolve por meio de ações presenciais em seus espaços e, em muitos casos, através de ações itinerantes que vão ao encontro do público, uma vez que os museus se concentram nas capitais e, nestas, nas regiões centrais da cidade. Ocorre que, mesmo com o aumento do número de museus e outros equipamentos culturais, pesquisas apontam que a falta de conhecimento do público, a distância para o deslocamento e a própria inexistência desses espaços em determinadas regiões, ainda se apresentam como barreiras de acesso.

Destarte, com o avanço da cultura digital imposta pelas demandas contemporâneas, observa-se o crescente movimento dos museus na incorporação de estratégias de hiperconexão em redes com a sociedade, de modo a dispor camadas de conteúdo audiovisual, textual e imagético, por meio de hipertextos e hashtags.

Reconhecer esse movimento nos/dos museus em direção aos meios digitais, nos impeliu a compreender como esses espaços têm se apropriado do contexto da cibercultura como elemento mediador de ações educativas e das possibilidades de comunicação mais participativas com (e de) seus públicos, em especial com o público docente. O estudo deu origem a uma pesquisa de mestrado, inserta no campo das ciências sociais, tendo como pano de fundo os pressupostos da Educação Museal e da Divulgação Científica mediadas por Tecnologias Digitais em Rede (BARROS, 2022).

Esse novo cenário sociotécnico impõe oportunidades e desafios às escolas, universidades e museus, que diante do fenômeno da cibercultura se deparam com o dilema de se (re)inventarem para se adaptar ao novo contexto comunicacional na Internet. Assim, foi primordial a reflexão em torno do discurso de que a comunicação na Web 2.0 libera o polo da emissão, propiciando a interação e autorias dos usuários que, no contexto da mídia de massa, eram apenas receptores da mensagem (SANTOS, E., 2011, p. 77).

Os estudos de Angelina Russo e outros autores (2010) relatam que, embora as mídias na Web 2.0 propiciem a relação muitos-para-muitos, sua utilização não tinha representado um impacto significativo aos modelos de comunicação nos museus, porque essas instituições seguiam fundamentalmente unidirecionais. A referida pesquisa nos levou a refletir se o conceito muitos-para-muitos permanecia de modo incipiente na relação museu e cibercultura, tendo em vista que muitos museus passaram a atuar no ambiente on-line.

Nesse contexto, o estudo buscou responder às seguintes questões: como museus de ciências dialogam com docentes, estudantes das Licenciaturas e dos cursos de formação de professores em nível médio, no contexto da cibercultura? As relações entre museus de ciências e o público docente são potencializadas pelas redes sociais?

Partimos do postulado empírico que os museus estariam dialogando com os visitantes, inclusive com docentes e professores em formação, por meio das tecnologias digitais em rede (TDR), especialmente pelas redes sociais, considerando a linha tênue que separa as dimensões da educação e da comunicação nos museus.

Nosso objetivo consistiu em investigar como se constituem as relações entre os museus de ciências e os docentes, estudantes das Licenciaturas e professores em formação em nível médio, no contexto da cibercultura. Como objetivos específicos:
a) Compreender as formas possíveis de relações tecidas por docentes da educação básica e superior com museus de ciências no contexto das redes sociais;

b) Analisar iniciativas de colaboração entre docentes, estudantes das Licenciaturas e professores em formação em nível médio, no contexto de ações educativas museais face à cibercultura;

c) Investigar quais implicações essa relação vai trazer para os sujeitos (docentes, museus e escola).

Nesse sentido, buscamos adentrar o referencial teórico para compreensão da Educação Museal Online e realizamos ainda o levantamento de trabalhos acadêmicos brasileiros em diferentes plataformas digitais.

Como metodologia, a pesquisa foi orientada pela aproximação entre as abordagens quantitativas e qualitativas. Utilizamos a perspectiva dialética como método de investigação e análise e para tratamento do material empírico, o recurso da Análise Textual Discursiva (ATD), integrada a outras abordagens.

As etapas do estudo compreenderam: revisão bibliográfica e documental; aprofundamento teórico; levantamento exploratório - na plataforma Museusbr, no Guia dos Museus Brasileiros e nas redes sociais do Facebook e Instagram - para definição do campo empírico, delimitação dos sujeitos da pesquisa; e coleta, análise e discussão dos dados. As técnicas de pesquisa utilizadas foram: a enquete, o questionário e as entrevistas, respectivamente, por meio das plataformas Microsoft Forms e o Teams. Como campo empírico, a pesquisa elencou três museus do Rio de Janeiro.

O projeto inicial tencionava ouvir tanto a educadores de museus quanto a docentes e professores em formação inicial na educação formal. Também previa um horizonte temporal compreendido entre os anos de 2015 e 2019. Contudo, atravessados pelos efeitos da pandemia de Covid-19, que permeou as narrativas dos sujeitos, a escuta ficou circunscrita aos atores nos/dos museus e o recorte temporal aos anos de 2020 e 2021.

Com o questionário, o objetivo era levantar as concepções dos profissionais dos museus quanto à dimensão educativa da instituição em que atua, bem como as ações que são desenvolvidas com/para o público docente e professores em formação. Recebemos retorno de dez participantes e usamos as etapas de categorização da ATD para dissecar o texto formado por esse corpus acumulado entre as duas questões abertas, a partir das vozes dos sujeitos. No tratamento dos dados nesta etapa, delimitamos uma nova amostra com cinco participantes.

Realizamos cinco entrevistas, todavia seguimos com a pesquisa pautada no depoimento de quatro sujeitos. Mais uma vez, utilizamos a metodologia da ATD que conduziu o estudo à caracterização de sete categorias iniciais.

Ato contínuo, elencamos uma palavra-chave para cada unidade de significado, cujo processo de extroversão resultou em vinte e nove categorias intermediárias emergentes, cuja síntese culminou em sete categorias finais.

Assim, uma vez definidas as categorias finais, iniciamos o processo de explicitação de relações entre elas no sentido de construção da estrutura do metatexto. “Navarro e Diaz (1994) denominam metatextos as expressões escritas que resultam das descrições e interpretação, a partir das categorias” (MORAES; GALIAZZI, 2020, p. 111).

Como explicitado inicialmente nesse texto, o presente estudo produziu uma dissertação de mestrado que nos levou a identificar um fenômeno que denominamos por “transposição cibercultural”, o qual reforça as contradições no discurso de que os museus de ciências estariam dialogando com docentes e professores em formação no contexto da cibercultura.

Considerando a histórica relação museu-escola/universidade- professor(a) e a patente influência da cultura digital no cotidiano social, entendemos ser relevante avançar no aprofundamento desta temática e
contribuir com campo da Educação Museal Online (Marti 2021).

Referências:

BARROS, A.L.S.P. Museus de ciências e docência: educação museal e relações no contexto da cibercultura / Aline Lopes Soares Pessoa de Barros. 2022. 356 f.

MARTI, Frieda Maria. A Educação Museal Online: uma ciberpesquisa-formação na/com a seção de assistência ao ensino (SAE) do Museu Nacional-UFRJ. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educação, 2021, 298f.

MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. 3. ed. Ijuí (RS): Ed. Unijuí, 2020. (Coleção educação em ciências). E-book.

SANTOS, E. A Cibercultura e a Educação em Tempos de Mobilidade e Redes Sociais: conversando com os cotidianos. In: FONTOURA, Helena Amaral; SILVA, M. (eds). Práticas Pedagógicas, Linguagem e Mídias: desafios à Pós- graduação em Educação em suas múltiplas dimensões. Rio de Janeiro: ANPEd Nacional, 2011. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4580963/mod_resource/content/1/ebook

Sobre a autoria:

WWlpgn7.gif Aline Lopes Soares Pessoa de Barros é mestre em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde (PPGDC/Fiocruz) com ênfase na relação entre museus de ciências e a formação docente, especialmente no contexto da cibercultura. Especialista em Gestão da Saúde e Administração Hospitalar (Estácio de Sá) e graduada em Administração (UFRRJ). Educadora museal e entusiasta da Divulgação e Popularização da Ciência desde 2017, tem experiência nas ações de formação com estudantes e professores, no acolhimento do público, na produção técnica dos dados de visitação e na coordenação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Participa dos grupos de pesquisa: Educação Museal, Mediação e Museus de Ciência: perspectivas plurais e Educação Museus de Ciências e seus Públicos, ambos ligados ao Museu da Vida Fiocruz. Coordena o projeto Meninas Negras na Ciência (2020-2023) e, atualmente, coordena o Serviço de Apoio à Gestão, Infraestrutura e Operações no Museu da Vida Fiocruz.

Como citar este artigo: 

BARROS, Aline Lopes Soares Pessoa de. Museus de Ciências e Docência: Educação Museal e relações no contexto da cibercultura. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, maio de 2024, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.

Editores/as Seção Notícias:

Frieda Maria Marti, Felipe CarvalhoEdméa SantosMarcos Vinícius Dias de Menezes e Mariano Pimentel