INOVAÇÃO, INTEGRAÇÃO CULTURAL E INCLUSÃO: O PAPEL DAS NOVAS GERAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE UM FUTURO EQUITATIVO

2024-01-16

Autoria: Judá Nunes Rocha

INTRODUÇÃO

No complexo cenário do século XXI, caracterizado pela crescente globalização, avanços tecnológicos (CARVALHO, 2021) e uma profunda inter e hiper conexão entre culturas, emergem desafios e oportunidades únicas que demandam uma reflexão atenta sobre o papel social inclusivo na condução de transformações sociais através das gerações millennials, Z e Alpha. Nesse contexto, a habilidade de ser sociável e lidar com as diversidades que surgem ao perfil padrão tornou-se não apenas crucial, mas imperativa para conduzir inovações em direção a um futuro globalmente equitativo. Em 2023, ao gerenciar projetos, deparei-me com uma tendência reveladora: as gerações mais jovens não apenas abraçam a inovação tecnológica, mas também demonstram uma marcada preocupação com questões sociais e ambientais. Este fenômeno permeia projetos de empreendedorismo e até mesmo a tomada de decisões em negócios tradicionais, todos guiados por uma ética voltada à redução das desigualdades e à minimização do impacto social-ambiental negativo.

A ascensão das redes sociais como plataformas de comunicação e educação adquire um peso significativo, não apenas como veículos de disseminação de informações, mas, podem ser também, utilizados como instrumentos educacionais essenciais para o letramento socioambiental. Contudo, esse fenômeno não é isento de desafios, variando entre impulsos radicais desprovidos de embasamento teórico-prático e abordagens responsáveis, didáticas e verdadeiramente transformadoras. Dentro desse cenário, as gerações mais jovens se destacam como agentes capazes de impulsionar a transformação social e ambiental, graças ao seu perfil exploratório e notável habilidade de adaptação. Essa capacidade desempenha um papel crucial na mudança de paradigmas, instigando a demanda por um letramento social mais assertivo na sociedade contemporânea.

Contudo, essa transformação não ocorre isoladamente. As dinâmicas socioambientais do século XXI são complexas e demandam ação contínua, uma compreensão aprimorada das mudanças emergentes e uma decodificação tangível e estruturada para promover a inclusão da diversidade. 

Assim, surge um desafio: as gerações mais novas exigem que as mais velhas acompanhem não apenas o processo de aprendizado social contemporâneo, mas que participem ativamente dele.

EMPREENDEDORISMO E RESPONSABILIDADE SOCIAL

No contexto empresarial contemporâneo, as gerações millennials e Z emergem como catalisadoras de mudanças significativas no empreendedorismo, trazendo consigo uma abordagem única que incorpora valores de inclusão e responsabilidade social em suas práticas comerciais. Essas gerações, profundamente conectadas digitalmente e orientadas por uma consciência social aguçada, estão redefinindo as dinâmicas comerciais, influenciando o mercado e promovendo uma transformação nas abordagens empresariais.

Em contraste com abordagens anteriores que frequentemente priorizavam exclusivamente o lucro, as gerações millennials e Z estão introduzindo uma mudança paradigmática. Elas não veem a responsabilidade social corporativa apenas como uma obrigação moral, mas como um pilar fundamental da identidade empresarial. E como demonstrado pelos dados apresentados em um estudo pela Deloitte (2020), as empresas e empregadores devem realçar seus esforços como bons cidadãos globais para conquistar a Geração Z. Mais do que a qualidade dos produtos/serviços, a ética empresarial torna-se crucial. Ações que refletem compromisso com desafios sociais amplos, como sustentabilidade e mudanças climáticas, são essenciais. Ter uma ética forte não é suficiente; é vital demonstrar a aplicação consistente desses valores, tornando essa ação o destaque central da marca para atrair compradores e futuros funcionários da Geração Z. Ou seja, a ênfase agora está na criação de valor que vai além dos ganhos financeiros da empresa, estendendo-se para a contribuição positiva à sociedade e ao meio ambiente. Este é um movimento que transcende a visão convencional de que o sucesso de uma empresa é medido apenas por indicadores financeiros.

Como por exemplo, a Deloitte (2021) também mostrou que, para os millennials e a Geração Z, saúde e emprego são preocupações crescentes, mas a preocupação contínua com mudanças climáticas e meio ambiente persiste. Muitos acreditam que já ultrapassamos o ponto de retorno ambiental, embora a maioria ainda mantenha otimismo sobre o compromisso das pessoas em agir contra esses desafios, especialmente pós-pandemia. E ainda, Segundo Deloitte (2021), "seis em cada 10 membros da Geração Z e 56% dos millennials enxergam o racismo sistêmico como muito ou bastante difundido na sociedade em geral. Pelo menos um em cada cinco afirmou sentir-se discriminado pessoalmente "o tempo todo" ou frequentemente por causa de algum aspecto de suas identidades.

No contexto de pessoas trans e travestis, o preconceito e os estigmas surgem como principais obstáculos para acessarem livremente espaços formais, desde as unidades escolares formais básicas até o mercado de trabalho. O estigma enfrentado por essa comunidade no contexto do emprego formal, por exemplo, é um problema complexo que reflete a persistência de preconceitos embasados em uma concepção cultural equivocada de que não são capazes de desempenhar suas funções profissionais de maneira eficaz, o que muitas vezes leva à desvalorização de suas habilidades técnicas e experiências profissionais, mesmo quando são qualificadas. 

Considerando que à medida que as características se afastam do padrão estabelecido como normal, saudável, belo, produtivo, útil, independente e capaz (no caso, as não conformes aos padrões cisgêneros, não-brancos, não-héteros, e pessoas com deficiências), aumentam as possibilidades de sofrerem violências e enfrentar estigmas (MOREIRA; DIAS; MELLO; YORK, 2022), a importância da educação social se destaca ainda mais.    

Essa mudança na abordagem empresarial influenciada por uma educação social inclusiva demandada pelas gerações millennials  e Z  também impacta diretamente o mercado. Os consumidores estão cada vez mais exigentes, buscando marcas que não apenas ofereçam produtos ou serviços de qualidade, mas que também se alinhem com seus valores éticos e sociais. Essas gerações têm impulsionado um movimento intergeracional que exige transparência e responsabilidade por parte das empresas, forçando o mercado a se adaptar a uma nova realidade onde a ética e a responsabilidade social são diferenciais competitivos.

O PAPEL DAS REDES SOCIAIS NA INCLUSÃO

No atual cenário globalizado, as redes sociais desempenham um papel central na promoção da educação inclusiva, sendo as gerações  Z e Alpha os protagonistas dessa transformação. Os jovens da geração Z, nascidos entre 1995 e 2010, têm aptidão naturalizada e elevado nível de habilidades para o uso de tecnologias emergentes; por serem familiarizados com tecnologias digitais, processam as informações mais rapidamente por meio de imagens e recursos audiovisuais. (RENSKY, 2001, 2014; TAPSCOTT, 2010). E se destacam por seu envolvimento ativo nessas plataformas, imersas na era digital desde a infância, têm nas redes sociais uma plataforma poderosa para impulsionar a conscientização sobre a diversidade e promover uma educação mais inclusiva.

Um aspecto diferenciador notável é a forma como as gerações Z e Alpha utilizam as redes sociais para questões educacionais. Chiusoli et al (2020) destaca em sua pesquisa que, 42% dos jovens "sempre" utilizam da rede social nos estudos contra 29% dos acima de 20 anos. Enquanto as gerações mais antigas podem ter inicialmente visto as redes sociais como ferramentas de conexão social e entretenimento, as gerações mais jovens as adotaram como plataformas de aprendizado e conscientização. Elas não apenas consomem informações, mas também as criam, compartilham e debatem ativamente sobre tópicos relacionados à diversidade e inclusão, transformando as redes sociais em espaços educacionais dinâmicos.

A utilização das redes sociais pelas gerações Z e Alpha para amplificar a visibilidade de grupos marginalizados socialmente, historicamente excluídos de ambientes educacionais e profissionais, é notável. Essas gerações têm se destacado por sua disposição em abordar questões fundamentais relacionadas à inclusão da diversidade e assumpção da diferença do Outro. Essa atuação online reflete uma mudança significativa na forma como as novas gerações percebem e enfrentam questões sociais, utilizando as plataformas digitais como ferramentas poderosas para a promoção da justiça social.

Esse movimento mobiliza uma frente importante dentro das organizações no enfrentamento da exclusão de pessoas trans e travestis e ao mesmo tempo de outros grupos subrepresentados, pois acelera com urgência o clamor social tornando-o tendências de mercado. Segundo texto apresentado no Fórum econômico mundial as dez competências mais exigidas em 2023 foi: 1 - Pensamento analítico, 2 - Pensamento criativo, 3 - Resiliência, flexibilidade e agilidade, 4 - Motivação e autoconsciência, 5 - Curiosidade e aprendizagem contínua, 6 - Alfabetização tecnológica, 7 - Confiabilidade e atenção aos detalhes, 8 - Empatia e escuta ativa, 9 - Liderança e influencia social, 10 - Controle de qualidade em produtos e serviços. Ainda sobre o relatório do Fórum 44% dessas competências serão alteradas até 2027, assim, as demandas para 2024 passam a apressadamente recolocadas: 1 - Pensamento criativo, 2 - Pensamento analítico, 3 - Alfabetização tecnológica, 4 - Curiosidade e aprendizagem contínua, 5 - Resiliência, flexibilidade e agilidade, 6 - Pensamento de sistemas, 7 - Inteligência Artificial e bigdata, 8 - Motivação e autoconsciência, 9 - Gestão de talentos, 10 - Serviços e atendimento ao cliente (que pode ser qualquer um, menos o padronizado inexistente). Estamos preparados/as para os próximos níveis de aprendizado e trabalho?

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: GERAÇÕES Z E ALPHA COMO AGENTES DE MUDANÇA

A adaptabilidade inerente às gerações Z e Alpha é evidente em sua capacidade de se ajustar rapidamente a mudanças e inovações tecnológicas. Essas gerações cresceram em um ambiente de constante evolução tecnológica, tornando-as proficientes em adotar e se adaptar a novas ferramentas e plataformas. Como elucidado anteriormente, essa habilidade de adaptação não se limita apenas à tecnologia, mas se estende a novas ideias, perspectivas e modelos sociais, tornando-as propensas a desafiar e remodelar paradigmas estabelecidos.

Como apresentado pela Deloitte (2021), sobre a geração millennials e Z, apesar de terem saídos mais desanimados pós-pandemia por COVID-19, ainda demonstraram boas expectativas quanto aos seus papéis em mudanças ativas na igualdade e meio ambiente e um desejo em assumir o papel daqueles que, em sua opinião, estão fazendo muito pouco para melhorar a sociedade e abordar as questões que mais lhes interessam. A colaboração e a cocriação são valores fundamentais para essas gerações. Ao contrário do paradigma tradicional de hierarquia, elas valorizam ambientes de trabalho colaborativos, onde as ideias podem fluir livremente e onde a diversidade de pensamento é incentivada. A capacidade de contribuir e participar ativamente no processo decisório é um fator crucial na satisfação profissional dessas gerações.

Em um estudo desenvolvido pela IBM (2017) concluiu que 60% da geração Z considera importante as marcas levarem em consideração as suas ideias. Para Maia (2023) esse dado reflete diretamente na hipótese da colaboração direta com as marcas e que valoriza marcas alinhadas com as suas crenças e valores. Diante desse cenário, as empresas estão sendo desafiadas a repensar não apenas seus produtos e serviços, mas também suas estruturas internas e valores fundamentais. A capacidade de se adaptar a essas demandas emergentes e incorporar a colaboração, sustentabilidade e inclusão em seu DNA tornou-se crucial para as organizações que buscam não apenas atrair, mas também reter a força de trabalho e os consumidores dessas gerações visionárias. O futuro dos negócios está intrinsecamente ligado à capacidade de atender e abraçar as aspirações dessas gerações em constante transformação.

Além disso, seu compromisso com questões sociais e ambientais vai além do consumo consciente; reflete-se em suas interações diárias, na defesa de causas e no estímulo a mudanças sistêmicas. Essas gerações têm a mentalidade de que cada ação, seja como consumidores, colaboradores ou cidadãos, contribui para um impacto coletivo maior.

Seu desejo por ambientes de trabalho mais colaborativos e inclusivos impulsiona a transformação das estruturas organizacionais, promovendo a valorização da diversidade de pensamento e a descentralização das decisões.

CONCLUSÃO

À medida que navegamos por um mundo cada vez mais interligado e complexo, torna-se claro que a capacidade de lidar com a diversidade, promover a inclusão e impulsionar mudanças significativas é crucial para forjar um futuro equitativo e sustentável. As gerações millennials, Z e Alpha emergem como catalisadoras dessas transformações, trazendo consigo não apenas a inovação tecnológica, mas também uma consciência crescente das questões sociais e ambientais.

O empreendedorismo do século XXI reflete essa mudança de mentalidade, com projetos que transcendem a busca pelo lucro, priorizando a redução das desigualdades e o menor impacto socioambiental negativo. Este movimento é impulsionado pela compreensão de que a ética e a responsabilidade social não são apenas escolhas, mas sim a base fundamental para a construção de negócios resilientes e relevantes.

As redes sociais, por sua vez, têm desempenhado um papel ambíguo nesse contexto, sendo tanto veículos de desinformação quanto potentes ferramentas educacionais. É crucial explorar estratégias que maximizem seu potencial educativo, promovendo uma consciência crítica e comportamentos responsáveis.

No entanto, para que essa transformação seja efetiva, é necessário um compromisso contínuo. A educação inclusiva torna-se uma peça-chave nesse processo, preparando não apenas as novas gerações, mas também as anteriores, para uma convivência harmoniosa em uma sociedade diversificada. A confluência entre inovação, diversidade e inclusão oferece o caminho para uma sociedade cujo imperativo é tecido de forma intergeracional (YORK, 2020) que valorize a diferença e tenha lentes atualizadas como pilares.

 

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Felipe da Silva Ponte de. #Pedagogiasciberculturais: como aprendemos-ensinamos a nos tornar o que somos? 2021. 168 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: Disponível em: http://www.proped.pro.br/teses/teses_pdf/2013_2-1195-DO.pdf

CHIUSOLI, Cláudio Luiz et al. Atividade acadêmica, tecnologia e rede social: o comportamento da geração Z . Research, Society and Development, v. 9, n. 3, 03 mar 2020.  Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2725. Acesso em: 5 jan. 2024.

DELOITTE GLOBAL. A call for accounta bil i t y and action: THE DELOIT TE GLOBAL 2021 MILLENNIAL AND GEN Z SURV E Y. Deloitte. 2021, p. 01-36.  Disponível em: https://www.deloitte.com/content/dam/assets-shared/legacy/docs/insights/2022/2021-deloitte-global-millennial-survey-report.pdf. Acesso em: 5 jan. 2024.

DELOITTE GLOBAL. Understanding Generation Z in the workplace: New employee engagement tactics for changing demographics. 2020.  Disponível em: https://www2.deloitte.com/us/en/pages/consumer-business/articles/understanding-generation-z-in-the-workplace.html. Acesso em: 5 jan. 2024.

IBM INSTITUTE FOR BUSINESS VALUE. Gen Z brand relationships. 2017.  Disponível em: https://cdn.nrf.com/sites/default/files/2018-10/NRF_GenZ%20Brand%20Relationships%20Exec%20Report.pdf. Acesso em: 5 jan. 2024.

MOREIRA, Marta Cristina Nunes; DIAS, Francine de Souza; MELLO, Anahi Guedes de; YORK, Sara Wagner. Gramáticas do capacitismo: diálogos nas dobras entre deficiência, gênero, infância e adolescência. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 27 Out 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.07402022 Acesso em: 5 jan. 2024

PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. MCB University Press, v. 9, out 2001.  Disponível em: https://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf. Acesso em: 4 jan. 2024. 

YORK, Sara Wagner, Silva, Sergio Luiz e Nolasco, Leonardo em Gênero e sexualidade na educação: uma perspectiva interseccional. Devires. 2022.

 

Sobre a autora

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A inovadora social Judá Nunes é licenciada em Teatro pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Especialista em Educação para Inclusão da Diversidade, analista de ESG e reconhecida como LinkedIn Top Voices Orgulho tem atuado como educadora, gestora de projetos, comunicadora, escritora, palestrante e consultora; a especialista se destaca como mentora de um novo tempo, oferecendo insights sobre a dinâmica da diversidade no século XXI. Desde 2016, seus estudos em gênero, educação, movimentos sociais, trabalho e transformação humana culminaram no desenvolvimento de uma metodologia exclusiva e crítico-analítica para a formação de executivos na educação corporativa e para a gestão de projetos de impacto social, com foco em DEI. Sua paixão pela promoção da inclusão reflete-se em sua missão de comunicar e impactar positivamente, eliminando barreiras e conscientizando sobre vieses.

 

Como citar este artigo: 

ROCHA, Judá Nunes. INOVAÇÃO, INTEGRAÇÃO CULTURAL E INCLUSÃO: O PAPEL DAS NOVAS GERAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE UM FUTURO EQUITATIVO. Notícias, Revista Docência e Cibercultura, janeiro de 2024, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.

Editores/as Seção Notícias:

Sara Wagner York, Felipe CarvalhoEdméa SantosMarcos Vinícius Dias de Menezes e Mariano Pimentel