Corruptum et omnibus uitiis fractum dicendi genus: a crítica de Quintiliano a Sêneca, no livro X da Instituto oratoria

Resumo

O objetivo deste artigo é observar relações entre cânone literário e contexto histórico na Institutio oratoria, de Marcus Fabius Quintilianus (c. 35 – c. 95 d.C.). Na primeira parte do livro X da referida obra, intitulada De copia uerborum, Quintiliano expõe que, no aprendizado e exercício da elocutio, a escrita e a leitura são de vital importância. O futuro orador deve ser instruído a empregar adequadamente as palavras, e, assim, a leitura propicia experiência salutar, se confrontada com a audição, visto se encontrar longe dos fóruns e de artifícios que influenciam a percepção do ouvinte, como, por exemplo, as performances do orador. A leitura favorece também a repetição de passagens das obras literárias, para fins de memorização, de comparação ou de estudo mais aprofundado do discurso. No entanto, para que seja proveitosa à formação do orador, convém que se faça uma leitura controlada, daí o rétor dedicar a primeira parte do livro X a uma lista comentada de autores gregos e latinos a serem estudados pelos discípulos. Nesse segmento da obra, dentre os comentários sobre os autores latinos, destaca-se, quer pela extensão, quer pelo detalhamento, a apreciação sobre a produção literária de Sêneca, alvo principal das reflexões desenvolvidas neste trabalho por oferecer elementos que assinalam o influxo do gosto estético da época.