PODE UMA MÃE FAZER DOUTORADO? REFLEXÕES AUTOETNOGRÁFICAS SOBRE FEMINISMO MATRICÊNTRICO NA ACADEMIA

Autores

  • Joyce Rodrigues da Silva Magalhães UNEAL/UFAL

DOI:

https://doi.org/10.12957/pr.2025.88843

Palavras-chave:

feminismo matricêntrico, autoetnografia, linguística aplicada, academia.

Resumo

Este artigo investiga as experiências de mulheres-mães na academia, partindo de um recorte de uma pesquisa autoetnógráfica de doutorado na área de Linguística Aplicada crítica e na pedagogia decolonial. Esse campo teórico e prático propõe uma ruptura com a lógica da modernidade/colonialidade ao questionar paradigmas eurocêntricos e estruturais que perpetuam desigualdades sociais e acadêmicas (Bernardino-Costa; Maldonado-Torres; Grosfoguel, 2020). Com base no feminismo acadêmico e na teoria matricêntrica (O’Reilly, 2016), o artigo examina como o sistema universitário, frequentemente pautado por estruturas patriarcais, ignora as especificidades das mães-pesquisadoras. A partir de uma abordagem autoetnográfica-emocionada (Magalhães, 2024), são analisadas as memórias da pesquisadora durante o processo de doutoramento e as narrativas de uma aluna gestante do curso de Letras Inglês da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), evidenciando os desafios enfrentados por mulheres-mães no contexto acadêmico, como a sobrecarga de funções, a invisibilização de suas demandas e as barreiras institucionais. Ao problematizar essas dinâmicas, o estudo propõe reflexões sobre estratégias e políticas públicas que garantam condições adequadas para que mulheres-mães possam acessar, permanecer e avançar em seus estudos e carreiras. Assim, esta pesquisa fortalece o debate sobre equidade de gênero na academia e destaca a urgência de práticas decoloniais para uma educação, de fato, humanizadora e socialmente transformadora. Além disso, essa pesquisa autoetnográfica e decolonial abre caminhos para novas investigações matricêntricas que desafiem e reconfigurem as estruturas patriarcais e promovam uma perspectiva crítica, comprometida com a construção de um ambiente acadêmico mais equitativo.

Biografia do Autor

Joyce Rodrigues da Silva Magalhães, UNEAL/UFAL

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Sobre a autora

 

Joyce Rodrigues da Silva Magalhães

É sertaneja do interior de Alagoas, mãe de duas meninas, mestre e doutora em Linguística e Literatura pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), além de atuar como professora adjunta do Curso de Letras – Inglês da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Integrante do grupo de estudos Letramentos, Educação e Transculturalidade (LET/UFAL), tem sua trajetória acadêmica marcada por relevantes contribuições à área. Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu o Prêmio UFAL de Teses (2024) e foi laureada com o prêmio Meninas e Mulheres na Ciência, concedido pela PROPEP/UFAL (2024).

 

 

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Publicado

2025-05-15

Como Citar

Rodrigues da Silva Magalhães, J. (2025). PODE UMA MÃE FAZER DOUTORADO? REFLEXÕES AUTOETNOGRÁFICAS SOBRE FEMINISMO MATRICÊNTRICO NA ACADEMIA. Pensares Em Revista, 33(33), 206–227. https://doi.org/10.12957/pr.2025.88843

Edição

Seção

DOSSIÊ 33: A AUTOETNOGRAFIA NA LINGUÍSTICA APLICADA: RUPTURAS, DESLOCAMENTOS E TRAJETÓRIAS/ DOSSIER 33: AUTOETHNOGRAPHY IN APPLIED LINGUISTICS: RUPTURES, DISPLACEMENTS AND TRAJECTORIES