De Hamlet a Ham-Let : a tradução como trabalho da performance
DOI:
https://doi.org/10.12957/matraga.2025.88249Palavras-chave:
Teat(r)o Oficina, Hamlet, Antropofagia, Tradução, TranscriaçãoResumo
O trabalho da Associação de Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona nasce da leitura e é indissociável da literatura. Em 1967, o Oficina monta O rei da vela, de Oswald de Andrade. A partir de então, o coletivo recorre à antropofagia, proposta crítica formulada por Andrade, para criar uma linguagem cênica inovadora, sem deixar de lado a cultura brasileira. Em 1993, após duas décadas de intervalo, o Oficina retornou com a peça Ham-Let, criada a partir do clássico de Shakespeare. A tradução antropófaga do Oficina é anunciada desde o título. Hamlet, nome do personagem principal, é dividido e lido como duas palavras distintas: “Ham” e “Let”. De acordo com o diretor do espetáculo, “ham” pode ser traduzido como canastrão, ao passo que “let” tem o sentido de soltar ou liberar. Dessa forma, o hífen indica a apropriação subversiva: “Ham-Let: solta o canastrão” (Oficina, 2001d). A tradução declara, desde o título, que a intenção do grupo de teatro vai além da montagem de Hamlet em português. Ham-Let propõe a desierarquização do texto shakespeariano, considerado “o monumento mais sagrado de toda a história do teatro” (Oficina, 2024). Diante disso, o objetivo de nosso trabalho é investigar algumas estratégias utilizadas pelo Oficina para levar ao palco uma montagem antropófaga, que começa com um cuidadoso processo de leitura e de tradução criativa, reconhecendo o valor do texto original, ao mesmo tempo em que instaura um movimento dialógico através de diversas intervenções cênicas, tais como: a carnavalização e a paródia.
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