ANÁLISE DECOLONIAL DA SÉRIE “SIEMPRE BRUJA”: TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA OU ADAPTAÇÃO INTERCULTURAL?
DOI:
https://doi.org/10.12957/riae.2022.66910Palavras-chave:
Decolonialidade, interculturalidade crítica, tradução interssemiótica, adaptação intercultural.Resumo
Atualmente, o processo de transformação de uma obra em outra, com características próprias, desperta, em grande medida, inquietações, em especial, no que concerne às obras levadas às plataformas digitais. Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo debruçar-se sobre os aspectos envolvidos no movimento de transposição do romance “Yo, bruja” (CHACÓN, 2015) ao streaming, por meio da série intitulada “Siempre bruja” (NETFLIX, 2019), identificando as especificidades do processo de tradução, aqui tratado como uma interpretação, baseada na negociação de sentidos (ECO, 2007). Ultrapassa, portanto, o aspecto intertextual, fazendo-nos refletir sobre o movimento de adaptação que, por sua vez, se caracteriza como um processo que considera os fatores extra-fílmicos envolvidos na transformação de uma obra literária em outra audiovisual (PAVIS, 2008). O questionamento que nos move é: “Siempre bruja” (NETFLIX, 2019) é o resultado de uma tradução intersemiótica (JAKOBSON, 1969; DINIZ, 1994; PLAZA, 2008) ou uma adaptação intercultural (PAVIS, 2008)? Visamos, portanto, respondê-lo sob o viés da decolonialidade (WALSH, 2012; 2013) e, para tal, será necessário, a partir de uma abordagem qualitativa de análise: i) verificar as principais características de ambas as obras, levantando aspectos para aprofundamento de uma análise crítica; ii) analisar a série “Siempre bruja” (NETFLIX, 2019), buscando compreender se se trata de um processo de tradução intersemiótica ou de adaptação intercultural; iii) ler criticamente a série sob o viés decolonial, examinando as diferenças e as proximidades entre as obras, posicionando-a metodologicamente; e iv) dar relevo à importância da adaptação intercultural crítica, conceito acunhado nesta pesquisa.Referências
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