DIAGNÓSTICOS BENEVOLENTES NA INFÂNCIA: CRIANÇAS TRANS E A SUPOSTA NECESSIDADE DE UM TRATAMENTO PRECOCE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/redoc.2019.40481

Palavras-chave:

Diagnóstico, Crianças, Travestis, Pessoas trans.

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar a repercussão que o diagnóstico de Incongruência de Gênero tem na infância, situando os manuais de transtornos mentais como eixos centrais da discussão. Para tanto, reconhece-se o uso estratégico da patologização das identidades trans e travestis na adolescência e vida adulta, mas ressalta os desafios quando essa mesma patologização destina-se a crianças. Diferente de quando ocorre com pessoas adultas, compreende-se que o diagnóstico de gênero na infância se justifica a partir de uma concepção de cuidado e benevolência. Em conclusão, propõe-se abandonar o pensamento em saúde que se baseia na preocupação e tutela para pensar em um compromisso ético e político com a diferença.

Biografia do Autor

Sofia Ricardo Favero, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestranda em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Paula Sandrine Machado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional (UFRGS).

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Publicado

2019-06-02

Como Citar

FAVERO, Sofia Ricardo; MACHADO, Paula Sandrine. DIAGNÓSTICOS BENEVOLENTES NA INFÂNCIA: CRIANÇAS TRANS E A SUPOSTA NECESSIDADE DE UM TRATAMENTO PRECOCE. Revista Docência e Cibercultura, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 102–126, 2019. DOI: 10.12957/redoc.2019.40481. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/re-doc/article/view/40481. Acesso em: 19 abr. 2024.