A Formação à Distância de Educadores em Contexto Formal de Educação Museal Online: primeiras experiências da/com a Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (COEDU/MAST)
Na Educação, essas novas possibilidades de encontros, diálogos e presencialidades inspirou Santos (2005) a forjar a noção e abordagem didático-pedagógica da Educação Online (EOL). A EOL se fundamenta no uso de interfaces digitais em rede, lançando mão da hipertextualidade, da interatividade e da aprendizagem colaborativa, a partir da mediação docente de percursos de aprendizagem, para que os participantes aprendam na dialógica com os demais envolvidos, por meio de processos síncronos e assíncronos de comunicação, tanto em encontros presenciais, à distância ou em situações híbridas.
Inspirada na EOL e emergindo a partir do fazer-pensar a Educação Museal na/com cibercultura, a noção e abordagem didático-pedagógica da Educação Museal Online (EMO).
pressupõe, em primeira mão, a compreensão dos museus e de suas redes sociais digitais, ou outras presentificações online, como redes educativas e espaços multirreferenciais de aprendizagem em que o diálogo - as conversas – com/entre os praticantes culturais (os públicos e públicos não habituais) está na centralidade de suas ações educativas. Essas ambiências conversacionais são fomentadas pela mediação museal online que aciona e promove a criação e a socialização de conhecimentos, aprendizagens, sentimentos, emoções, inquietações, invenções em interatividade e em um ambiente em que múltiplas relações (intelectuais, cognitivas, psicossociais, culturais, históricas etc.) são tecidas em horizontalidade.As tecnologias digitais em rede (TDR), como por exemplo, as redes sociais digitais, os aplicativos e interfaces online, os dispositivos móveis etc., se inserem nesse contexto como meio e interfaces culturais que potencializam essas criações e trocas que se presentificam e são representadas em textos, imagens e sons (MARTI, 2021).O projeto de pesquisa “Um Olhar para o Ensino de Astronomia no Brasil - A divulgação de Astronomia na colaboração museu-escola”, da Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (COEDU/MAST), vem atuando, desde 2019, na formação de educadores[1] na modalidade presencial e, mais recentemente, vem se dedicando à elaboração e oferta de cursos à distância, voltados à temática da Astronomia e temas relacionados à Educação Museal na contemporaneidade.
Nossa primeira experiência com formação à distância na COEDU/MAST se deu com a oferta, ainda em 2020, da primeira edição do curso “O Céu como Marcador do Tempo”. Considerando o ineditismo da/com a docência à distância na história da COEDU e do MAST, essa edição piloto foi elaborada a partir das discussões e das premissas da EAD tradicional, incluindo a criação de ementa, mapas conceituais, atividades síncronas e assíncronas, e produção de material didático próprio. Realizado no Google Classroom, com carga horária de 32 horas, o curso contou com a colaboração de 7 profissionais da COEDU (um físico, uma astrônoma, dois astrofísicos, uma bióloga e museóloga; e dois graduandos em biologia e pedagogia) e seu público-alvo foram os/as professores/as que já haviam participado de ações formativas presenciais oferecidas pela coordenação. A avaliação do curso piloto, ainda em fase de análise, aponta para uma alta aprovação do material didático produzido, da organização interdisciplinar dos conteúdos, da proposta pedagógica como um todo e do aprimoramento colaborativo do curso. Entretanto, a avaliação dos cursistas indicou a necessidade de: (1) aumentar a diversidade de métodos de avaliação; (2) incorporar mais atividades práticas para o “saber ensinar” e para assimilação dos conteúdos; (3) aumentar o tempo do curso; (4) buscar mais estratégias de estímulo à troca entre cursistas; (5) substituir alguns bate-papos escritos por webconferências.
Como pesquisadores/as e educadores/as museais da COEDU/MAST, não separamos a prática educativa de nossa pesquisa acadêmica, uma vez que compreendemos que enquanto pesquisamos na/com as práticas da Educação Museal, formamos e vamos nos formando no processo (Santos, 2019). Desta forma, a experiência na/com a primeira edição do curso e sua avaliação preliminar nos levou a elaboração de um novo desenho didático inspirado nas bases teórico-metodológicas da EOL e da EMO.
Em sua segunda edição, o curso teve carga horária ampliada para 60h, incluía quatro atividades síncronas, ministradas no Google Meet, e sete assíncronas, realizadas no Edmodo[2], além da criação de um grupo no WhatsApp para envio de mensagens e compartilhamentos diversos relacionados ao tema e ao andamento do curso. Os objetivos e materiais didáticos foram revisados para atender às experiências vivenciadas na edição anterior.
Alinhado às práticas-teorias da EOL e da EMO, o desenho didático do curso foi atualizado para forjar a participação ativa dos discentes, pois compreendemos a produção de conhecimento como obra aberta e tecida a partir da partilha de saberes, experiências e sentidos diversos. Com base nesse entendimento, buscamos forjar ambiências conversacionais, por meio de uma mediação online docente que fomentou a troca de conhecimentos e significações e a partilha de sentidos a partir de perguntas disparadoras e/ou materiais didáticos online em linguagens diversas (texto, áudio, imagem) sobre os temas abordados nas unidades e/ou atividades (Figura 1).
Figura 01: Publicação e Mediação Online no Edmodo
As atividades mediadas ofereceram oportunidades de criação e/ou pesquisa de conteúdo pelos próprios discentes (em grupos/pares), fomentando o trabalho colaborativo, coautoral e a produção de diversos tipos de conteúdo, e oferecendo oportunidades para que o discente experimentasse/usasse uma série de interfaces digitais e de linguagens (texto, imagem e som) que poderiam ser usadas em suas práticas docentes (Figura 2).
Figura 02: Post no Edmodo e trabalhos em grupos compartilhados no Padlet.
O público-alvo incluiu educadores museais e demais profissionais do campo, professores, licenciandos e/ou graduandos, planetaristas, profissionais da divulgação e popularização da ciência, do jornalismo e de demais áreas afins, uma vez que a temática abordada se presentifica nos vários currículos de diversas redes educativas. Um total de 166 inscrições foram realizadas e 123 cursistas aceitos.
Participaram da equipe docente sete profissionais da COEDU e uma colaboradora externa, além de dois palestrantes convidados. Os cursistas foram divididos em turmas no Edmodo e cada uma dessas contou com a mediação-docente de 2 integrantes da equipe que regularmente acessavam a plataforma online a fim de forjar as conversações entre os cursistas sobre as temáticas das atividades assíncronas postadas.
A experiência da segunda edição do curso vem reforçando a nossa opção didático-pedagógica apoiada nas premissas da EOL e da EMO, ou seja, a importância de forjar ambiências conversacionais para a partilha e produção coletiva de conhecimentos-significações diversos. Educar na cibercultura implica estarmos atentos às potencialidades comunicacionais das TDR e às práticas, conhecimentos e fenômenos que emergem a partir das múltiplas relações que estabelecemos com as mesmas. As TDR, então, se configuram como importantes interfaces online que podem oportunizar essas práticas e partilhas de saberes tanto em situações geograficamente localizadas quanto a distância.
Adicionalmente, essa experiência nos mostrou a importância de uma mediação museal online propositiva, atenta e implicada em acionar conversas, em busca de uma produção ativa, coletiva e coautoral entre/de seus participantes. Para tal, a formação de educadores museais em contexto de Educação Museal Online é imperativa.
A avaliação realizada pelos cursistas e pelos mediadores-docentes também será fundamental para podermos melhor compreender essa experiência formativa a fim de fazer os ajustes necessários para o lançamento de uma nova edição.
[1] Entendendo educadores como profissionais que atuam em escolas, mas não apenas, já que os licenciados formam majoritariamente os quadros de setores educativos de museus, centros culturais e de ciência, tais como planetários e observatórios
[2] O Edmodo (https://new.edmodo.com/) é uma plataforma online gratuita de Educação desenvolvida por professores e que, desde 2008, oferece uma série de recursos para gerenciamento, criação e compartilhamento de conteúdo diversos, assim como gestão e mediação de formas diversas de comunicação entre discentes, seus responsáveis e os docentes.
Referências
MARTI, Frieda Maria. A Educação Museal Online: uma ciberpesquisa-formação na/com a seção de assistência ao ensino (SAE) do Museu Nacional-UFRJ. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educação, 2021, 298f.
SANTOS, Edméa. Educação online: cibercultura e pesquisa-formação na prática docente. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 351p., 2005.
SANTOS, Edméa. Pesquisa-formação na cibercultura. Teresina: EDUFPI, 2019. E-book.
Como citar este artigo:
MARTI, Frieda Maria; SPINELLI, Patrícia Figueiró; e KUNZLER, Josiane. A Formação à Distância de Educadores em Contexto Formal de Educação Museal Online: primeiras experiências da/com a Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (COEDU/MAST). Notícias, Revista Docência e Cibercultura, setembro de 2023, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.
Sobre as autoras:
Por Maria Marti
Doutora em Educação pelo PROPED/UERJ - Linha Cotidianos, Redes Educativas e Processos Culturais. Mestre em Zoologia (Ornitologia) pelo Museu Nacional/UFRJ. Especialista em Further Education Teaching pelo Kirklees College, UK, pós-graduada em Adult Education e E-learning and Multimedia pela Huddersfield University, UK e em ESOL - English for Speakers of Other Languages - pela Cambridge University, UK. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (GpDOc/UFRRJ), coordenado pela Profa Dra. Edméa Santos; integrante do Grupo de Pesquisa Educação Museal: conceitos, história e políticas do(a)Instituto Brasileiro de Museus, coordenado pela Profa Dra. Fernanda Castro. Educadora Museal e Pesquisadora PCI (Programa de Capacitação Institucional do CNPq) junto à Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (COEDU/MAST).
Possui graduação em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2004), mestrado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2007) e doutorado em Astrofísica pela Ludwig-Maximilians-Universität e International Max Planck Research School on Astrophysics (LMU, IMPRS, 2011). Realizou estágio de pós-doutorado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP, 2013). Tem experiência na área de Astrofísica, com ênfase em Lentes Gravitacionais Fracas, Cosmologia e Astrofísica Extragaláctica. Atua na área de divulgação em ciências, em especial Astronomia, sendo membro fundador do Programa GalileoMobile. Atualmente é pesquisadora titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST, desde 2013), coordenadora adjunta externa do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Divulgação e Popularização da Ciência (ESPDPC, desde 2014) e professora do Mestrado em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde (PPGDCST, desde 2016), ambos da Fiocruz/MAST/Jardim Botânico/Casa da Ciência/CECIERJ. É também a coordenadora brasileira do Portuguese Language Expertise Centre of Astronomy for Development da União Internacional de Astronomia (PLOAD-IAU desde 2015). Integra a Rede Primeira Infância em Museus, coletivo que reúne instituições museais e de ensino (PIMu, desde 2022) e a Rede Mulheres em STEM-Rio de Janeiro (MSTEM-RJ, desde 2020).Por Josiane Kunzler
Bióloga, mestre em Geologia (linha de Paleontologia) pela UFRJ, com pesquisa no Museu Nacional/UFRJ, e doutora em Museologia e Patrimônio pela UNIRIO/MAST, com doutorado sanduíche no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa, e pesquisa sobre o patrimônio paleontológico em exposições museológicas. Atualmente é Coordenadora de Educação em Ciências, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), onde anteriormente foi pesquisadora colaboradora e PCI. Foi pesquisadora consultora da UNESCO para as novas exposições do Museu Nacional, por meio do Projeto Museu Nacional Vive. Integra o Grupo de Estudos em Museologia e Patrimônio (GEMP) da Fundação Araporã (Araraquara-SP), onde é consultora voluntária. Tem experiência e interesse em exposições museológicas, divulgação e popularização da ciência, patrimônio paleontológico e mudanças climáticas em museus de ciências. Foi bolsista de doutorado CAPES DS e doutorado sanduíche CAPES-PDSE e do Programa de Capacitação Instituição (PCI-CNPq/MAST).
Editores/as Seção Notícias:
Felipe Carvalho - Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estácio de Sá (PPGE/UNESA); e bolsista de pós-doutorado CNPq pela Universidade Federal de Tocantins (UFT).
Edméa Santos - Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Rural (PPGEDUC/UFRRJ)
Marcos Vinícius Dias de Menezes - Graduando em Letras - Português, Inglês e Literatura em modo de licenciatura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Bolsista de Iniciação Científica na FAPERJ
Mariano Pimentel - Professor do Programa de Pós-Graduação em Informática da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGI/UNIRIO)