É o ChatGPT uma nova tendência no Ensino Superior?

2023-04-26

PorAna-Paula Correia

Professora Catedrática da Universidade do Estado de Ohio, Estados Unidos

Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0806-7835

ChatGPT, também conhecido como “Generative Pre-trained Transformer”, é um modelo de linguagem desenvolvido pela empresa com sede em San Francisco, OpenAI. A empresa foi fundada em 2015 por Elon Musk, Sam Altman, Greg Brockman, Ilya Sutskever, Wojciech Zaremba e o John Schulman (OpenAI; BROCKMAN; SUTSKEVER, 2015). A empresa também é responsável por criar outros programas de software, como GPT-3 e DALL-E. Estes intensificam avanços contínuos no campo da Inteligência Artificial (IA) Generativa. 

Disponibilizado publicamente em 30 de Novembro de 2022, o chatbot ChatGPT da OpenAI causou um alvoroço na Internet ao atingir mais de 1 milhão de usuários em apenas uma semana após o seu lançamento (RUBY, 2023). 

O ChatGPT tornou-se popular em várias indústrias, incluindo as finanças, saúde e comércio eletrônico, como uma maneira de incorporar capacidades avançadas de processamento de linguagem natural em seus produtos e serviços. Concomitantemente, o ChatGPT vem ganhando terreno e causando grandes discussões na Ensino Superior. 

Uma das características importantes do ChatGPT é sua capacidade de gerar texto semelhante ao discurso humano com base num “input” específico. Essa característica é particularmente útil para as tarefas de criação de conteúdo, tradução de idiomas e automação de serviços ao cliente. O modelo está também a ser treinado com quantidades maciças de dados de texto da Internet, permitindo que ele entenda e responda a uma ampla gama de tópicos e processos. Ferramentas de texto gerado por IA, como o ChatGPT, foram treinadas para usar bilhões de obras escritas, abrangendo diferentes conteúdos, incluindo blogs, romances e literatura clássica (MARR, 2022). 

Em relação ao suporte de idiomas, o ChatGPT pode processar e gerar texto em vários idiomas, incluindo Português, Inglês, Espanhol, Francês, Alemão e Mandarim. No entanto, o desempenho do modelo pode variar dependendo do idioma e da complexidade da tarefa solicitada. 

Potencial e Impacto do ChatGPT no Ensino Superior 

Com sua capacidade de gerar texto semelhante ao discurso humano e de realizar tarefas de processamento de linguagem natural, o ChatGPT pode ter um impacto significativo na forma como alunos e professores trabalham na Ensino Superior. Uma das principais áreas em que o ChatGPT pode ter impacto é na automação de tarefas administrativas. Por exemplo, o ChatGPT pode responder a perguntas frequentes, fornecer informações sobre cursos e organizar horários, liberando tempo valioso para os professores e permitindo que eles se concentrem no que fazem de melhor: ensinar. 

O ChatGPT tem o potencial de apoiar a aprendizagem personalizada (TRUST; WHALEN; MOUZA, 2023). Ao facilitar conversas baseadas em texto entre alunos e o ChatGPT, os alunos podem interagir com um sistema inteligente que responde em tempo real, levando a uma experiência de aprendizagem mais personalizada e envolvente. O ChatGPT pode ser usado de várias maneiras. Por exemplo, pode fornecer feedback instantâneo aos alunos, responder às suas perguntas ou identificar recursos relevantes. Segundo Tate et al. (2023), o ChatGPT pode atuar como um “agente de ensino”, engajando os alunos em uma conversa baseada em texto e incentivando-os a ensinar um conceito ao ChatGPT como meio de promover a sua própria aprendizagem. 

Também é possível utilizar o ChatGPT para promover uma aprendizagem mais aprofundada, melhorando o engajamento dos alunos. Um exemplo é a tutoria personalizada, em que o ChatGPT pode fornecer feedback e orientação personalizados a cada aluno com base em suas necessidades e preferências de aprendizagem. Isso pode ajudar os alunos a compreender e aplicar melhor o conteúdo da disciplina. Outro exemplo é a aprendizagem baseada em cenários, em que o ChatGPT pode simular situações da vida real e fornecer aos alunos oportunidades para aplicar seus conhecimentos e competências num contexto aplicado. 

Além de melhorar o engajamento dos alunos, o ChatGPT pode ajudar a agilizar o processo de correção, fornecendo feedback em tempo real e oferecendo comentários sobre a escrita dos alunos (TRUST, 2023), permitindo que eles recebam feedback rápido e construtivo sobre seu progresso. Isso pode ser especialmente valioso para a aprendizagem online, onde os métodos tradicionais de feedback e correção são normalmente lentos e trabalhosos. 

ChatGPT tem sido usado para gerar resumos e transcrições automatizadas de palestras online ou “live”. Isso permite que os alunos revisem rapidamente os pontos principais da palestra e oferece um recurso valioso para os alunos que têm dificuldade em entender a linguagem falada. ChatGPT pode também ser integrado em fóruns de discussão online ou ambientes de realidade virtual para facilitar interações mais significativas entre alunos e professores. Por outro lado, os alunos podem beneficiar, especialmente em termos de produtividade e eficiência. Ao usar ChatGPT, os alunos podem otimizar seus processos de pesquisa e estudo, economizando tempo e aumentando a sua produtividade. 

Com a sua capacidade de realizar tarefas de processamento de linguagem natural e gerar textos semelhantes aos seres humanos, o ChatGPT pode ter um impacto na Ensino Superior, especialmente no aprendizado de idiomas. Ao ser integrado em cursos online, o ChatGPT pode facilitar a prática de conversação, fornecendo aos alunos feedback personalizado sobre sua pronúncia e competências linguísticas. O modelo pode processar e gerar textos em vários idiomas, permitindo que os educadores criem materiais de curso online multilíngues, tornando seus cursos mais acessíveis a públicos globais. Além disso, o ChatGPT pode oferecer assistência na escrita e comunicação, especialmente para os alunos que enfrentam desafios em se expressar pela escrita, bem como para pessoas que estão aprendendo, por exemplo, o Inglês como segunda língua (TATE et al., 2023). 

A integração da IA generativa na educação está-se a tornar uma realidade, assim como a calculadora científica nos anos setenta e os computadores nos anos oitenta. Através da integração da IA no currículo e ao ensinar como usá-la de forma responsável, vamos conseguir que os alunos tenham uma melhor compreensão das implicações éticas da IA na sociedade e das suas potencialidades na educação formal e informal e na aprendizagem ao longo da vida (BOZKURT et al., 2023). 

Obstáculos e Limitações do ChatGPT no Ensino Superior

Simplesmente falando, ChatGPT é um modelo de linguagem de inteligência artificial que gera texto analisando dados que lhe são introduzidos. No entanto, o modelo não tem a capacidade de compreender completamente as complexidades da linguagem e da conversação entre humanos. A suas respostas são baseadas exclusivamente nos dados ou informações fornecidas durante o processo de treinamento (BOGOST, 2022).

Neste contexto, o ChatGPT só pode oferecer conteúdos datados antes de Setembro de 2021. Se houver perguntas sobre tópicos anteriores à era da Internet, como um artigo sobre a pandemia da gripe de 1968, a informação será muito limitada e não muito fiável. Portanto, não é surpreendente que numerosas limitações e restrições do ChatGPT tenham sido apontadas. Para começar, ao usar o ChatGPT no Ensino Superior, uma das limitações do sistema é a sua falta de entendimento do contexto educacional. Como o modelo é treinado com um grande conjunto de dados de texto da Internet, ele não tem a capacidade de entender o contexto específico da solicitação ou “input”. Como resultado, o modelo pode gerar texto que não é totalmente relevante ou correto e levar a erros ou imprecisões no texto criado ou “output”. Da mesma forma, o ChatGPT pode criar conteúdo em que imita o estilo e o formato de histórias de notícias reais, mas incorpora estatísticas fabricadas e citações de fontes fictícias (VINCENT, 2019). Esta limitação é particularmente aparente quando se solicita ao ChatGPT para listar as referências que suportam o conteúdo gerado. 

Outro obstáculo que se encontra quando se usa o ChatGPT é a sua falta de criatividade. O ChatGPT gera texto com base em padrões que aprendeu dos dados que foram utilizados no treinamento, o que significa que pode produzir textos repetitivos, genéricos e superficiais. Além disso, ele não entende o tom de um dado texto, o que pode levar a respostas ou feedbacks inadequados. Isso é uma limitação ao usar o ChatGPT para gerar feedback sobre as tarefas dos alunos, pois o sistema não é capaz de entender as nuances da comunicação humana e pode gerar feedback que não é apropriado às necessidades do aluno. 

A criatividade entra em jogo quando o aluno ou professor colocam perguntas ao ChatGPT. Isso leva à Engenharia do “prompt” ou a arte de fazer perguntas ao ChatGPT (MOK, 2023). A Engenharia do “prompt” é uma técnica utilizada para ajudar a inteligência artificial a entender o que dizer ou escrever com base no “input” criado pelo usuário. Envolve a seleção e o design das palavras certas para orientar o modelo na produção do tipo de resposta desejada. Essa técnica ajuda a melhorar a precisão e a consistência dos modelos de linguagem na geração de texto em linguagem natural. 

Neste momento nos Estados Unidos, um grupo de educadores está a trabalhar na coleta e partilha de ideias sobre o uso de ferramentas de IA generativa no ensino e aprendizagem (como o ChatGPT, Dall-E e Midjourney). O objetivo é aprimorar os seus métodos de ensino e melhorar a pesquisa acadêmica com a assistência da IA generativa. Educadores colaboram para reunir e trocar ideias inovadoras sobre a incorporação dessas ferramentas no seu trabalho numa comunidade chamada #creativeHE (NERANTZI, 2023). 

Uma limitação significativa da IA Generativa é o viés do algorítmico (BOZKURT et al., 2023). O viés algorítmico refere-se à tendência de um algoritmo de IA produzir resultados tendenciosos ou discriminatórios para certos grupos de pessoas. Isso pode ocorrer se o algoritmo for treinado com dados ou instruções discriminatórios, levando a decisões ou previsões carregadas de preconceito. No caso da IA generativa, o viés algorítmico pode limitar severamente o seu potencial. Os sistemas de IA generativa são projetados para criar conteúdo original, como imagens ou texto, com base nos dados com que foram treinados. Por exemplo, se um modelo de linguagem é treinado em dados preconceituosos, ele pode gerar texto que perpetua estereótipos raciais ou discriminar severamente certas populações. Consequentemente, o viés algorítmico é uma preocupação importante, pois pode reforçar e amplificar as desigualdades sociais e a discriminação já existentes na sociedade (BEMBENECK et al., 2021). 

Em Resumo 

Com o lançamento do GPT-4 em Março de 2023 pela OpenAI, o ChatGPT e outras formas de Inteligência Artificial generativa no Ensino Superior vieram para ficar. O GPT-4 agora é capaz de entender e responder tanto a “inputs” via imagens ou texto, tornando-se uma ferramenta de IA multimodal. A OpenAI relata que a versão atualizada apresenta maior precisão e um conhecimento expandido, para além da capacidade de “ver” imagens e “raciocinar” (OpenAI, 2023). 

A Inteligência Artificial generativa tem o potencial de revolucionar a forma como aprendemos e ensinamos. Através do uso do poder da AI generativa, os educadores podem fornecer experiências de aprendizagem mais personalizadas e satisfatórias. Os alunos podem maximizar a sua produtividade e alcançar seus objetivos acadêmicos de maneira mais expediente. 

No entanto, é essencial reconhecer as “armadilhas” desta tecnologia. O viés algorítmico, a qualidade e atualidade dos conteúdos gerados, e as questões de acessibilidade devem ser abordados e amplamente discutidos para garantir que o ChatGPT seja usado ao máximo, mas sem agravar as desigualdades já existentes nas nossas sociedades. 

Em suma, embora a Inteligência Artificial generativa tenha o potencial de melhorar significativamente a experiência educacional, são as interações humanas que tornam a educação verdadeiramente transformadora (CORREIA, 2023). É no contato entre professores e alunos, bem como na troca de ideias entre os próprios alunos, que se promove o desenvolvimento social e emocional, estimula a criatividade e se fomenta a reflexão crítica. 

 

Referências

BEMBENECK, Emily; NISSAN, Rebecca; OBERMEYER, Ziad. To stop algorithmic bias, we first have to define it. Brookings, 21 Oct. 2021. Acesso em 1 Mar. 2023. 

BOGOST, Ian. ChatGPT Is Dumber Than You Think. The Atlantic, 7 Dec. 2022. Acesso em 26 Fev. 2023. 

BOZKURT, Aras et al. Speculative Futures on ChatGPT and Generative Artificial Intelligence (AI): A Collective Reflection from the Educational Landscape. Asian Journal of Distance Education, v. 18, n. 1, p. 53-130, 2023. 

CORREIA, Ana-Paula. Is ChatGPT the new buzz in Higher Education? Ana-Paula Correia’s Blog, 15 Mar. 2023. Acesso em 20 Apr. 2023. 

OpenAI; BROCKMAN, Greg; SUTSKEVER, Ilya. Introducing OpenAI. OpenAI Blog, 11 Dec. 2015. Acesso em 26 Fev. 2023. 

OpenAI. GPT-4 is OpenAI’s most advanced system, producing safer and more useful responses. OpenAI Blog, 14 Mar. 2023. Acesso em 26 Fev. 2023. 

MARR, Bernard. ChatGPT: Everything You Really Need To Know (In Simple Terms). Forbes, 21 Dec. 2022. Acesso em 1 Mar. 2023. 

MOK, Aaron. ‘Prompt engineering’ is one of the hottest jobs in generative AI. Here's how it works. Insider, 1 Mar. 2023. Acesso em 3 Mar. 2023. 

NERANTZI, Chrissi. Creating a collection of 101 creative ideas to use AI in education. #creativeHE, 2 Feb. 2023. Acesso em 4 Mar. 2023. 

RUBY, Daniel. ChatGPT Statistics for 2023: Comprehensive Facts and Data. DemandSage, 8 Feb. 2023. Acesso em 3 Mar. 2023. 

TATE, Tamara; DOROUDI, Shayan; RITCHIE, Daniel; XU, Ying; WARSCHAUER, Mark. Educational research and AI-generated writing: Confronting the coming tsunamiEdArXiv, 10 Jan. 2023. Acesso em 3 Mar. 2023. 

TRUST, Torrey. ChatGPT & Education. Jan. 2023. Acesso em 4 Mar. 2023. 

TRUST, Torrey; WHALEN, Jeromie; MOUZA, Chrystralla. Editorial: ChatGPT: Challenges, Opportunities, and Implications for Teacher Education. Contemporary Issues in Technology and Teacher Education, 2023. Acesso em 4 Mar. 2023. 

VINCENT, James. AI researchers debate the ethics of sharing potentially harmful programs. The Verge, 2019. Acesso em 4 Mar. 2023. 

 

Como citar este artigo: 

CORREIA, Ana-Paula. É o ChatGPT uma nova tendência no Ensino Superior? Notícias, Revista Docência e Cibercultura, Abril de 2023, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA. 

 

Editores/as Seção Notícias:

Felipe Carvalho - Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estácio de Sá (PPGE/UNESA)

Edméa Santos - Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Rural (PPGEDUC/UFRRJ)

Marcos Vinícius Dias de Menezes - Graduando em Letras - Português, Inglês e Literatura em modo de licenciatura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Bolsista de Iniciação Científica na FAPERJ

Mariano Pimentel - Professor do Programa de Pós-Graduação em Informática da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGI/UNIRIO)