Vamos navegar pelo Cariri por meio das linguagens audiovisuais?

2022-12-16
Por: Karine Pinheiro de Souza, Maria Iracema Pinho de Sousa, Francione Charapa Alves, Daniel Alberto Sousa Figueiredo, Daniel Brandom Tavares da Silva, Donilton Inácio Silva, Valéria Alves Vieira, Suyany Erika Alves J. Furtado e Paula Ingryd da Rocha Silva.

Diante de uma geração que passa por mudanças no uso, na apropriação e na produção de tecnologias digitais, questionamo- nos:  Como podemos apoiar a disseminação de uma ciência decolonial, abrindo espaço para novas práticas com a linguagem multimodal? Por que não utilizamos produções audiovisuais no locus acadêmico?

 Essas questões acompanharam nossas indagações por longos dias, durante a oferta das disciplinas “Arte, Cultura e Educação”, “Currículo e Desenvolvimento Curricular”, "Docência da Língua Portuguesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental" e “Pedagogia: História e Identidade Profissional” ofertadas no Curso de Pedagogia na Universidade Federal do Cariri – UFCA no semestre letivo 2022.1. Afinal, estamos atuando com nativos digitais (Prensky, 2010), que desenvolvem processos criativos por meio de novos gêneros digitais e que vivenciam o poder das tecnologias para expressar suas ideias de diferentes formas em seu cotidiano. Com isso,  identificamos o quanto o uso vídeo foi sendo potencializado, desde a publicação dos stories, reels, tik tok por esses estudantes. Portanto, a prática cultural do uso da imagem, intensificou-se com a produção audiovisual, marcada pela  multimodalidade da linguagem no contexto cibercultural (SANTOS, 2014).

Portanto, os estudantes podem vivenciar, por meio de  diversas disciplinas, esta nova abordagem, agregando as experiências com aulas de campo em que eles entram em contato com os saberes populares, científicos e culturais, isso tudo repercute em efeitos inimagináveis com a escolarização aberta (OKADA, 2016).

Somado a isso, reiteramos o papel da arte neste processo, entendida  como expressão do ser humano, que  no âmbito universitário é vista também como uma fonte comunicacional com a educação. Nesse sentido, compreendemos que as relações possíveis entre a arte e a educação são fontes inesgotáveis para o favorecimento de práticas docentes que considerem tanto a arte, quanto a cultura como expressões a serem valorizadas nos diversos  ambientes escolares. Tendo em vista as diferentes formas de manifestação artística nas variadas culturas sociais que podem ser utilizadas como ferramentas pedagógicas.

Portanto, em disciplinas de matrizes curriculares que formam professores para atuação nas escolas de Educação Básica, a presença da abordagem didática para o ensino interdisciplinar, envolvendo a arte e a cultura,  é mais do que necessária, no currículo das mais variadas disciplinas e níveis de ensino. Ao  considerar  que o currículo também é uma expressão humana para a educação das novas gerações. Para compreender o contexto experienciado pelos estudantes, exemplificamos no vídeo, a seguir:

Imagem 1:  Escolarização aberta: para além dos muros da universidade

Fonte: Estudantes no teleférico Juazeiro do Norte - 360 graus (IFeCast: Minha Comunidade) 

A estratégia compartilhada é um vídeo em 360 graus, que  chama cada um dos interlocutores para o contexto do Juazeiro do Norte/CE, que passam a caminhar com as professoras e conhecer o caminho místico da região. O contexto digital propagado no vídeo mobilizou todos/es a conhecer didaticamente as instalações do Complexo Ambiental “Caminhos do Horto” na cidade de Juazeiro do Norte do Ceará, sensações que possibilitam uma breve imersão no caminho percorrido pelos estudantes durante a aula de campo.

Imagem 2: Caminhos místico no Horto do Padre Cícero

 

Fonte: Estudantes no teleférico Juazeiro do Norte - 360 graus (IFeCast: Minha Comunidade) 

 O aprendizado mediado por essa linguagem também foi instigado por uma visita com as professoras Edméa Santos (UFFRJ) e Cíntia Rabello (UFF), quando nos deparamos diante dos óculos de realidade virtual. A interação com o vídeo mobilizou efeitos incríveis, a sensação de quase cair na água, andar por ruas de outro país, isso aconteceu durante uma visita no Museu de Imagem e Som (SP), em que pudemos viajar até Veneza/Itália e caminhar pelas ruas da cidade.

Imagem 3:  Descrição da Exposição - TARGO, 2020.

Fonte: Autores, 2022.

Imagem 4: Adulto com óculos realidade imersiva na obra de Alex Hai

 Fonte: Mix.xr, 2022.

O que nos faz pensar depois de ver esses vídeos: o que dizer sobre essa nova forma de arte imersiva, em que ao sentar no balanço e ver o vídeo, nos sentimos voando dentro da tela? O que nos instigou a ver a imagem da criança no balanço real, interagir com a imagem gigante projetada, como por exemplo na imagens 5. 

Imagem 5: Criança no balanço real, interage com a imagem gigante projetada.

Fonte:  Baltar, 2022 - videoinstalação da artista Brígida Baltar intitulada “Lá”.   

Afinal, reinventamos o mundo, quando nos deparamos com novas tecnologias digitais. Quando tirávamos fotos com latas, hoje viajamos por meio de vídeo, ampliamos nossa possibilidade de representar, interpretar a realidade posta diante dos sentidos. Tudo isso, torna-se único por meio do processo de soma (imagem/ som/ vídeo), em que cada um pode produzir uma obra única  frente ao olhar do outro e/ ou com o outro. 

Retomar essa indagação sobre novas práticas de linguagem  desta geração C5 (SOUZA, 2014), nos favorece a responder a nossa problemática: Por que não utilizamos produções audiovisuais no locus acadêmico? Por que não mobilizamos essa diversidade de gêneros no cotidiano escolar?  Como os vídeos podem despertar o fazer científico ?

Essas questões podem se unificar quando falamos de letramento científico e  geração de nativos digitais. O  fazer ciência pode estar atrelado ao letramento audiovisual, mobilizando os sentidos críticos para ler e co-criar o mundo. O que nos remete aos estudos sobre a linguagem e sua multiplicidade de sentidos (SANTAELLA,2011)

Por fim, como resposta ao problema proposto,  apresentamos uma experiência acadêmica que tenta aproximar essa linguagem nos eventos científicos, saindo da mera apresentação de artigos para a produção de vídeo-pôsteres, como dispositivo de audiovisualidade, como  uma poderosa linguagem para disseminar a ciência no contexto acadêmico.

Reconhecer produtores de gêneros científicos em formato de vídeo abriu possibilidades para  superação das frases: - eu não consigo escrever nada nesta estrutura científica? Tenho medo ? Muitos estudantes tremem diante do desafio de estruturar um texto numa linguagem acadêmica, como relata Silva, Vieira, Furtado ( recorte de fala - estudantes do IFE/UFCA)

Portanto, fazer esse paralelo entre as publicações dos artigos científicos e da vastidão de possibilidades dos gêneros digitais,  foi como abrir um leque para este novo dizer, valorizando a intensa forma de dizer/ anunciar/ denunciar da rica produção cultural na cibercultura (LÉVY, 2001).

Os exemplos foram vivenciados pelos estudantes em dois congressos científicos, que mobilizaram a publicação acadêmica por meio do vídeo-pôster, como uma nova dinâmica de disseminação científica. Nos eventos: Festival de Cultura da Universidade Federal do Cariri  e Workshop de Informática na Escola - WIE

Além disso, que nos foi mobilizado pelos estudos de Santos, Fernandes e York (2022) quando nos instiga a romper a pedagogia da transmissão, que forjemos salas de aula interativas em quaisquer modalidades. Isso aciona inteligências coletivas de geração criativa, que é veloz na produção, edição, de imagens, sons-textos para dar voz ao seu conhecimento, agregando a produção aos princípios científicos, fomentando uma geração de Coempreendedores (SOUZA, 2014).

Mas o que novo gênero é esse ? Os vídeo-posters?

São publicações científicas com produção audiovisual, categorizadas dentro de um evento científico, em que apresentam o contexto dos projetos desenvolvidos, os momentos pedagógicos, o objetivo do estudo, com os incentivos e as dificuldades encontradas, apresentando as pesquisas desenvolvidas por meio da linguagem texto, som e imagem.

Compartilhamos links dos eventos científicos com esta abordagem.

A exposição de vídeo-pôster no Festival de Culturas da UFCA – Cariri, em que apresenta a diversidade de projetos de estudantes, professores e técnicos, por meio de vídeo-pôster

Outro evento, que publicamos foi  o  Workshop de informática educativa, na trilha especial: Os caminhos dos projetos de jovens Coempreendedores do Instituto de formação de Educadores – IFE/ UFCA.

Refletindo um pouco sobre a importância dessa experiência nas produções audiovisuais no locus acadêmico?

Os processos cognitivos que emergem na construção deste gênero (vídeo-posters), auxiliam tanto nas dimensões afetivas, quanto cognitivas, demonstrando como esses nativos digitais agem no mundo, num aspecto histórico, cultural. E, isso mobiliza mudanças na forma como nos comunicamos cientificamente. Pois na estrutura dos vídeos os estudantes desenvolvem competências científicas de : identificar e avaliar uma situação, explorar uma visão, explorar novas formas de representar as ideias. Desta forma, auxiliando no processo de comunicação de ideias científicas, lendo e escrevendo de outra forma ao criar suas narrativas digitais.

Para despertar esse olhar sobre a produção audiovisual de estudantes, convidamos a todos/todas/todes para conhecer o IFECast: MInha Comunidade, projeto com  estudantes de licenciatura interdisciplinar e de pedagogia. O Projeto contou com vários momentos pedagógicos para engajamento como comunidade do IFE/UFCA, por meio da Escolarização Aberta, buscando a identidade, significado e prática, essa mediação foi feita com problematização sobre a minha realidade, visitas de campo a comunidades quilombolas, descobertas de trilhas ambientais, criação de storytelling, exposição de foto narrativas, além das entrevistas que motivaram as descobertas da docência. Para tanto, as abordagens pedagógicas vinculam-se aos estudos dos clássicos Sócrates, Paulo Freire e buscando nos contemporâneos Bento Silva ( 2005), Edméa Santos (2014), Alexandra Okada (2016), Karine Pinheiro de Souza (2014) e Sousa (2015).

Por fim, conheçam o protagonismo  destes nativos digitais Coempreendedores com o canal -  IFECast : Minha Comunidade

Imagem 6: Trilhas do IFCast

Fonte: Autores, 2022

 

Referências Bibliográficas

Prensky, M. (2010). Teaching digital natives: partnering for real learning. Sage Publications.

Santaella, L. (2011). A ecologia pluralista da comunicação. Conectividade, mobilidade, ubiquidade. Paulus.

Okada, A. Engaging Science: Innovative Teaching for responsible citizenship. Milton Keynes: The Open University, 2016

Silva, B.  (2005). Ecologias da Comunicação e Contextos Educacionais. Revista Educação & Cultura Contemporânea, vol. 2, nº 3, 31-51.

Santos, E, Pesquisa-Formação na Cibercultura. Whitebooks, 2014.

Santos, Edméa; Fernandes, Terezinha; York. Sara W. Ciberfeminismos e Cibereducações: narrativas de mulheres durante a pandemia de Covid -19. Salvador. EdUFBA, 2022

Sousa, M. I. P. Transdisciplinaridade e inter-relações entre avaliação e desenvolvimento da aprendizagem assíncrona através de narrativas de cursistas universitários em fóruns de discussão. 2015. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015.

Souza, K. (2014). Tecnologias de Informação e Comunicação & Empreendedorismo: os novos paradigmas e aprendizagens de jovens empreendedores e as suas inovações tecnológicas. (Tese de doutoramento em Ciências da Educação – Tecnologia Educativa, Instituto de Educação da Universidade do Minho). 

Para conhecer um pouco mais as produções dos estudantes, seguem alguns links:

IFeCast: Minha Comunidade.  Neste vídeo, gravado pelo estudante e bolsista voluntário Daniel Alberto, vislumbramos dois ricos momentos trilhados no curso de Pedagogia da UFCA em 2022.  Acesso em :11/12/22

Exposição : Fotonarrativas de Porteiras ( CE) no SEMACO / ENSIS  (Resultado das disciplinas Educação e Meio Ambiente, Prática Docente e Tecnologias Educacionais - Pedagogia / IFE/UFCA.  Acesso em :11/12/22

 

Como citar este artigo:

SOUZA, Karine Pinheiro de; SOUSA, Maria Iracema Pinho de; ALVES, Francione Charapa; FIGUEIREDO, Daniel Alberto Sousa; SILVA,  Daniel Brandom Tavares da; SILVA, Donilton Inácio; VIEIRA, Valéria Alves; FURTADO, Suyany Erika Alves J.; SILVA, Paula Ingryd da Rocha. Vamos navegar pelo Cariri por meio das linguagens audiovisuais? Notícias, Revista Docência e Cibercultura, dezembro de 2022, online. ISSN: 2594-9004. Disponível em: < >. Acesso em: DD mês. AAAA.

 

Editores/as Seção Notícias:

Felipe CarvalhoMarcos Vinícius Dias de MenezesMariano Pimentel e Edméa Santos