Dietética como exercício interseccional da sensibilidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/demetra.2025.84004

Palavras-chave:

Dietética. Ensino. Formação Profissional. Interseccionalidade. Sensibilidade.

Resumo

Este ensaio se dedica a problematizar a prática docente e profissional em Dietética, a partir da experiência construída na última década no curso de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. A neutralidade e o caráter regulatório desta disciplina são questionados, a fim de repensá-la a partir de um prisma interseccional para uma análise aprofundada das opressões que atravessam as práticas alimentares e para o reconhecimento da alteridade e da diversidade. Como via possível para a Dietética, é instigado o exercício interseccional da sensibilidade no fazer profissional, que admite o comer (e o incorporar) e dá ouvidos e centralidade a histórias, relações e contextos das pessoas, a fim de fundamentar a produção do cuidado alimentar e nutricional. São elencadas necessárias discussões sobre intervir e influir; relações entre alimentações, gêneros e sexualidades; atravessamentos entre racismo, saúde e práticas alimentares e culinárias; impactos da classe social nas facetas subjetivas e objetivas da alimentação; e as confluentes e contraditórias narrativas que atravessam o comer nos tempos atuais. O ensaio também apresenta materiais didáticos complementares. Com estas reflexões sobre o ensino e a atuação em nutrição, espera-se abrir caminhos para implicar a Dietética e a práxis da/o nutricionista.

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Publicado

2025-04-01

Como Citar

1.
Baeza Scagliusi F. Dietética como exercício interseccional da sensibilidade. DEMETRA [Internet]. 1º de abril de 2025 [citado 1º de maio de 2025];20:e84004. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/demetra/article/view/84004

Edição

Seção

ARTIGOS TEMÁTICOS “Dietética e promoção da alimentação adequada e saudável”

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