Culinárias africanas e seu potencial de saudabilidade
DOI:
https://doi.org/10.12957/demetra.2025.81021Palavras-chave:
Culinárias. Ficha Técnica de Preparo. Promoção da Alimentação Adequada e Saudável. Guia Alimentar para a População Brasileira.Resumo
Introdução: A culinária africana possui riqueza de diversidade de conhecimentos, insumos e técnicas. Há, porém, uma lacuna na literatura acadêmica que nos distancia da conexão com a comida africana e a brasileira, desmistificando a ideia de que não são saudáveis. Objetivo: Apresentar o processo de seleção, elaboração e análise de receitas culinárias africanas, considerando ingredientes, técnicas e tecnologias, a fim de identificar seu potencial para a promoção da alimentação saudável, tendo o Guia Alimentar para a População Brasileira como parâmetro suleador de saudabilidade. Métodos: Trata-se de artigo original que utiliza a abordagem quanti-qualitativa, considerando as receitas africanas encontradas em sites oficiais de embaixadas e governos, blogs especializados e portais de turismo de diversos países africanos, seus contextos e significados, assim como a sistematização, a análise da composição nutricional e a classificação dos alimentos utilizados com base no seu grau de processamento, como preconiza a categorização da classificação NOVA. Resultados: Foram testadas 18 receitas, sendo quatro preparações doces e 14 salgadas. As preparações cujo ingrediente principal era carnes em geral ou ovo totalizaram, aproximadamente, 42%, evidenciando a prevalência de alimentos de origem vegetal. Também se constatou a baixa utilização de gordura saturada, privilegiando as insaturadas. Todas as preparações utilizaram preferencialmente alimentos in natura ou minimamente processados e nenhuma fez uso de alimentos processados ou ultraprocessados em qualquer etapa de elaboração. Conclusão: As receitas africanas, selecionadas e elaboradas no âmbito desta pesquisa, apresentam conformidade com os critérios e orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira.
Downloads
Referências
1. Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: Ministério da Educação; 2005. [Acesso 10 nov 2023]. Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/diversas/temas_interdisciplinares/diretrizes_curriculares_nacionais_para_a_educacao_das_relacoes_etnico_racia
2. Santos BS. Para uma Pedagogia do Conflito. A Pedagogia do conflito revisitada contra o desperdício da experiência. Porto Alegre: Redes; 2009.
3. Costa RRS, Lima DSN, Silva GM, Rizzo TP, Pinto TJ. Culinária afro-brasileira: um sabor possível na educação de jovens e adultos. Cadernos Cenpec. 2019;9(1):75-99.
4. Costa RRS, Oliveira M F B, Rizzo TP, Rivas JC, Mendes KA, LIMA DSN, Assunção PCG, Silva GM, Fonseca AB. Projeto de extensão A culinária afro-brasileira como promotora da alimentação saudável no ambiente escolar - CulinAfro. In: Lourenço AEP, Bergold LB. Organizadores. Saberes e Experiências de Extensão em Promoção da Saúde 1ed; 2020. p. 63-79.
5. Cascudo LC. História do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal/Rio de Janeiro: Fundação José Augusto/Achiamé;1984.
6. Freyre G. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Global Editora; 2020.
7. Ferreira M. Comida, patrimônio e cultura: apontamentos sobre a feijoada carioca. Revista do arquivo geral da cidade do Rio de Janeiro. 2018;(14):123-138.
8. Silva PP. Farinha, feijão e carne-seca: um tripé culinário no Brasil colonial. São Paulo: Editora SENAC; 2005
9. Damião J, Costa RRS; Lisboa CMP; Gonçalves ACT; Silva AS; Marinho J. Memórias e receitas das cozinhas dos quilombos do Maciço da Pedra Branca na cidade do Rio de Janeiro. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora; 2022. [Acesso 12 dez 2023]. Disponível em: https://aspta.org.br/files/2023/02/Mem%C3%B3rias-e-Receitas-das-Cozinhas-dos-Quilombos-do-Maci%C3%A7o-da-Pedra-Branca-.pdf
10. Costa RRS. A feijoada da comunidade remanescente de quilombo Machadinha/RJ: para pensar o mito da democracia racial. In: Costa RRS, Castro MLL, Fonseca AB (Orgs.). Tempero de quilombo na escola: Experiências de extensão do projeto CulinAfro (UFRJ-Macaé). 1 ed. Rio de Janeiro - RJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde; 2021. Volume 1. p. 33-50. [Acesso 10 nov 2023]. Disponível em: https://neab.uff.br/wp-content/uploads/sites/416/2021/10/CulinAfro_Livro-versa%CC%83o-final.pdf
11. Silva HK. A cultura afro como norteadora da cultura brasileira. Perspectiva. 2014;38(144):25-35.
12. Querino MR. A arte culinária na Bahia. 3ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes; 2014.
13. Santos MA. Contribuição do negro para a cultura brasileira. Temas em Educação e Saúde. 2016;12(2):217-229.
14. Alves LC, Carvalho MCVS, Ferreira FR. Onjé: candomblé, cozinha e axé. In: Oliveira MASA, Vanzella E, Brambilla A. Organizadores. Processos sociais: sistemas culinários em contexto de ressignificações, comensalidade, processos discursivos e religiosos. João Pessoa: Editora do CCTA; 2018. p. 341-382.
15. Vespucci AC. A evolução da cozinha no Brasil. Brasil: Empresa das Artes Projetos e Edições Artísticas; 1997.
16. Santos AB. Colonização, quilombos, modos e significações. Brasília: INCTI/UnB; 2015.
17. Okech RN, Timothy DJ. Culinary traditions and heritage foods in Africa. In: Cultural heritage and tourism in Africa. New York: Taylor and Francis; 2023.
18. Schneider EM, Fujii RA, Corazza MJ. Pesquisas qualiquantitativas: contribuições para a pesquisa em ensino de ciências. Revista Pesquisa Qualitativa. 2017;5(9):569-584. [Acesso 18 dez 2023]. Disponível em: <https://editora.sepq.org.br/rpq/article/download/157/100>.
19. Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, de Castro IRR, Cannon G. A new classification of foods based on the extent and purpose of their processing. Cad Saúde Pública 2010;26(11):2039-2049.
20. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed., 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. [Acesso 15 out 2023]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf.
21. Barreto APM. Bases e princípios da nutrição funcional. In: Dolinsky, M. Organizadora. Nutrição funcional. São Paulo: Roca; 2009. p. 1-36.
22. Franzoni E. A gastronomia como elemento cultural, símbolo de identidade e meio e integração. Dissertação. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa; 2016. [Acesso 15 out 2023]. Disponível em: https://run.unl.pt/bitstream/10362/19832/1/_ELISA%20FRANZONI%20-%20A%20gastronomia%20como%20elemento%20cultural_%2C%20s%C3%ADmbolo%20de%20identidade%20e%20meio-.pdf
23. Lima DS do N, Costa RR da S, Rizzo TP. Culinária, histórias e educação popular: aprendendo das cozinheiras negras macaenses. Revista de Educação Popular. 2021;20(3):252–274. [Acesso 16 out 2023]. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/reveducpop/article/view/60445.
24. Bezerra EK. Cozinha de quilombo: cultura, patrimônio, ancestralidade. Garanhuns: IFPE; 2022.
25. Costa RRS. Mulheres negras, ciência e cozinha: a encruzilhada de potências. In: Anjos MB, Silva EM, eds. Ensino, diversidade cultural e de colonização. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Imperial; 2021. p. 18-25.
26. Machado TS. Um pé na cozinha: um olhar sócio-histórico para o trabalho das cozinheiras negras no Brasil. São Paulo: Fósforo; 2022. 400 p.
27. Carney J, Marin RA. Aportes dos escravos na história do cultivo do arroz africano nas Américas. Estudos sociedade e agricultura. 1999; 7(1):113-133.
28. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. [Acesso 15 out 2023]. Disponível em:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentos_regionais_brasileiros_2ed.pdf.
29. Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, Castro IR, Cannon G. Increasing consumption of ultra-processed foods and likely impact on human health: evidence from Brazil. Public Health Nutr 2011;14(1):5-13. https://doi.org/10.1017/S1368980010003241
30. Monteiro CA, Moubarac JC, Cannon G, Ng SW, Popkin B. Ultra-processed products are becoming dominant in the global food system. Obes Rev 2013;14:21-8.
31. Ornelas LH, Shizuko K, Verruma-Bernardi MR. Técnica dietética: seleção e preparo de alimentos. 8ª ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2007.
32. Lévi-Strauss C. O Cru e o cozido mitológico. Brasiliense; 1991.
33. Oliveira N, Santin F, Paraizo TR, Sampaio JP, Moura-Nunes N, Canella DS. Baixa variedade na disponibilidade domiciliar de frutas e hortaliças no Brasil: dados das POF 2008-2009 e 2017-2018. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2021 Nov;26(11):5805-16. https://doi.org/10.1590/1413-812320212611.25862020.
34. Proença RPC, Sousa AA, Hering B, Veiros MB. Qualidade nutricional e sensorial na produção de refeições. 3 ed. Florianópolis: UFSC; 2008. 221p.
35. Duarte RC. Estudo dos compostos bioativos em especiarias (Syzygium aromaticum L, Cinnamomum zeylanicum Blume e Myristica fragans Houtt) processadas por radiação ionizante [Tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2014.
36. Kim Y, Je Y. Dietary fiber intake and mortality from cardiovascular disease and all cancers: A meta-analysis of prospective cohort studies. Arch Cardiovasc Dis. 2016;109(1):39-54. https://doi.org/10.1016/j.acvd.2015.09.005.
37. McRae MP. Dietary fiber is beneficial for the prevention of cardiovascular disease: An umbrella review of meta-analyses. J Chiropr Med. 2017;16(4):289-299. https://doi.org/10.1016/j.jcm.2017.05.005.
38. Ma Y, Hu M, Zhou L, Ling S, Li Y, Kong B, Huang P. Dietary fiber intake and risks of proximal and distal colon cancers: A meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2018;97(36):e11678. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000011678.
39. Raymond JL, Couch SC. Tratamento nutricional clínico da doença cardiovascular. In: Mahan KL, Raymond JL, Escott-Stump S. organizadores. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13 ed. Amsterdam: Elsevier; 2013. p. 130-195.
40. Meira RCF, Capitani CD, Filho AAB, Barros MBA, Assumpção A. Contribuição dos diferentes alimentos segundo a classificação NOVA para a ingestão de fibras alimentares em adolescentes. Ciênc. saúde coletiva. 2021; 26 (08):3147-3160 https://doi.org/10.1590/1413-81232021268.09592020.
41. Scherr C, Ribeiro JP. Influência do modo de preparo de alimentos na prevenção da aterosclerose. Rev Assoc Med Bras [Internet]. 2013;59(2):148-54. [Acesso 12 dez 2023]. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ramb/a/53cbZwFKwJ4y6hTQTsJJgqr/
42. Monteiro CA, Cannon G, Levy RB, Moubarac JC, Louzada ML, Rauber F, et al. Ultra-processed foods: what they are and how to identify them. Public Health Nutr 2019; 22:936-41.
43. Nilson E. Alimentos ultraprocessados e seus riscos à cultura alimentar e à saúde. Rev. Alim. Cult. Amer [Internet]. 2023;3(2):133-46. [Acesso 12 dez 2023]. Disponível em: https://raca.fiocruz.br/index.php/raca/article/view/145
44. Nilson EAF, Ferrari G, Louzada MLC, Levy RB, Monteiro CA, Rezende LFM. Premature deaths attributable to the consumption of ultraprocessed foods in Brazil. Am J Prev Med. 2023 Jan;64(1):129-136. https://doi.org/10.1016/j.amepre.2022.08.013. Epub 2022 Nov 7. PMID: 36528353.
45. Monteiro CA. Nutrition and health. The issue is not food, nor nutrients, so much as processing. Public Health Nutr. 2009;12(5):729-31. https://doi.org/10.1017/S1368980009005291. PMID: 19366466.
46. Monteiro CA, Cannon GA, Levy RB, Moubarac JC, Jaime P, Martins AP, Canela D, Louzada M, Parra D. NOVA. The star shines bright. Food classification. Public Health] World Nutrition, 2016;7(1-3):28-38.
47. Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, Castro IRR, Cannon GA new classification of foods based on the extent and purpose of their processing. Cad Saúde Pública, 2010 26(1):2039-2049. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2010001100005.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Jacqueline Miranda dos Santos, Tamires Leandra Souza Silva, Maria Eduarda da Costa Diniz Olegário, Anna Carolina Tojal Gonçalves , Kátia Alessandra Mendes da Silva, Célia Maria Patriarca Lisbôa, Rute Ramos da Silva Costa

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Título do manuscrito: __________________________________________________________________
1. Declaração de responsabilidade
Certifico minha participação no trabalho acima intitulado e torno pública minha responsabilidade pelo seu conteúdo.
Certifico que o manuscrito representa um trabalho original e que nem este ou quaisquer outros trabalhos de minha autoria, em parte ou na integra, com conteúdo substancialmente similar, foi publicado ou foi enviado a outra revista.
Em caso de aceitação deste texto por parte de Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, declaro estar de acordo com a política de acesso público e de direitos autorais adotadas por Demetra, que estabelece o seguinte: (a) os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial neste periódico; (b) os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (p.ex., publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista; e (c) os autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (p.ex., em repositórios institucionais ou em sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
2. Conflito de interesses
Declaro não ter conflito de interesses em relação ao presente artigo.
Data, assinatura e endereço completo de todos os autores.