inversão das perguntas: um convite a deambular por um outro lado das perguntas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2023.70547

Palavras-chave:

inversão, anastrophé, perguntas, rizoma, Deleuze.

Resumo

Este artigo procura atingir dois objetivos: explorar quão importante é a inversão das perguntas em contexto de comunidade de investigação filosófica (Kennedy, 2004), nomeadamente no desencadear de processos de pensamento filosófico; e, mais genericamente, reconhecer o quanto é necessário inverter os papéis dados tradicionalmente às crianças, essencialmente tomados como espectadores do seu próprio pensamento e educação. No seguimento desta última ideia, assumiremos que as crianças possuem voz epistémica e política, em pé de igualdade da do adulto, e que esta voz há muito que tarda em fazer-se ouvir. É um facto indesmentível que as perguntas têm um papel central nas sessões de Filosofia para Crianças organizadas em comunidade de investigação filosófica (Costa-Carvalho e Mendonça, 2020; Costa-Carvalho e Kohan, 2020), e que desencadeiam (Kennedy, 2004) inúmeros processos de raciocínio e de pensamento. Algumas destas questões necessitarão de clarificação, sendo vagas, e outras poderão mesmo facilitar um posicionamento metacognitivo face ao assunto em discussão e face ao próprio processo de pensamento que o sustenta. Exploraremos, pois, neste contexto, o quanto a inversão das perguntas pode ser uma ferramenta útil, considerando igualmente, como esta anástrofe do pensamento pode ocorrer em diálogo filosófico com crianças. A nossa proposta deambulará, pois, na intersecção da linguagem e do pensamento, da lógica e da semântica, da teoria e da prática. Conscientes que o termo “inversão” pode ter vários significados, ensaiaremos neste artigo uma abordagem rizomática ao conceito (Deleuze e Guattari, 1987) com especial foco na voz e na perspetiva das crianças e no quanto esta perspetiva é epistemologicamente privilegiada (Kennedy, 2020). Um dos nossos pressupostos centrais é o de que a voz das crianças possui valor epistémico e político igual à do adulto, e que esta inversão entre adultidade e infância no contexto da educação também urge fazer-se.

Biografia do Autor

júlio miguel araújo sousa, universidade de açores

 Professor de Filosofia na Escola Básica e Secundária da Calheta. Membro do grupo de pesquisa escuto.te: as vozes das crianças entre a filosofia e a política

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Publicado

2023-02-26

Como Citar

sousa, júlio miguel araújo. (2023). inversão das perguntas: um convite a deambular por um outro lado das perguntas. Childhood & Philosophy, 19, 01–23. https://doi.org/10.12957/childphilo.2023.70547

Edição

Seção

dossier: filosofia na e para além da sala de aula; fpc através de diferenças culturais, sociais e políticas