o movimento de jovens pobres a instituições renomadas de ensino superior: motivações e contradições

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67641

Palavras-chave:

movimento, estudantes universitários, jovens pobres, mobilidade social.

Resumo

Crianças e jovens são posicionados como sujeitos em aprendizagem. Quando falamos em crianças e jovens de classe popular, acredita-se ainda que o deslocamento as instituições escolares se transladará em um deslocamento social. Isto é, crianças e jovens deste segmento econômico que investem no estudo poderiam ascender economicamente. É neste contexto que podem ser entendidas políticas públicas recentes que visam a manutenção e a extensão da presença de crianças e jovens em instituições educacionais. Algumas destas políticas visam garantir o acesso de pretos e pobres, historicamente excluídos do ensino superior, a este nível de ensino. O presente artigo realiza uma investigação de cunho qualitativo que aborda as motivações que fazem com que jovens de classes populares se sintam chamados a se deslocar a centros de ensino superior de excelência e quais as consequências subjetivas deste movimento. Foi realizada uma pesquisa qualitativa com 23 estudantes universitários, beneficiários da Lei de Cotas ou do Programa Universidade para Todos, de duas instituições de ensino superior de reconhecida qualidade, localizadas no Rio de Janeiro. Os resultados demonstram que estes centros de excelência são reconhecidos pelas famílias dos jovens e pelos mesmos como possibilitadores de mobilidade social. Foi visto que o apoio da família e figuras próximas, o gosto pelo estudo e a identificação com o curso e a expectativa de mobilidade social ascendente foram fatores que contribuíram para motivar os jovens em seu movimento ao ensino superior. No que compete a universidade, vimos que ela enseja práticas contraditórias aos jovens de camada popular. Assim, verificamos que a entrada em uma instituição historicamente destinada a outra classe social pode fazer com que os jovens não se sintam pertencentes a universidade, o que pode ser visto na segregação supostamente natural entre alunos pobres e ricos e no esforço para realizar as demandas universitárias. Também foi verificado que o jovem pobre tem incertezas sobre o futuro, mas que aposta na qualificação de si mesmo como algo que pode dar mais garantias de entrada no trabalho e na conquista de melhor vida para si, sua família, sua comunidade de origem ou mesmo o país.

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Publicado

2022-09-27

Como Citar

grisolia, felipe salvador, & castro, lucia rabello de. (2022). o movimento de jovens pobres a instituições renomadas de ensino superior: motivações e contradições. Childhood & Philosophy, 18, 01–25. https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67641

Edição

Seção

estudos da infância: movimentos, limiares e fronteir