por entre as chamas da infância: presente, memória e transmissão de experiências de violência estatal
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2016.23331Palavras-chave:
Wadji Mouawad, Incêndios, Governamentalidade, Testemunho, Violência EstatalResumo
A partir da peça Incêndios, de Wadji Mouawad, dedicamo-nos neste artigo a examinar os problemas que a transmissão de experiências de violência estatal coloca para as relações entre governantes e governados, alterando os contornos da cultura política contemporânea. Partimos das leituras foucaultianas de Édipo-Rei, de Sófocles, na medida em que o autor procura nela os traços de nosso “inconsciente político” no que se refere às relações entre poder, verdade e saber. Passamos à análise da peça de Mouawad, que, em nossa leitura, não apenas dialoga com Sófocles, como atualiza a encenação dessas relações entre veridicção, aleturgia e poder, ao deslocar (conforme a experiência história do século XX) o lugar do testemunho para o reconhecimento que confirma a dimensão propriamente trágica do drama. Dedicamos atenção, em seguida, a pensar que lugar o testemunho ocupou no interior do quadro das diferentes respostas que cada estado nacional ofereceu ao problema da violência empreendida contra parcelas de sua população, conforme a norma jurídica do genocídio ou de crimes contra a humanidade. A partir da imagem forte oferecida por Mouawad, da infância como faca cravada no pescoço, encerramos nossas reflexões referindo-nos ao momento atual, em que se coloca para nós a tarefa de escutar o silêncio e abrir passagem para uma entrada decidida no agonismo da história – o que altera, sem dúvida, aspectos centrais das relações de governo nas quais nos movemos.