a luta pedagógica-política entre retórica e filosofia: em busca de um conceito de infância para aprisionar o outro

Resumo

Este artigo pretende mostrar como sofistas e filósofos se apropriam do conceito de infância no diálogo Górgias, de Platão. O objetivo aqui é pensar como a imputação de infantil ao discurso do outro, sofista ou filósofo, é um ponto-chave para o estabelecimento de uma vitória de um discurso sobre o outro na história do pensamento ocidental. Pretende-se apresentar as diferenças entre as concepções que sofistas e filósofos têm da infância, mostrando, porém, que o objetivo discursivo dessas diferentes concepções tendem a um mesmo ponto: fazer com que o outro assuma-se num lugar de heteronomia e, assim, não poder prescindir de ser ensinado por outrem, no caso, o discurso que se pretende adulto, não-infantil. De início, introduziremos a discussão que fazemos da infância em um mapa conceitual mais amplo, dado pelo projeto de pesquisa que trabalhamos no mestrado. Em seguida, analisamos o que significa falar como criança dentro dessa perspectiva. Passamos, então, à análise propriamente do diálogo Górgias, apresentando o conceito de infância como o argumento desqualificante da disputa política pelo papel de professor. Depois, discutimos as duas concepções de infância: a filosófica, que pretende mostrar como a retórica se ilude; e a retórica, que pretende mostrar como a filosofia fantasia. Analisamos, também, duas imagens infantis presentes no confronto de ideias do diálogo, a imagem do bicho-papão e a imagem da brincadeira e do jogo, a primeira imputada pelos sofistas aos filósofos e a segunda dos filósofos aos sofistas. Por fim, abordamos a necessidade do conceito de infância filosófica para o projeto pedagógico-político platônico e tentamos pensar se essa necessidade do conceito de infância não é uma marca de todo projeto pedagógico-político, de toda discussão política entre diferentes discursos. Palavras-chave: Infância; luta política; filosofia; retórica; Górgias